-Imagem (Image_1.2587212)João Batista Carneiro nasceu em Morrinhos no dia 24 de junho, no dia consagrado, no calendário católico, a São João. Tinha 87 anos e ficou marcado no clube do coração pela sabedoria e astúcia nos bastidores do futebol. Nesta sexta-feira (30), João Carneiro morreu, em Goiânia, após cinco dias internado. Complicações de saúde, já que lutava contra sequelas de um AVC sofridos há 12 anos, o levaram à internação no domingo (25).O velório do dirigente ocorrerá a partir das 8 horas deste sábado (31). O sepultamento está previsto para 17 horas. Os dois momentos serão no Cemitério Jardim das Palmeiras, no Setor Centro-Oeste, em Goiânia.João Carneiro conhecia muito da gestão de um elenco, conforme depoimentos de pessoas que conviveram com ele. A fase áurea foi na conquista do tetracampeonato do Vila Nova (1977 a 1980), mas o dirigente vilanovense esteve presente em outros bons e maus momentos do Tigre.Tinha fino no trato com as pessoas, era chamado de “Comendador” e tinha muitos bons contatos fora do Estado na seara futebolística. “Com ele, primeiro eram as coisas do Vila Nova. Depois, a vida pessoal. Sempre falava com ele, procurava ouvi-lo quando fui presidente”, lembra o ex-presidente do Vila Nova, Paulino Vilela.Na gestão de Paulino, o Tigre foi campeão do Goianão de 1995 com uma base de pratas da casa, como Roni, Tim, Luciano, Cacá, Enival, Kesley, Emerson, Wesley e outros, além de um técnico da casa, Paulinho Benga. Para dar um toque de experiência, o clube contratou Paulinho Goiano, Jorge Batata e Marcelo Gaúcho. No ano seguinte (1996), o título da Série C marcou a história do clube por ser a primeira conquista em nível nacional.Em tudo isso, Paulino contou com o amparo de João Carneiro. O ex-presidente fala do dirigente que foi inspiração. “Era muito honesto. Sempre junto comigo, ele cuidava dos bastidores. Mantinha os contatos com pessoas influentes. Dizia que tínhamos de fazer de tudo para evitar os times paulistas durante as fases classificatórias. Deu certo, pois isso só aconteceu na final, contra o Botafogo-SP”, citou Paulino Vilela. “Sabia trabalhar nos tempos românticos do futebol”, frisou Paulino.Leia também:+ Morre João Carneiro, principal dirigente do Vila Nova, aos 87 anos+ Rivais se solidarizam e lamentam perdaJoão era amigo de dirigentes históricos, mas do rival do Vila: os irmãos Edmo e Hailé Pinheiro, homem forte do Goiás, que morreu no dia 7 de setembro deste ano.Internamente, João Carneiro é citado como o maior dirigente vilanovense. “O Vila Nova perde um baluarte. Foi muito atuante no clube, nos ensinou muito. Todos que passaram pelo clube aprenderam muito com ele na forma de atuar no futebol”, ressaltou Marcos Fagundes, conselheiro e ex-diretor de futebol do clube nos anos 1980 e em 2003, quando o clube passou por processo de reestruturação financeira na gestão do presidente Paulo Diniz, que morreu em 2020. Fagundes disse que João Carneiro foi jogador do Vila Nova bem antes de se tornar dirigente.O ex-jogador Luiz Dário é um símbolo da fase dos títulos nas décadas de 1970 e 1980. “Ele estava muito debilitado. Tive contato recentemente com o Ricardo, filho dele. O seu João (Carneiro) era muito atuante. Tinha contatos bons no futebol mineiro. Cumpria com o nosso elenco aquilo que prometia. Quando precisava tomar decisão, não pecava por omissão. Sabia trazer bons jogadores e negociar”, atesta Luiz Dário.Segundo ele, João Carneiro “não era o dono do clube”, mas tinha o respaldo para tomar as decisões. Através dele, o clube contratou nomes no futebol mineiro, como Humberto Ramos, Toninho Almeida, Danival, Modesto e Paulinho.Numa das boas passagens, Luiz Dário relembra que, na conquista do título de 1978, o bicampeonato da sequência do tetra, o Vila largou na frente, mas se acomodou e permitiu que o Goiás encostasse no Tigre. “Ele nos deu uma bronca. Nos xingou mesmo. Falou duro”, contou Luiz Dário.“Respondemos para ele cuidar do bicho que nós cuidaríamos do jogo e venceríamos. Vencemos o Goiás”, disse Luiz Dário, recordando o triunfo por 1 a 0 na rodada final.Segundo Luiz Dário, aquela foi a forma dura foi a maneira encontrada pelo astuto dirigente para mexer com os brios de um elenco eclético, mas vencedor. “Quando ele prometia o bicho, nós sabíamos que o receberíamos. Ele pagava mesmo”, afirmou Luiz Dário.Ex-presidente do Vila Nova, Sizenando Ferro relembrou o trabalho com João Carneiro e definiu o ex-dirigente como “ícone”. “Foi um grande ícone vilanovense. Multicampeão, trabalhamos juntos já no final da sua carreira no Vila em 2006/2007, quando ele era diretor de futebol e eu, de patrimônio do clube. Muitos ensinamentos, aprendi muito com ele. É uma grande perda para nós e para mim, pessoalmente”, contou.