
Delegado Marco Antônio Maia disse que foi procurado por aliciador de esquema criminoso (Divulgação/PC-GO e redes sociais)
O presidente do Goianésia Esporte Clube e delegado de polícia Marco Antônio Maia contou que chegou a receber uma proposta de quase R$ 500 mil para interferir nos resultados do time. Ele foi autor da denúncia que deu início à Operação Jogada Marcada , da Polícia Civil de Goiás (PC-GO). Marco Antônio, que dirigiu o time de 2018 a 2024, lembra que os valores ofertados pelo suspeito variavam bastante e eram "altos".
Foram tantos valores... que variavam bastantes as ofertas. Tinham época que era R$ 300 mil, R$ 400 mil, R$ 500 mil...", recorda o delegado.
O POPULAR não conseguiu contato das defesas dos suspeitos até a última atualização desta reportagem.
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A operação policial foi deflagrada na quarta-feira (9) e investiga uma suposta organização criminosa que seria especializada na manipulação de resultados em partidas de futebol. De acordo com a polícia, a apuração aponta para fraudes que podem ter movimentado cerca de R$ 11 milhões, inclusive por meio de plataformas de apostas digitais.
O delegado, que coordena a operação, Eduardo Gomes, indicou que o suposto investigado ao procurar o time goiano tinha a intenção de aliciar primeiramente os clubes da Série D do Campeonato Brasileiro e depois avançar para as demais divisões dos campeonatos, por meio de indicações de dirigentes.
Por coincidência, o telefone do presidente consta como se fosse a secretaria. Então, provavelmente, esse aliciador acessou o site do Goianésia, pegou o telefone do presidente sem saber se ele seria um delegado de polícia", suspeita o delegado.
Nesse esquema, a polícia investiga o envolvimento de jogadores, treinadores e dirigentes de times. Ao todo, foram cumpridos 16 medidas judiciais, entre as quais mandados de prisão e de busca e apreensão em seis estados brasileiros: Goiás, Paraíba, Ceará, Espírito Santo, Maranhão e Pernambuco.

Delegado Eduardo Gomes, responsável pela Operação Jogada Marcada, em Goiás (Diomício Gomes/O Popular)
A polícia relatou que desses presos: dois são suspeitos de serem aliciadores; um ex-jogador; um árbitro (D'Guerro Xavier, da Paraíba); um ex-presidente de clube (Ivan Barros, do Crato-CE) e um financiador.
Conforme Marco Antônio, a investigação PC de que uma organização manipulava resultados no futebol começou em 2023, embora ele tenha sido procurado pelo suspeito em 2021, quando ele revelou que registrou uma denúncia ao Ministério Público de Goiás (MP-GO). Contudo, ele acredita que devido ao período da pandemia de Covid-19, a denúncia não teve andamento dentro do órgão.
O POPULAR entrou em contato com o MP-GO, por e-mail, às 7h45, para obter informações sobre essa primeira denúncia feita pelo dirigente, mas apenas recebeu um aviso automático de que a demanda será respondida no horário de expediente: entre 12h e 19h. Na quarta-feira (9), órgão chegou a responder que nesta atual operação "não tem nenhuma relação" (veja íntegra da nota ao final deste texto).
Em Goiás
Ao POPULAR , o dirigente e policial revelou que as manipulações que lhe foram sugeridas poderiam alcançar até R$ 1 milhão e envolviam desde a quantidade de cartões aplicados a jogadores até os resultados das partidas --- como vitória, empate ou derrota --- além do número de gols marcados.
Esses valores dependiam muito do tanto que eles conseguiriam arrecadar", pontuou Marco Antônio.
Além das "comissões" por resultados dos jogos, o delegado relatou que o investigado prometia ainda pagamentos extras por indicações de outros times, que aceitassem entrar no esquema. O delegado disse que uma vez que o dirigente topasse fazer parte da organização receberia também valores financeiros. "Só que acabou que não indiquei ninguém", frisa Marco Antônio.
Imediatamente, eu procurei a direção da PC-GO. Como eu era presidente de um clube e delegado, para dar total transparência às investigações e imparcialidade, optei por não dar continuidade às investigações e repassar para a delegacia. Fui ouvido como testemunha, fiz a ocorrência e juntei todo o material que tinha", apontou Marco Antônio.
Entenda a investigação
Presidente executivo do Goianésia entre 2018 e 2024, Marco Antônio Maia disse que não atuou diretamente na investigação, mas acompanhou o caso de perto por conta da sua gestão do clube.
Eu tenho capacidade técnica e jurídica para fazer a investigação, mas sempre pautando pela transparência... eu nunca fiz uma investigação contra esse pessoal", explicou o delegado sobre ser testemunha no caso.
A situação do delegado é semelhante com as denúncias feitas pelo presidente do Vila Nova e major da Polícia Militar de Goiás (PM-GO), Hugo Jorge Bravo, que resultaram na Operação Penalidade Máxima, iniciada em fevereiro de 2023.
Por coincidência, tem vários dirigentes esportivos brasileiros que são policiais, mas aqui em Goiás eles deram azar que era logo eu no Goianésia e o Hugo no Vila, o que repercutiu. O Hugo é meu amigo pessoal. Ele já sabia dessa operação, eu contei para ele, trocamos informações", revelou Marco Antônio.

Print com o nome de um dos grupos usados pelos investigados suspeitos de manipulação de jogos. Mandados foram cumpridos em seis estados (Divulgação/Polícia Civil)
No entanto, para o delegado, muitos dirigentes não registram as denúncias por medo de represálias ou por não saberem lidar com a complexidade do problema. Entre 2023 e 2024, a Operação Penalidade Máxima chegou a investigar e indicar fraudes em jogos de diversos Estaduais e das séries A e B do Campeonato Brasileiro. Conforme a polícia, o esquema era aliciar jogadores para cometer pênaltis, receber cartões ou manipular resultado para favorecer apostas esportivas.
São esses dois pontos. Primeiro, o Vila Nova e o Goianésia são dois times sérios, e a segurança jurídica que temos de poder fazer uma denúncia dessa, pois estamos acostumados a mexer com crime organizado. Isso é um crime organizado, com ramificações não só no Brasil, mas no mundo inteiro. É uma máfia", declarou o delegado.
Ele ressaltou que clubes menores, como o Goianésia, são mais vulneráveis a esse tipo de abordagem por conta da limitação de recursos.
Nesse caso aí, R$ 500 mil para o Goianésia é muito mais dinheiro do que chegar no Flamengo e oferecer R$ 500 mil. Na Copa do Brasil, só a premiação (do Flamengo) já é R$ 3 milhões. Aqui fica mais fácil porque, em tese, cairia em uma tentação mais fácil, mas não foi o que aconteceu com o Goianésia", afirmou o delegado.
Para ele, essa investigação é a "ponta do iceberg ".
(Coloborou Felipe Mateus Costa, do g1; e Luiz Felipe Mendes)
Íntegra da nota do Goianésia Esporte Clube
O Goianésia Esporte Clube vem a público manifestar seu total repúdio a qualquer tentativa de manipulação de resultados no futebol brasileiro.
Em 2023, o presidente do Conselho do Goianésia, Marco Antônio Maia, recebeu uma proposta de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) para que o clube participasse de um esquema de manipulação de partidas do Campeonato Goiano. Diante da gravidade do fato e do compromisso ético que temos com o esporte, ele imediatamente comunicou as autoridades competentes, contribuindo diretamente para o desencadeamento da Operação Carta Marcada, deflagrada nesta quarta-feira, 9 de abril, pela Polícia Civil.
É importante ressaltar que, sendo também delegado de polícia, por questões de transparência e imparcialidade, Marco Antônio Maia optou por não conduzir pessoalmente a investigação, garantindo assim a integridade do processo.
O Goianésia Esporte Clube reafirma seu compromisso com a ética, a honestidade e o respeito ao futebol brasileiro. O clube não compactua com nenhuma prática que prejudique a integridade das competições e continuará colaborando com as investigações para que todos os responsáveis sejam devidamente identificados e punidos.
Seguimos firmes na defesa de um futebol limpo, competitivo e digno de sua torcida.
Goianésia Esporte Clube
Íntegra da nota do MP-GO
O MPGO não tem nenhuma relação com a referida operação nem está acompanhando seus desdobramento. Portanto, não há nenhuma colocação a ser feito sobre o assunto.