A 8ª edição do Go Cup foi concluída neste sábado (16) após a disputa de 673 jogos, entre 200 equipes. A principal novidade em 2022 foi a criação da categoria exclusiva para o futebol feminino, que terminou com dois times considerados campeões. Após empate sem gols na decisão, a organização do torneio, em comum acordo com as equipes, decidiu declarar o Centro Esportivo Wilson Goiano (CEWG), de Trindade, e a Rede Gol, de Brasília, como vencedoras.Apenas três equipes participaram desta primeira edição, todas de times Sub-13, mas com esperança de aumento de participantes nos próximos anos e de que o torneio se torne um modo para revelação de futuras jogadoras. Além dos finalistas, o Cardim Sports, de Brasília, foi outro representante.Entre jogadoras, mães e integrantes das comissões técnicas das três equipes femininas que participaram do Go Cup, o torneio de âmbito mundial se tornou um modo, por causa da visibilidade, para incentivar jovens a praticar o esporte mesmo com ausência de categorias de base para o público feminino em grande parte dos clubes brasileiros.“Meu maior sonho é ser jogadora de futebol bem famosa. Quero jogar fora do Brasil e vestir a camisa da seleção um dia”, disse, sorridente, a meia-atacante do Rede Gol, de Brasília, Mychelle Souza, de 13 anos, que foi a artilheira do torneio feminino com 6 gols.Mychelle, assim como várias das jovens que participaram do Go Cup em 2022, tem na camisa 10 da seleção brasileira, a rainha Marta, a principal inspiração no esporte. A maioria das atletas, porém, iniciaram no futebol em disputas por times mistos e quase sempre tiveram que jogar contra meninos durante campeonatos por ausência de categorias exclusivas para o público feminino.“A questão do feminino é que precisamos motivar, quanto mais motivar mais cedo mais categorias teremos nos campeonatos. (O Go Cup foi) Importante para mostrar que o futebol feminino tem espaço e vem crescendo no decorrer dos anos”, analisou o técnico Rânderson Martins, do CEWG, único time goiano que disputou o torneio infantil na cidade de Aparecida de Goiânia.Mesmo com a ausência de campeonatos femininos na maioria dos torneios, jovens que participaram do Go Cup não pensam em desistir do sonho de se tornarem jogadoras no futuro. Algumas atletas, inclusive, atuam em mais de uma posição para aumentar as chances de no futuro alcançar o objetivo traçado.Nathália Borges, de 11 anos, é atacante e goleira do Centro Esportivo Wilson Goiano. “Foi a primeira vez que joguei com as meninas, com meninos eu joguei no ano passado (no Go Cup). Eu melhorei bastante. O campeonato também ficou mais forte. Meu sonho é ir para Europa, jogar em time grande. Quero jogar como goleira, atacante, qualquer oportunidade que eu tiver vou agarrar com muita força porque um dia vou aparecer na televisão”, avisou a jogadora goiana de Trindade.Mesmo presente em cada pensamento das pequenas jogadoras, motivação para que elas não desistam também estão presentes em familiares.“Sempre falo pra ela (Nathália Borges) uma frase, ‘que ela pode ser o que quiser’. Quando tem um sonho, não importa. Portas serão abertas, algo que eu não tive. É o que eu creio e sei que ela vai realizar todos os sonhos”, contou Adriana Cardoso, tia da atacante e goleira do CEWG, que tentou jogar futebol e incentivou a sobrinha a praticar o esporte quando percebeu que a pequena não “gostava de brincar de boneca e sempre gostou de jogar bola”.Com a expectativa de que clubes de futebol invistam em categorias de base no futebol feminino no futuro, técnicas e jogadoras também acreditam que o crescimento do esporte entre as jovens vai ocorrer quando pais e mães participarem da rotina de treinos e jogos, modo que podem incentivar que atletas não desistam de praticar o esporte.“Tento trazer os pais para dentro para terem confiança. Infelizmente no Brasil nem todos os times têm condições financeiras de bancar uma base feminina, a maioria banca um adulto e de pouco em pouco uma menina vai chamando a outra. É um trabalho árduo”, lamentou Gabrielly Izidorio, técnica do Cardim, outro time brasiliense que disputou o Go Cup em 2022.Times como Corinthians, Ferroviária, São Paulo, Internacional, Fluminense, Santos, Flamengo, Grêmio e Minas Brasília-DF são alguns exemplos de equipes que possuem categorias de base no futebol feminino - em times Sub-16, Sub-17 e Sub-18.“O futebol nacional ainda não despertou para compreender que todo potencial de revelação de talentos e renovação do esporte está direcionado a investimento nas bases. No feminino a situação ainda é mais grave já que quando vão disputar o Brasileiro montam times em cima da hora, por ser determinação. São poucos clubes que trabalham com categorias de base e com investimentos sérios”, descreveu a coordenadora da Rede Gol, Deiza Leite.