Ibrahimović é jogador do Vila Nova. Calma, torcedor, não é o atacante sueco. O Ibra do Tigre é zagueiro, tem 13 anos, mas carrega o nome do astro europeu. Fã mesmo ele é de Cristiano Ronaldo, até em algumas batidas de faltas tenta ser parecido com o ídolo. Inspirado em estrelas, o garoto de Anápolis começa, no time colorado, a escrever sua história nas categorias de base.Antes mesmo de nascer, Ibrahimović Guilherme dos Santos Batista teria nome de jogador de futebol. Esse era o desejo de seus pais, Rogério Luiz Batista e Edmária dos Santos Benicio Batista, ambos de 34 anos. O casal praticou o esporte de forma amadora e decidiu, antes de saber o sexo do bebê em 2009, que o nome seria de algum jogador ou jogadora.“Se fosse homem, os primeiros nomes que pensamos foram Riquelme (ex-jogador argentino) e Henry (ex-jogador da França). Aí ela (Edmária) viu que o Ibrahimović estava jogando muito no Barcelona e falou que ia ser Ibrahimović. Agora, se fosse mulher, teria que ser Marta”, contou, aos risos, o motorista Rogério.Quando Ibra nasceu, apenas o pai foi ao cartório em Anápolis fazer o registro. “Não quiseram me deixar registrar com o nome de Ibrahimović. Me falaram que eu não poderia colocar o nome do meu filho desse jeito, que poderia sofrer bullying quando crescesse. Tive que assinar um termo de responsabilidade por ser um nome diferente. Nunca teve bullying. Na verdade, as pessoas acham que é legal demais e quase ninguém chama ele de Ibrahimović, nem lá em casa. É só Ibra”, contou o pai do zagueiro vilanovense.Ibra é jogador desde a barriga. Edmária lembra que o garoto chutava muito na gestação. “Quando nasceu, chutava o que ele via como redondo. Tinha vez que precisava esconder as coisas para ele parar de chutar”, complementou a mãe de Ibra.Na escola, nada de zoação. Colegas chamam Ibra pra cá, Ibra pra lá. Quem sofre mesmo são os professores. “Os professores erram muito. Para falar o nome completo, não dão conta, eles falam ‘Ibraim’ geralmente. Bem diferente, mas eu corrijo. Eles perguntam de onde é o nome, falo que é sueco, do jogador”, explicou o pequeno Ibra, que curte assistir aos jogos do seu xará, assiste aos vídeos do atacante do Milan na internet, mas se declara fã do gajo Cristiano Ronaldo.“Por causa da humildade dele, não faz tatuagens, doa sangue. Sou fãzão, ele está bem na Champions League, não tanto no Inglês”, justificou o defensor do Tigre, que declarou o gol de bicicleta marcado pelo português contra a Juventus em 2017, quando ainda defendia o Real Madrid, como o mais bonito que já viu do ídolo.O nome de Ibrahimović no Vila Nova chamou a atenção no final de janeiro. No dia 27, o garoto teve seu contrato de iniciação esportiva, com vínculo de um ano, registrado no BID da CBF. Ele integra o time sub-13 da equipe colorada, que se prepara para a disputa do Campeonato Goiano, que tem início previsto para o dia 22 de março.“Ele está vivendo o sonho dele, essa conquista (assinar contrato com o Vila Nova) é fruto da dedicação dele. Uma vez me disse que o primeiro salário de jogador vai ser para construir a nossa casa, é um desejo dele. Nunca imaginei escutar isso da boca de uma criança. A dedicação dele é muito grande”, contou Edmária, que acompanha o garoto quase 24 horas por dia.“É muito bom ter o apoio dos meus pais, sei que não vai demorar e vou comprar a casa para minha mãe. Tenho sonhos, quero ser campeão pelo Vila. Este ano, quero conquistar todos os campeonatos que vamos disputar. Um dia vou ser profissional no Vila. Está sendo muito legal viver um sonho”, declarou o pequeno Ibra.Também na quadraA rotina de Ibrahimović Guilherme dos Santos Batista é parecida com a de muitos garotos que jogam futebol desde criança e se dedicam para vingar no futebol no futuro. O anapolino de 13 anos vai para a escola pela manhã, retorna para casa para almoçar e, acompanhado pela mãe, viaja para Goiânia todos os dias, de segunda a sexta, para treinar. Aos finais de semana, faz o mesmo para jogar, quando tem partida confirmada. O pai, Rogério Luiz Batista, trabalha durante o dia como motorista.As segundas, quartas e sexta, Ibra treina pelo Vila Nova. Nas terças e sextas, o garoto pratica futsal pelo Instituto Sete de Goiânia, que tem parceria com o Vila Nova. Foi orientado pelo técnico do time de quadra, Lasaro Caiana, que o zagueiro fez um teste no Tigre, passou e assinou vínculo com a equipe colorada.A história de Ibra com o futebol começou bem antes. Aos 2 anos, os pais o colocaram em uma escolinha em Anápolis. “A bola era maior que ele e já chutava”, contou o pai, Rogério. “Ficou muito complicado porque eu tinha que levar de ônibus, depois de alguns meses tivemos que tirar da escolinha”, explicou.Ibra então aguardou alguns anos e, aos 5, já tinha retornado para outra escolinha de futebol em Anápolis. “Com seis e sete anos, já tinha participado de duas edições da GO Cup, foi um dos artilheiros nas duas e campeão nos dois anos (2013 e 2014) na categoria Prata”, contou Edmária, mãe do zagueiro.Ibra fez testes em clubes como Inter, Palmeiras e Ponte Preta, chegou a passar na avaliação do time gaúcho, mas a família optou por permanecer em Anápolis. Surgiu a oportunidade de jogar futsal, em setembro de 2021, no Instituto Sete, e em dezembro de passar no teste do Vila Nova.Dona de casa, Edmária vive em função do filho. Como o pai trabalha durante o dia, a mãe é responsável por trazer o garoto para os treinos. O custo semanal é de cerca de R$ 300.“Em casa, faço bolos, vendo geladinho, se precisar faço rifa e, se um dia precisar ir para o semáforo para pedir dinheiro, eu vou. É filho único, neto único, especial. Dedicado ao que faz, me dobro em 200 para manter ele no futebol. Minha vida é dele. Não trabalho para mim, tudo vai para ele. Eu o acompanho no sol e na chuva”, afirmou Edmária, que também cuida das redes sociais do pequeno Ibra e costuma divulgar vídeos e imagens do filho nos treinos e jogos.