Prestes a completar 37 anos, o meia Wagner, um dos principais reforços do Vila Nova para a temporada de 2022, acredita que o futebol brasileiro tem muito a evoluir em relação às dúvidas sobre utilização de atletas veteranos. Para ele, há uma “mentalidade pobre” de pessoas que acreditam que jogadores experientes não têm mais o que mostrar em campo.Na opinião do meia, esse tipo de situação até ocasiona aposentadorias. Wagner entende que a desconfiança também é uma consequência da indústria que envolve o futebol. “Às vezes, um clube tem um jogador jovem que pode render dinheiro no futuro e (esse atleta) acaba jogando, mesmo sem merecer nos treinamentos.Perdemos jogadores que chegaram aos 30 e poucos anos e perderam espaço porque o futebol parou de evoluir e o dinheiro se tornou o foco”, opinou o meia de 36 anos, que comemora aniversário de 37 anos no próximo dia 29, dois dias depois da estreia do Tigre no Goianão.Amigo pessoal do ex-atacante Kléber Gladiador, de 38 anos e que não atua desde 2020, Wagner contou que o ex-companheiro de Cruzeiro perdeu espaço no esporte por causa da idade.“Tenho uma amizade dentro e fora de campo com o Kléber Gladiador. É um monstro, trabalhador. Na época que estava no Coritiba (em 2018), falaram que não queriam continuar com ele por causa da idade. Tinha muito a acrescentar, mesmo com a idade. Esse preconceito tira a beleza da bola”, desabafou Wagner, que também fez referência a outro “trintão”, o atacante Fred. “Em 2012 (no Fluminense), ele (Fred, que tinha 28 anos) chutava uma vez no gol, fazia o gol e fomos campeões (da Série A). Hoje, um jovem, ao invés de tocar a bola para um companheiro melhor posicionado, prefere chutar para constar nas estatísticas”, completou.Wagner não considera esse fator como motivação para provar, no Vila Nova, que pode jogar em alto nível aos 36 anos. Para ele, é notável que há diferenças no atual momento de sua carreira em comparação com quando começou a jogar profissionalmente, em 2022, pelo América-MG. O jogador diz que, mostrando vontade nos treinos e jogos, continuará fazendo o que ama em alto nível.“Quem pensa assim tem mentalidade pobre. Não tem que julgar o livro pela capa. Eu me preparo, no meu máximo. Vão ver vídeos dos 20 anos da minha carreira e querer que eu faça a mesma coisa que eu fazia com 18 anos. Hoje, óbvio, que tem limitação de corpo. Penso mais antes de agir, de decidir em campo. Vão existir críticas. Eu filtro e falo: ‘tenha calma, torcedor, no final vai dar certo, irmão. Seu copo vai estar cheio de chope e eu quero estar com meu troféu de campeão’”, falou Wagner, que contou que nunca ouviu comentário sobre sua idade na hora de negociar com um clube. “Nunca foram homens para falar na minha cara, mas sei que falaram”, afirmou.Wagner não quer saber de aposentadoria, mas já definiu que vai morar em Goiânia quando pendurar as chuteiras. O meia, inclusive, estuda para trabalhar com o agronegócio quando parar de jogar futebol e esse foi outro fator para o jogador optar por morar na cidade no futuro.Desde que se mudou para Goiânia, após o Natal do ano passado, Wagner contou que ainda não teve tempo de andar muito pela cidade, mas se encontrou em algumas ocasiões com seu vizinho, o ex-atacante Roni, ídolo do Vila Nova e com quem jogou no Cruzeiro.“Ele tem um restaurante e fomos jantar algumas vezes, até brinquei com minha esposa (Lia Moreira) que não podemos ir lá todos os dias, se não vamos ganhar muito peso e ter que correr 6km do no outro dia. Aí, não dá (risos)”, brincou o meia colorado.Meia contrariou conselho do pai, que sugeriu que parasse de jogarPelo Vila Nova, Wagner jogará pela primeira vez no futebol goiano e vai iniciar uma temporada desde que se recuperou de uma grave lesão no ligamento cruzado do joelho, que sofreu em outubro de 2020 quando atuava pelo Juventude. O meia ficou oito meses parado por causa da contusão e ouviu do pai (Manoel Ferreira) que deveria parar.“Foi por telefone. Liguei para contar que teria de operar, que a previsão era de seis meses parado. Ele falou que eu já tinha ganhado muita coisa, para ir viver a vida. Retruquei que a chama estava acesa ainda, que sinto que tenho coisa para dar ao futebol. Quando chegar a hora, Deus vai falar comigo. Não vai ser uma contusão. Meu pai insistiu algumas vezes, mas eu estava com a cabeça forte e focada em dar a volta por cima”, lembrou Wagner, que quase chegou ao Vila Nova no meio da temporada passada.“O Frontini (diretor de futebol) entrou em contato comigo (em agosto) no ano passado, uma semana antes de eu marcar dois gols contra o RB Bragantino. Falei que voltei a jogar depois da lesão e que queria terminar meu ciclo. Disse que era difícil naquele momento, mas que, ano que vem (2022), ele poderia contar comigo”, detalhou Wagner.Quando enfrentou o Atlético-GO pela Série A em novembro do ano passado, Wagner se encontrou com Frontini, disse que tinha outras propostas de fora do Brasil e da Série B, mas que já estava determinado em aceitar a investida do Vila Nova e vir para Goiânia.Painel de metas em casa tem título do GoianãoDesde 2006, Wagner faz atividades com coaches esportivos e procura criar metas diárias, semanais, mensais e para a temporada em todos os âmbitos da sua vida. O meia já escreveu em um mural na nova casa, em Goiânia, que quer conquistar o troféu do Goianão pelo Vila Nova.Atualmente, o jogador trabalha com dois profissionais que conheceu em passagens por outros clubes. “O Ricardo Melo foi quando joguei no Cruzeiro, em 2006. No Rio, quando estava no Vasco (2017/2018) eu conheci o José André”, contou Wagner. “Minha meta para esse ano, é ter um troféu. Meu objetivo é ser campeão”, avisou o meia. Wagner explicou que tem um mural em casa dividido em quatro partes: metas pessoais, como jogador, pai de família e empresário. “Olho todos os dias, reviso após o mês. É uma rotina boa e pesada que, lá na frente, vale a pena. Pesquisei, antes de vir, que o Vila não conquista o Estadual há anos. Coloquei isso lá, quero um troféu. No final, não tem dinheiro que pague isso”, salientou o meia do time colorado. Com fome de vitórias e título, Wagner explicou que aceitou a proposta do Vila Nova quando entendeu que o clube colorado tem um projeto que caminha com o que ele quer neste momento da carreira. “A conversa que eu tive com o Frontini e o presidente (Hugo Jorge Bravo) foi crucial para essa decisão. Estou com fome de vitórias e objetivos de conquistas. Queria jogar em um clube que vai brigar para ser campeão, não que pensa em descenso. O Vila precisava de um meia e eu, de um clube que estivesse sintonizado com o que eu preciso”, afirmou Wagner, que é pai de dois filhos - Yuri e Noah - e tem um cachorro e dois gatos em casa. No Tigre, o meia será comandado por Higo Magalhães. Hoje, a diferença de idade entre os dois é de três anos - o técnico tem 39 anos. “Eu sempre me dei bem com treinadores jovens. Zé Ricardo no Vasco foi o segundo clube dele, Valentim também. Todos são ex-atletas de mentalidade boa, isso encurta bastante o caminho. Ele (Higo Magalhães) sabe o que penso em determinada situação, sabe a reação em uma derrota, empate ou vitória, quando sofre uma contusão. Trabalhar com um cara de diferença de três anos será bacana, me dá liberdade, mas também pedi para ser direto comigo para nos entrosarmos”, revelou Wagner.