Foram poucos meses, mas rápidos, intensos, vitoriosos, alegres e marcados por gols pela Anapolina, de 1981 a 82. Tempo curto, mas suficiente para transformar Sávio no principal ídolo da história da Rubra, que busca chegar à final do Estadual 2018, assim como a geração vitoriosa da década de 1980. "Foi a melhor fase da minha carreira. Ficou na história", endossou o ex-atacante, que hoje vive em Blumenau (SC), está aposentado do futebol, tem três filhos e é representante comercial após tentar a carreira como técnico – trabalha com vendas “de roupas de grife”, segundo ele.Aos 60 anos, mas "ainda batendo a minha bolinha", não é de se estranhar que Sávio ainda esteja ligado ao clube em que virou ícone. Mesmo à distância e apesar de não conhecer bem o elenco atual, não se importa de confessar que virou torcedor da Rubra. Acompanha os resultados da Anapolina. "Eu esperava que a Anapolina voltasse forte. Hoje, tem um CT muito bom, com campos para os treinos, sede, muita coisa boa, vestiário", citou o ex-jogador que, quando estava na ativa, se parecia muito, fisicamente, ao atacante Jacó, do time atual da Rubra.Para ele, ter endereço fixo é primordial no futebol. "Quando estive aí (ano passado), disse que a Anapolina agora tem uma casa. Ter uma casa é ter referência, vida própria. Isso dá ao elenco e à comissão técnica melhores condições de trabalho, de brigar por títulos e revelar jogadores", ressaltou. Agora, espera ver o time decidindo o título.Claro, Sávio foi um dos convidados especiais para que o clube apresentasse a nova sede, inaugurada em maio do ano passado, no Bairro Boa Esperança, em Anápolis. Feliz por ter a chance de reencontrar colegas de time e amigos dos anos de 1980, Sávio se orgulhou da "casa" e relembrou os tempos em que a Rubra, quase imbatível quando jogava no Estádio Jonas Duarte, tinha torcida festeira, mas estrutura pequena para abrigar o melhor elenco e comissão técnica de sua história."Eu me lembro de que o escritório da diretoria era numa sala. Acho que (direção) funcionava na sala de uma transportadora. E treinávamos num estádio amador de Anápolis (Estádio Zeca Puglise). Era desse jeito e era assim que a coisa foi dando certo", lembrou.Sem estrutura, mas apostando em jogadores oriundos do futebol paulista, do Distrito Federal e do Sul do País, a Anapolina começou a montar a base forte no final dos anos 1970. Jogaram alguns nomes, como Paghetti, Raimundinho e Nilson, depois das boas passagens por Atlético, Goiás, Goiânia e seleção goiana.Mas no início da década de 80, a Xata logo disputou o primeiro título e o mais importante - foi vice-campeã da Taça de Prata de 1981, equivalente à Série B do Brasileiro, caindo diante do Guarani (SP), de Careca e companhia, na final.A base da Rubra era forte, mas faltava complementá-la com um atacante forte e de área. O Campeonato Goiano de 81 já estava na metade. É aí que Sávio entra na e para a história do clube. "Eu encaixei o meu estilo com o estilo do time. Deu muito certo. Era um time que jogava junto há pelo menos três anos. Eles (Anapolina) precisavam de um centroavante. Então, foram me buscar no Juventus (SP)", relembrou Sávio.Como tudo foi muito rápido, logo o centroavante virou titular e começou a marcar gols, tanto no Jonas Duarte como nos outros estádios do futebol goiano. Para Sávio, o principal sentido e razão de ser do futebol era o gol, fosse do jeito que fosse, sem hora e local.Gols, coragem e título perdido no tapetãoDomingos Sávio da Silva, catarinense de Xanxerê, chegou para ser o centroavante que a Rubra precisava. No Goianão de 1981, entrou para jogar no time comandado pelo técnico Bugue - Marcius Fleury, um dos responsáveis pela montagem daquela forte equipe, havia aceitado proposta do Goiás e retornou ao alviverde. Naquele ano, Goiás e Anapolina se fortaleceram e passaram a brigar com o Vila Nova, também forte e que buscava o pentacampeonato do Goianão.No Estadual de 1981, mesmo sem ter atuado no início, Sávio fez 23 gols - Zé Amaro, do Anápolis e até então o principal rival da Xata, terminou na artilharia, com 27 gols. A Rubra foi ganhando jogos e arrastando a torcida para junto da equipe. Lotava o Jonas Duarte. Chegou à final de três jogos com o Goiás – ambos empataram três vezes, por 2 a 2 (em 29 de novembro), 1 a 1 (dia 2 de dezembro) e 1 a 1 de novo (6 de dezembro).A raiva que a torcida passou a ter do Goiás começou naquela final. Nos bastidores, o clube perdeu o direito de jogar no Jonas Duarte, mesmo com a melhor campanha ao longo das três fases. O título, na melhor de três jogos, foi decidido no Serra Dourada. A Anapolina havia passado com segurança pelas fases anteriores. No quadrangular final, mediu forças com Anápolis (venceu o clássico duas vezes), Goiás e Vila Nova (empatou os jogos e garantiu vaga à decisão, tirada da cidade e transferida para Goiânia).Sávio se recorda que, mesmo assim, a torcida da Rubra se articulava e dividia o estádio com a galera esmeraldina. Na última partida, no Serra Dourada, o meia Ney ficou fora. Sávio vestiu a camisa 10 e fez aquele que considera “o gol de maior destaque”. Ainda na intermediária, ele pegou a bola na cobrança de falta e acertou o ângulo do goleiro Gilberto – hoje, treinador de goleiros. “Era muito distante. Mas eu treinava muito.”Após o jogo, houve invasão do gramado. A torcida da Anapolina festejou o título e a direção do Goiás já havia preparado o recurso, no tapetão, para contestar a escalação do armador Osmar Lima na final – o contrato dele havia terminado no dia 30 de novembro, mas ele acabou escalado no segundo jogo (dia 2 de dezembro). Esse é outro fato que gera intriga entre torcedores, pois até hoje não se sabe quem entregou a informação ao Goiás.“Eu me considero campeão goiano de 81. Não está nos livros, não recebemos o troféu, mas ganhamos em campo, com sobras”, ressaltou Sávio, relembrando os melhores números da Rubra naquele ano – o time, na somatória total, teve 76 pontos, contra 65 do Goiás, o campeão de direito.-Imagem (1.1491219)