Não faltou emoção na despedida de Ralf do Vila Nova na última quarta-feira (19), no empate em 2 a 2 contra o Volta Redonda, no OBA. Apesar de só ter conquistado um título com a camisa colorada e não atuar como titular durante a campanha, Ralf comentou que criou uma identificação muito grande com o clube e declarou que “ser vilanovense é diferente”, citando o Corinthians na comparação.

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Após a partida desta semana, que encerrou a temporada do Tigre em 2025, Ralf disse que aprendeu a amar o Vila Nova. A diretoria até ofereceu um novo contrato com o jogador de 41 anos até o final do Goianão de 2026, mas o volante ainda quer disputar mais uma temporada completa e avaliou que “tem muita lenha para queimar”.

“Ser vilanovense é diferente. É raça, fé, união. O coração pulsa diferente. O Vila é um clube de povo, de massa. Não deve nada ao Corinthians (ex-clube de Ralf, onde é ídolo) em termos de paixão. Saio deixando meu legado e as portas abertas. O que o clube construiu desde 2022 é coisa de time grande. Batemos na trave alguns anos, mas a hora vai chegar”.

Ralf também relembrou momentos marcantes com a camisa do Tigre, como a luta contra o rebaixamento em 2022, o quase acesso em 2023 e o título goiano de 2025. Em 2026, ele ainda não possui destino definido.

Ralf compara Vila Nova ao Corinthians e se declara ao clube goiano: "Ser vilanovense é diferente"

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Despedida

A campanha do Goiás que pode culminar com o acesso à Série A no próximo domingo (23) não teve um craque durante toda a competição, mas o time esmeraldino tem seu artilheiro e deposita sua esperança de gols no centroavante Anselmo Ramon. O experiente jogador de 37 anos é o goleador da equipe na Série B com dez gols, voltou a ser decisivo após seu maior jejum pelo clube e pode fazer a diferença na decisão contra o Remo.

Quando o Goiás contratou Anselmo Ramon, o clube buscava um jogador experiente para decidir jogos. A Série B é a competição que o centroavante mais jogou na carreira (foram 208 jogos até aqui) e, além de ser decisivo para a equipe esmeraldina, o camisa 9 se destaca por estar entre os principais artilheiros na história da Segundona.

Anselmo Ramon marcou, até aqui, 57 gols por Goiás, CRB, Guarani, Vitória e Chapecoense na Série B. Neste momento, ele é o sexto maior artilheiro na história da competição. O líder é o ex-centroavante Zé Carlos, que fez 92 gols por diversos times, entre eles o Criciúma, CRB e Ponte Preta.

Pela Chapecoense, inclusive, Anselmo Ramon foi campeão da Série B em 2020. É o único acesso à Série A do centroavante, que também pretende aumentar essa estatística agora pelo Goiás.

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Anselmo Ramon viveu recente irregularidade ofensiva, mas tem poder de decisão (Fábio Lima / O Popular)

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Se tudo ocorrer como planejado pelo Goiás, em 2026 o centroavante não jogará a competição (ele tem contrato até o fim do ano que vem), mas no próximo domingo (23) ele terá a oportunidade de aumentar mais um pouco seus números na Série B.

Anselmo Ramon foi contratado para ser o homem-gol do Goiás, status que ele também ostenta pela falta de planejamento da diretoria esmeraldina - não há outros centroavantes no atual elenco.

Apesar da recente irregularidade ofensiva - foram sete jogos sem marcar entre as rodadas 25 a 32 - o jogador segue prestigiado e é um dos atletas que mais decidiram jogos para o clube goiano na Série B.

Dos dez gols marcados por Anselmo Ramon na Série B, sete resultaram em 17 pontos para o Goiás na competição. Ele marcou gols que confirmaram cinco vitórias (Botafogo-SP, Ferroviária, Chapecoense, Athletico-PR e Novorizontino) e fez outros dois em partidas (contra Remo e Amazonas) que terminaram empatadas.

Quase 30% dos pontos da equipe esmeraldina na Série B saíram dos pés direito e esquerdo, cabeça e até das costas do centroavante alviverde.

Ele ainda fez um gol na vitória de virada sobre o Atlético-GO no 1º turno (o gol do triunfo foi do goleiro Tadeu) e nas derrotas para o Botafogo-SP e Chapecoense, ambos no 2º turno.

Contra o Remo, no próximo domingo (23), Anselmo Ramon pode ser novamente decisivo e peça fundamental para o Goiás conquistar o acesso à Série A.

“O Goiás precisa criar o ambiente certo para ele (Anselmo Ramon). O gol contra o Novorizontino é o exemplo: simples, mas de quem sabe onde a bola vai cair. O Goiás não precisa que ele faça algo extraordinário. Só precisa que ele seja frio, oportunista e no lugar certo na hora certa. Isso costuma decidir acesso”, analisou o jornalista Elton Serra, da ESPN.

O gol contra o Novorizontino, que deu a vitória ao Goiás, recolocou a equipe no G4 e em condição de depender apenas de si na busca pelo acesso, surgiu de uma jogada ensaiada.

Lances em que o volante Juninho faz lançamentos longos na direção de laterais e pontas, que têm a função de cruzar bolas na áreas adversárias, são trabalhados toda semana pelo técnico Fábio Carille. Contra o Novorizontino, o volante lançou Diego Caito, que cruzou na medida para Anselmo Ramon marcar.

“O Anselmo Ramon cumpriu exatamente o papel de um 9 experiente: fez gols. Num jogo como o de domingo, ele pode decidir. Ele vive de timing, e decisão é isso”, reforçou Elson Serra.

A partida decisiva entre Goiás e Remo terá duelo entre jogadores que estão entre os principais artilheiros da Série B. Anselmo Ramon divide a 5ª colocação do ranking, enquanto Pedro Rocha, centroavante da equipe azulina, é o principal goleador da competição com 14 gols.

No 1º turno, foram dos centroavantes os gols do empate em 1 a 1 entre Goiás e Remo na Serrinha. Uma nova igualdade desta vez não é suficiente para o time azulino, mas pode dar o acesso ao clube goiano desde que o Criciúma seja derrotado pelo Cuiabá ou que a Chapecoense não vença o Atlético-GO. Em caso de vitória, a equipe do artilheiro Anselmo Ramon estará na Série A.

Para buscar acesso, Goiás tem especialista em Série B como trunfo

Segundona

O Remo terá desfalques para a decisão contra o Goiás no próximo domingo (23), no Mangueirão. Três jogadores titulares vão cumprir suspensão na última rodada da Série B.

As principais ausências serão no ataque. Os uruguaios Diego Hernández e Nico Ferreira foram expulsos na derrota de 3 a 1 para o Avaí e estão fora da decisão contra o Goiás.

A dupla esteve envolvida em uma confusão generalizada na partida disputada na Ressacada. Após análise na cabine do VAR, o árbitro Felipe Fernandes de Lima/MG expulsou seis atletas: quatro do Avaí e dois do Remo.

A outra ausência do Remo é pelo acúmulo de três cartões amarelos. O meia Pedro Castro, que jogou como lateral direito contra o Avaí, recebeu o terceiro amarelo e aumentou a lista de desfalques.

No ataque, Janderson, João Pedro e Jaderson brigam por duas vagas. Na lateral direita, Marcelinho pode voltar ao time titular. Ele ainda se recupera de uma entorse no pé. Caso não fique à disposição, o técnico Guto Ferreira pode ter de improvisar algum atleta na função.

Quem estará em campo é o goleiro Marcelo Rangel. Ex-jogador do Goiás, o defensor se recuperou de maneira surpreendente de uma cirurgia no joelho após lesão no menisco medial sofrida em outubro. Ele voltou a jogar no último dia 2 de novembro.&nbsp;

No 1º turno, o goleiro foi destaque no empate por 1 a 1 entre as equipes com direito a defesa de pênalti do ex-companheiro Tadeu.

O Remo chega pressionado nesta reta final da Série B. O time azulino não venceu nas últimas três rodadas - dois empates e uma derrota - e perdeu a condição de depender apenas de si para conquistar o acesso à Série A.

A sequência, inclusive, fez com que as chances de acesso da equipe despencassem. Após a vitória sobre o Cuiabá, a última da equipe na Série B, na 34ª rodada, a probabilidade do clube subir à elite era de 69,7%. De acordo com o departamento de Matemática da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a chance agora é de 18,5%.

O Remo não disputa a Série A desde a temporada de 2000. Ou seja, o clube ainda não disputou o torneio no formato dos pontos corridos.

Para retornar ao Brasileirão em 2026, o clube paraense precisa vencer o Goiás e torcer por derrota do Criciúma que encara o Cuiabá, fora de casa, ou para que a Chapecoense não ganhe do Atlético-GO.

Sem vencer há três jogos e com desfalques: como chega o Remo para decisão contra o Goiás

Série B

Com a sua gestão como presidente do Vila Nova chegando ao fim, Hugo Jorge Bravo, que deve continuar trabalhando na diretoria do clube, projetou o ano de 2026 e revelou que serão feitas pelo menos dez contratações para a próxima temporada. O dirigente também alertou sobre os perigos de uma SAF - o time recebeu propostas ao longo dos últimos meses, a última delas na véspera da gestora de fundos que apresentou ser alvo de investigação.

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Neste ano, o Vila Nova fez 27 contratações. Entre elas, 14 foram antes do início do Goianão, e a tendência é de que o clube siga a mesma média em 2026. Desses 14 jogadores contratados entre novembro de 2024 e janeiro de 2025, 8 deixaram o clube antes mesmo do desfecho da temporada.

Para competir melhor ao longo de todo o ano que vem, o índice de acerto vai precisar melhorar. Ampliando o escopo, dos outros 13 atletas contratados durante e depois do Goianão, cinco deles não terminaram o ano integrados ao elenco colorado e mais ainda vão sair. No total, quase metade (48,1%) dos contratados não se manteve no planejamento para a próxima temporada. E, em 2026, o investimento deve ser praticamente o mesmo.

“O que está prospectado para nós é a contratação de pelo menos dez jogadores, em diversas posições. Não tem muito o que aumentar em relação à perspectiva de investimento deste ano, até porque não há nada extraordinário prestes a acontecer. É trabalhar com esses poucos recursos, sempre buscando ser o mais assertivo possível”, comentou Hugo Jorge Bravo.

Desde o início da gestão, o atual presidente do Vila Nova - que deixará o cargo, mas integra a chapa única para a próxima eleição, que é encabeçada por Fábio Brasil - reforçou as dificuldades financeiras do clube e o enfoque em sanar as dívidas e melhorar a estrutura antes de pensar em grandes investimentos no âmbito esportivo.

Internamente, apesar da decepção de não ter conseguido o acesso, a avaliação é positiva, sobretudo por causa do título do Goianão de 2025, que encerrou um jejum de 20 anos.

Desde o fim de 2022, o Vila Nova começou a captar investidores e passou a viver uma expectativa de se tornar SAF. Antes disso, em 2021, o clube havia contratado uma empresa de consultoria, a Pluri, para auxiliar neste processo. Até agosto de 2025, a equipe tinha recebido quatro propostas, incluindo a de um grupo argentino.

Uma das propostas, a que foi apresentada pela Reag Investimentos para aquisição da SAF do Vila Nova, foi suspensa porque a gestora de fundos de investimento foi alvo de uma megaoperação contra o PCC, com a intenção de desarticular a infiltração do crime organizado em negócios regulares. A partir daí, a discussão sobre o assunto esfriou. Na proposta recebida pelo Vila Nova, havia um convite formal a Hugo Jorge Bravo para se tornar CEO da SAF do clube, conforme apurado pelo POPULAR.

“Posso dizer que grande parte dessas SAFs são cascatas, vão cair… O que esses caras estão fazendo não tem a mínima sustentabilidade, é muita irresponsabilidade. O clube, enquanto está no modelo associativo, não quebra. Agora, quando é SAF, ele vai quebrar. Vocês vão ver clubes tradicionais acabando. O Vila, conseguindo passar por esse processo, vai sair muito fortalecido. E aí é a grande oportunidade que tem”, avaliou Hugo Jorge Bravo.

O mandato de Hugo Jorge Bravo começou em 9 de dezembro de 2019. Nos seis anos do dirigente na presidência do Vila Nova, o clube foi campeão da Série C em 2020. Em 2021, o ano ficou marcado pela perda do título estadual para o Grêmio Anápolis. Em 2022, o time lutou para não cair; em 2023 e em 2024, brigou pelo acesso, sendo que no ano retrasado dependia somente de si na última rodada e perdeu para o rebaixado ABC. Por último, em 2025, foi campeão goiano, mas teve campanha decepcionante na Série B.

“A gestão foi campeã da Série C, campeã goiana depois de 19 anos e foi a que chegou mais perto do acesso à Série A nos últimos 40 anos. Falo isso não por soberba, de forma alguma, mas porque é importante lembrar. Nós somos hoje uma das menores folhas do campeonato.”

Presidente do Vila Nova diz que clube vai fazer pelo menos dez contratações e alerta sobre SAFs

2026

O gaúcho Rafael Lacerda, de 41 anos, encerra a primeira temporada dele como técnico no futebol goiano. No primeiro semestre, conduziu o Vila Nova ao título do Estadual, 20 anos depois da conquista anterior do clube. Saiu em junho. Pouco mais de um mês depois, em julho, assumiu o Atlético-GO em crise na Série B. O Dragão se livrou do risco de descenso, mas ficou distante do acesso à Série A. O trabalho no Dragão resultou na renovação de contrato para 2026. Na próxima semana, Lacerda estará em São Paulo, para o curso Licença Pro, da CBF Academy, para técnicos de futebol. Após seis anos de carreira, planeja um salto de qualidade. Lacerda está no futebol mais por insistência do pai, Paulo, que morreu no início de 2012 quando o filho era zagueiro do Caxias-RS e estava concentrado para o começo do Campeonato Gaúcho. Ele, a mulher (a neuropsicopedagoga Flávia, que trabalha em Goiânia) e os filhos se mudaram para Goiânia. Como se adaptaram bem, a família deve fixar a residência na capital goiana, mesmo que um técnico de futebol seja “nômade”. Com facilidade para se comunicar e bem articulado, o técnico falou ao POPULAR da história dele, dos projetos na carreira e no Atlético-GO e da dor de perder o pai.

O que o torcedor pode esperar do Atlético-GO para 2026?

Primeiro, gostei muito do clube e do que encontrei aqui. Tenho um ambiente muito bom de trabalho. Outro ponto importante é a camisa do Atlético-GO. Para mim, hoje está na Série B, mas ano que vem é um dos candidatos ao acesso pela história que tem. O terceiro (ponto) é poder iniciar um trabalho do zero, participar da montagem do elenco, iniciar uma pré-temporada, colocar todos os meus conceitos que acredito que não consegui colocar aqui.

Que conceitos são estes?

São em termos de comportamento de marcação, sistema para jogar e marcar, característica de atleta. Cada treinador tem o seu conceito. Tem treinador que trabalha por encaixe, tem treinador que não trabalha, tem treinador que marca mais zonal. São comportamentos que não pode mudar durante a temporada. Tem de fazer isso num início de pré-temporada.

Como renovou contrato, Goiânia entra de vez na sua vida e na da sua família?

Com certeza. Também entra a estrutura do clube. Mas a cidade é espetacular, o clima. Meus filhos (Maria Paula e Martin) são de Caxias do Sul (RS). Uma semana é calor, outra semana é frio. Então, as crianças ficavam doentes uma vez por mês, por causa da mudança de temperatura. Aqui, os meus filhos vão completar um ano (em Goiânia) daqui a um mês. Também tem a segurança da cidade. Moro a dois quarteirões da escola dos meus filhos. Eles vão caminhando para a escola. Não consigo conviver muito com a minha família, são pouquíssimas vezes em que consigo aproveitar a cidade com a minha família. Como não consigo, pelo menos eles têm uma qualidade de vida muito boa.

Mas ficará morando de vez em Goiânia?

Provavelmente. Não vou cravar, mas diria hoje que é de 90% (possibilidades).

Você falou de família e seu pai é marcante na sua formação?

Meu pai (Paulo) era um cara muito trabalhador. A maioria dos jogadores vem de família muito humilde. Venho de classe média. O meu pai me deu todas as condições para estudar. A minha irmã (Paola) é formada. Se não quisesse ir para o lado do futebol, teria estudado e meu pai pagaria a minha faculdade. Ele (pai) sempre me incentivou muito no futebol. Com certeza, virei profissional mais por causa dele do que por mim. Quando assinei meu primeiro contrato profissional, um ano antes e com 19 anos, trabalhei com ele. Vou falar em valor: com 19 anos, ganhava R$ 1,5 mil trabalhando com ele. Isso era em 2004. Em 2005, recebi convite para jogar o meu primeiro ano como profissional. O meu salário como jogador seria de 450 reais. Não queria, porque ganhava R$ 1,5 mil com ele. Era a lógica, mas meu pai me incentivou para ser jogador. Disse que tudo que eu precisasse para inteirar os R$ 1,5 mil, iria ajudar. Foi assim. Até os meus 24 anos, fui meio que sustentado pelo meu pai, jogando futebol. A partir dos 24 é que consegui ter, vamos dizer assim, a minha independência financeira. Passei a ter um salário melhor como jogador. Virei jogador por causa do meu pai. O sonho maior era dele. No ano (2012) em que a minha carreira mudou, perdi meu pai. Estava concentrado para um jogo, o primeiro do Campeonato Gaúcho, recebi o telefonema de que ele tinha falecido. Perdi o meu pai e as coisas começaram a dar certo. A minha mãe (Avani) brinca que foi um anjo lá de cima que começou a me abençoar. Fui melhor zagueiro do Gaúcho, vim para o Goiás, consegui organizar a minha vida, conheci a minha esposa. Costumo dizer que foi um presente que meu pai fez porque colocou a minha vida no caminho certo.

Como foi receber a notícia da morte dele?

Foi terrível. Estava dormindo e quando o meu telefone tocou, pela manhã, o meu colega de quarto (Fabinho) conta que atendi o telefone gritando. O meu pai não tinha nada. Simplesmente, entupiu a veia aorta, teve uma parada indo para o hospital e não resistiu. Foi muito triste. Nós o enterramos um dia depois e, no outro dia, fui jogar. Minha mãe (Avani) me aconselhou, disse que ele gostaria que eu jogasse. Ganhamos, fomos campeões do 1º turno. Foi o momento mais triste da minha vida culminando com o mais feliz porque fui campeão, tive a melhor transferência da minha carreira como atleta (para o Goiás) e conheci a minha esposa (Flávia).

A transição de jogador para treinador foi tranquila?

Se pudesse parar antes (como atleta), teria parado antes. Confesso que, na minha transição, comecei a ter contatos com dois treinadores. Em 2010, quando trabalhei com o Lisca, no Luverdense, trocava muitas ideias sobre táticas com ele. Como zagueiro e capitão, conversava muito com o Lisca sobre a parte tática. Aqui, no Goiás, o Enderson (Moreira) me levava para todos os jogos porque eu era reserva de luxo, vamos dizer assim. Trocava muita ideia com o Enderson e o Luiz Fernando (Flores, auxiliar) sobre questão tática e o jogo em si. Quando estava no banco de reservas, conversava com o Enderson. Tenho o Enderson e o Lisca como referências de treinadores com os quais trabalhei. Parei de jogar em 2018, mas confesso que, em 2015, já estava parando. Já comecei a ficar chato, querer falar muito sobre parte tática com os treinadores. Foi tudo muito rápido. Fiquei sete meses como auxiliar do Caxias e assumi depois de um insucesso do clube num acesso para a Série C. Tem uma Copa RS e assumi.

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Rafael Lacerda, técnico do Atlético-GO, em entrevista ao POPULAR (Diomício Gomes / O Popular)

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Você fala do Lisca (gaúcho) e do Enderson Moreira (mineiro) como referências. Existem as escolas gaúcha e mineira de treinadores?

Não percebo. O que vejo é que todo mundo fala da escola gaúcha e nem estou querendo defender o meu estado, mas é porque os últimos treinadores da seleção (brasileira), antes da saída do Tite (Dunga, Luiz Felipe Scolari, Mano Menezes), são gaúchos. Depois, vieram o (Fernando) Diniz e o Dorival Júnior. Não posso falar, por exemplo, que a escola gaúcha é organizada em modelo de sistema defensivo. Pode ser que sim, mas se falar isso, estarei falando mal dos meus colegas paulistas, dos colegas de Amazonas ou daqui, de Goiânia. Está tudo muito junto. Não vejo diferença de escola. O que vejo são diferenças de cultura de local. Na escola de técnicos, vejo que os cursos são os mesmos.

Como foi a experiência como “professor” do curso da Licença A da CBF Academy, neste ano?

(Risos) Foi bem legal, uma experiência diferente. Nunca esperava virar professor da Licença A. Foi legal. Falei sobre organização defensiva e bola parada defensiva. Abri tudo o que fiz na minha pré-temporada. Gosto muito da maneira como o Atlético-GO trabalha, com os portões abertos para vocês (imprensa), gosto dessa liberdade para vocês trabalharem. E, ao mesmo tempo, vejo que não preciso esconder nada. Não dei uma aula. Simplesmente, mostrei o que fiz e o que faço no meu dia a dia, desde o início até o final de uma pré-temporada. Pode ser que tenha colegas que vou enfrentar e não há problema nenhum. Abri o meu livro, escutei e aprendi muito no curso. Não ensinei nada, apenas aprendi.

Qual a projeção de carreira? Planeja fazer cursos no exterior?

Quem sabe. Isso é um assunto um pouco polêmico. Não consigo entender como os estrangeiros vêm para o Brasil sem a licença do Brasil e podem trabalhar aqui sem a nossa licença. Isso é uma questão que vou colocar no curso. Teremos vários profissionais bons na (Licença) Pró, agora, e vou argumentar isso. Por que os estrangeiros trabalham no Brasil, sem a Licença, apesar de que alguns estão fazendo? E por que nós não podemos trabalhar em alguns lugares? Espero que, com o tempo, as nossas licenças sejam aceitas em todos os lugares. Mas, em termos de plano de carreira, sou muito pé no chão. Não gosto de fazer planos muito na frente. Sonho em trabalhar na Série A. Mas, se for falar qual é o sonho, é trabalhar com o Atlético-GO na Série A. Então, penso muito a curto prazo, penso muito no 2026. Ser campeão goiano, subir o Atlético-GO e realizar o meu primeiro sonho que é trabalhar na Série A dentro do Atlético-GO.

Você faz terapia?

Com certeza. É muito importante. Às vezes, as pessoas pensam que o Lacerda é um cara enérgico, que cobra. A terapia não é só para o futebol. Na minha terapia, falo pouco sobre futebol porque engloba muito mais a questão familiar. Sou um marido ausente, um pai ausente porque sou um treinador presente, um funcionário presente. Coloco o trabalho em primeiro lugar. Sempre digo para minha esposa que não vou me arrepender disso, tudo que faço é pensando na minha família, é para dar um conforto à minha família. Certo ou errado, coloco o trabalho em primeiro lugar. Às vezes, o pessoal fala que o treinador faz terapia por causa do futebol. Claro que não. Gosto da cobrança, da responsabilidade. A terapia é importante para o ser, o Rafael. Aqui, gosto de ser chamado de Lacerda. Aqui, sou o Lacerda. Fora do portão, sou o Rafael. A terapia é muito mais para o Rafael do que para o Lacerda.

Como você faz isso?

Uma vez por semana. É uma profissional do Rio Grande do Sul. É (terapia) à distância porque não dá para ficar trocando. É uma profissional que me acompanha há algum tempo. O nome dela é Cristiane. Ela é de Caxias do Sul (RS), foi uma indicação da minha esposa e, como disse, o trabalho que ela desenvolve para mim é muito mais pensando no marido, no pai, no filho, no irmão, no amigo, do que do próprio Lacerda, aqui dentro do Atlético-GO.

Quando você começou e o que a terapia trouxe de benefício?

Comecei em 2020. Evoluí muito. Vou falar do meu trabalho, mas numa questão mais particular, a minha relação com a imprensa melhorou muito. Fui um jogador que sempre precisei me posicionar muito porque em muitos clubes fui o capitão. Melhorei muito esta questão com a imprensa, de entender que, assim como ela dá moral, tem a parte dela de criticar. Consegui assimilar muitas coisas. Melhorei muito e me ajudou com as redes sociais, porque ela atrapalha muito mais. Esta parte da terapia me fez abrir a mente porque sou um cara que tem rede social, mas não vejo praticamente nada que falam sobre mim. Não olho quando ganho nem olho quando perco.

O rótulo de “retranqueiro”... Quem criou isso?

Eu. Esse é o problema. Não sei se a imprensa fala que eu era retranqueiro. O que sei é que não tomávamos gol e que 1 a 0 era goleada. Então, é o cuidado que temos de ter quando vai dar uma entrevista. Ninguém nunca falou ‘você é retranqueiro’. Como sou um cara aberto e não tenho problema para falar, falei ‘a gente não é retranqueiro, a gente é organizado defensivamente’. Aí, pegou. Não tem problema nenhum. São conceitos que não consegui colocar aqui, em termos de organização defensiva, porque precisamos evoluir muito a parte ofensiva do Atlético-GO. Mas não me incomodo com os rótulos.

Nas séries A e B, há alguma novidade tática? E os comentários sobre a extinção do camisa 10, como você vê isso?

Não vejo, não consigo. Se você for olhar, todos os meus times têm um 10. Todos. Talvez o único time (que não tinha) e era um time com poucas condições financeiras, foi o Aimoré-RS. Participamos do Gaúcho e não tínhamos. O 10 tem de ser um cara com investimento mais alto. Pode ser que, em algum momento, tenha de jogar sem o 10. Gosto daquela época que tem o 5, tem o 10 e tem o 9. Não gosto desta história de falso 9. Aí, os caras querem acabar com o futebol. Mas respeito. Variação tática, dentro da Série B, gostei muito do Atlético-GO quando colocou o (atacante) Jean Dias como lateral direito. Gostei. Por que gostei? É porque enfrentamos o Athletico-PR e jogou aqui um (jogador) que todos vocês devem gostar, o Luiz Fernando. Era o Luiz Fernando que estava jogando em cima do Jean (Dias). Gostei desta variação, de usar um atacante como lateral. Mas não me lembro de nenhuma variação tática, não vi nenhum time jogando de uma forma diferente.