A reforma feita no Autódromo de Goiânia é descrita como a “reconstrução” do local. Uma exigência para o espaço tornar-se a casa da MotoGP no Brasil por pelo menos cinco anos, a partir de 2026, a obra vai mudar a cara e o status do autódromo goianiense.Fundado em 1974, o autódromo jamais passou por uma reforma ampla e profunda como a atual. A obra se tornou obrigatória após o acerto do Governo de Goiás para receber a MotoGP. A negociação com a Dorna Sports, empresa detentora dos direitos comerciais da categoria, exigiu a modernização da praça esportiva. O investimento estimado é de R$ 200 milhões.Ao longo dos 51 anos do equipamento esportivo, o autódromo passou por algumas obras, sendo duas de destaque. Uma foi feita em 2013, focada principalmente na pista e que marcou o fim do hiato de mais de dez anos do equipamento sem receber provas nacionais. A outra ocorreu em 2020. Essa última foi feita após mortes seguidas de motociclistas, Welles Lins (2019) e Indy Munõz (2020), e foi direcionada para melhorar aspectos de segurança no autódromo.A atual reforma, no entanto, é por todo o autódromo. Não há um local no equipamento que esteja sem placas de sinalização de obras. O foco principal é a pista, mas modernizar a praça esportiva se tornou necessidade. “As motos e carros evoluíram. Os carros passam de 300 km/h e as motos superam os 350 km/h. A praça precisava evoluir. O equipamento evoluiu, a praça tem que evoluir também para suportar essa velocidade”, comentou o gestor do autódromo, Roberto Boettcher, que está envolvido com o local desde a fundação em 1974 e ocupa o cargo na gerência há mais de seis anos.Neste momento, a principal atenção do Governo de Goiás e da Brasil Motorsports, promotora da MotoGP, é concluir a troca de toda a camada asfáltica da pista. Isso é uma obrigatoriedade para que a praça esportiva seja homologada.“Nós vamos aplicar um gap graded (mistura asfáltica) com polímero. Para uma pista de competição, é mais adequado por causa da melhor macrotextura. É mais aberto que o asfalto tradicional (rodovias e ruas, por exemplo) e isso melhora a drenagem superficial, evita aquaplanagem e derrapagem. Nós estamos usando um gap que é mais resistente ao calor e isso vai minimizar a deformação do asfalto”, explicou Carlos Wick, que é o arquiteto responsável pela obra do autódromo e representa a Brasil Motorsports, promotora da MotoGP no Brasil.“Estamos no processo de aplicação das primeiras camadas (5cm do novo asfalto), depois vamos lavar toda a pista e começar a aplicação da camada final (outros 5cm). Será feita toda de uma vez. Não podemos nos antecipar na aplicação por causa do tempo de cura do asfalto. É a cereja do bolo e tem que ficar impecável”, reforçou Carlos Wick.A novidade em relação ao processo de homologação é a tendência de o Autódromo de Goiânia ficar liberado não só para receber etapas do Mundial de Motovelocidade, após avaliação da Federação Internacional de Motociclismo (FIM), mas também para corridas internacionais de carros, já que a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) também vai participar do processo de homologação - no Brasil, nenhum autódromo é homologado pela FIM e apenas Interlagos, em São Paulo, tem autorização para receber etapas da Fórmula 1.“Para construir esse asfalto, nós conversamos com a FIM e também com a FIA. Ambas aprovaram o que está sendo construído aqui. As pessoas acham que o autódromo está sendo reconstruído para a MotoGP, mas estamos reconstruindo para receber competições internacionais. Por isso, trouxemos a FIA para a discussão. Participaram das reuniões para definir junto com a FIM, para colocarmos um asfalto que pudesse receber qualquer categoria. Fórmula Indy, por exemplo, talvez a Fórmula 1 se houver desejo de duas etapas no Brasil ou até mesmo uma mudança (de sede) no futuro”, afirmou o secretário de esportes, Rudson Guerra.As conversas com a FIA tiveram início entre o final do ano passado e o início deste ano. A intenção é deixar o equipamento pronto para uma possibilidade no futuro. Os direitos da Fórmula 1 no Brasil estão vinculados à Prefeitura de São Paulo com o atual acordo válido até 2030.O acréscimo da FIA fez com que o prazo para a homologação fosse alterado. Estimado para ocorrer até seis meses (22 de setembro) antes da primeira etapa da MotoGP, a vistoria deve ser realizada até a primeira semana de novembro. Segundo o Estado, não há data confirmada e a mudança foi necessária para que todas as federações e confederações estejam presentes. Além da FIM e FIA, a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) e a Confederação Brasileira de Motociclismo (CBM) vão participar da vistoria.Layout e reaberturaAlém do asfalto, outra mudança de destaque vai ocorrer no layout da pista, no trecho da segunda perna do ‘S’. O acordo entre Governo de Goiás e a Dorna Sports prevê a correção da chicane (sequência de curvas em direções diferentes, direita-esquerda, esquerda-direita) antes da reta oposta.Essa alteração é uma exigência da FIM para que ocorra melhor administração da velocidade e evite que competidores possam entrar na reta oposta em velocidade que poderia causar acidentes. A extensão da pista seguirá de 3,835 km.“O final do traçado antigo do ‘S’ não vai existir mais. Quando o piloto terminava a última curva, acabava sendo rápido demais e isso poderia ser perigoso. Com a exigência de criação de uma área de escape, com caixa de brita, nesse setor, que era algo que não tinha antes, foi necessária a alteração da curva. Isso vai dar maior controle da velocidade antes da entrada da reta”, justificou Roberto Boettcher.O autódromo de Goiânia será reaberto em 2026, mas não com a etapa da MotoGP. O acordo com a Dorna Sports prevê a realização de um evento-teste. Não há previsão de data nem de categoria que irá correr pela primeira vez no “novo autódromo”. “Temos obrigação de fazer um evento-teste e nossa ideia é fazer com moto, trazer uma competição nacional de motovelocidade”, adiantou o secretário Rudson Guerra.