Na formação do elenco do Atlético-GO para a temporada 2022, a diretoria e o departamento de futebol decidiram repatriar jogadores que estavam no exterior e que trazem ao clube a perspectiva de agregar experiência e, principalmente, qualidade técnica. O goleiro Renan, o volante Edson e o atacante Wellington Rato vivenciam o período de readaptação ao futebol brasileiro. Cada um tem a sua particularidade, mas, em comum, há o desejo de jogar em alto nível, assim como quando tiveram propostas de transferência internacional e cruzaram o Oceano Atlântico.O trio passou por centros futebolísticos diferentes em períodos variados. Agora, no Dragão, os três jogadores estão atuando juntos pela primeira vez.Edson, de 30 anos, deixou o clube em setembro de 2020 para atuar pelo Al Qadisiya, da Arábia Saudita. No final daquele mês, Wellington Rato, de 29 anos, trocou o Ferroviário pelo Atlético-GO, que pagou multa de R $10 mil para tirá-lo do futebol cearense. Seis meses depois, em abril de 2021, RAto rumou para defender o V-Varen Nagasaki (Japão), mesmo clube em que estava Luan, repatriado pelo Goiás.Entre os três atletas, o que mais atuou neste início de temporada foi Wellington Rato. Depois do empréstimo ao V-Varen Nagasaki para disputar a J-League 2 - o clube brigou pelo acesso, mas ficou em 4º lugar -, o atacante tem jogado em alto nível no Goianão. Para Rato, que voltou em dezembro passado, a readaptação passa por se ajustar aos padrões de preparação física do Dragão, um pouco diferentes do clube japonês. Porém, ele parece não ter sentido tanto a mudança de estilos.Ano passado, enquanto Rato chegava à terra do Sol Nascente, Renan, de 32 anos, se aproximava de fechar o ciclo de quase um quinquênio no Ludogorets, da Bulgária. Na temporada anterior (2016) à transferência para a Europa, o goleiro atuava no Avaí. Ele e a família voltaram ao Brasil no início de julho passado após quase cinco anos de moradia em Razgrad, cidade com cerca de 50 mil habitantes no interior da Bulgária que abriga o principal clube do futebol búlgaro dos últimos anos.Assim que chegou ao Rio, goleiro passou a se adaptar novamente à questão climática. Na passagem por Razgrad, Renan conviveu com temperaturas de -15 graus. “Era muito frio lá”, resume o goleiro, que conta como se deu a mudança, em janeiro de 2017. “Viajei no dia 5 (janeiro). No Rio, quando embarquei, fazia 40 graus. Ao chegar à Bulgária, eram -15 graus”, relembrou o goleiro, que conheceu na Europa um estilo diferente de treinar e jogar.No período em que WR foi para o Japão e Renan fez o caminho de volta ao Brasil, Edson estava em território brasileiro e iniciava, em Natal, a recuperação de uma cirurgia de ligamentos cruzados do joelho esquerdo. Edson havia passado pela primeira experiência no futebol árabe. Jogou em bom nível no Al Qadisiya e morou em Al Khobar, uma das principais cidades da Arábia Saudita. Ficou no mundo árabe de setembro de 2020 a abril de 2021.Na experiência internacional, Edson se adaptou aos treinamentos diários geralmente à noite, por causa do calor na Arábia Saudita. Mas se ajustou à realidade local e garante que gostou bastante da cultura, apesar de dificuldades com a língua - aprendeu um pouco de inglês, mas não o suficiente para se comunicar no exterior.Em algumas situações, sem um tradutor, dependia da mulher, Ariana, que tem melhor domínio do inglês. Mas ele se define como uma pessoa de fácil adaptação às situações diferentes e conseguiu viver em Al Khobar.De volta ao Atlético-GO, Edson assimilou nova carga de trabalho no CT do Dragão. A preparação dele, desde o início do ano, se deu para que se recuperasse por completo da lesão e do procedimento cirúrgico no joelho, assim como para readquirir a condição física exibida na primeira passagem pelo clube, de janeiro a setembro de 2020.No início de fevereiro, Edson reviveu a sensação de estar em campo novamente num jogo oficial após dez meses. Quando se machucou, no dia 10 de abril de 2021, em jogo da Liga da Arábia Saudita, houve a mudança inesperada de planos dele, da mulher Ariana e do pequeno Edson Filho. O jogador voltou ao Brasil para fazer a cirurgia em Natal e, na sequência, iniciar a recuperação clínica e física. Em fase mais avançada da reabilitação, treinava no CT do ABC.Distanciamento da família, treinos à noite e filha nascida no exteriorQuando recebeu a proposta irrecusável de empréstimo ao V-Varen Nagasaki, em março do ano passado, Wellington Rato deixou Goiânia no auge da forma física e técnica. Voltou ao Rio, mas teve de esperar autorização para entrar no Japão, por causa do rigoroso controle sanitário exercido por aquele país por causa da pandemia do coronavírus.Esperou em casa, até o dia 21 de abril de 2021, aguardando a liberação do governo japonês para a entrada de jogadores brasileiros. Ao chegar a Nagasaki, foram mais 14 dias de quarentena, mas o jogador se exercitava em casa, na esteira.Quando liberado para treinar com o elenco do novo clube, Wellington Rato diz não ter tido tantas dificuldades, mas viver sem a presença da família - da mulher, Luana, e do filho, João Lucas - durante cerca de cinco meses foi o maior desafio dele. “Minha vida era de casa para o treino e dele (treino) para casa. Mas gostei muito”, cita o jogador. Os familiares só foram liberados para entrar no Japão em setembro. Eles e Rato gostaram muito da experiência e da vida em Nagasaki.Sobre a readaptação ao futebol brasileiro, Rato mostra desenvoltura. É destaque do Dragão no Goianão. “Por lá (Japão), era um futebol muito corrido. Aqui, é mais tático, você lê mais o jogo, tem mais tempo para respirar. No Japão, era muito bate e volta”, comparou. Segundo ele, a readaptação tem passado muito pela evolução física. “Tenho buscado evoluir na preparação física para me ajudar nos treinos de força, pois eles ajudam bastante. Lá (Japão), não havia treinos na academia, de força e de transição”, disse.Para Edson, a readaptação passou pela recuperação física e clínica completa da cirurgia no joelho esquerdo. Houve a preocupação da cicatrização completa da cirurgia, realizada no dia 4 de maio.No futebol árabe, Edson assimilou novos horários de treinos - geralmente à noite ou um pouco mais cedo, às 17 horas, quando a temperatura era amena. Ele e a família moravam num condomínio de estrangeiros. Por causa do calor, os aparelhos de ar condicionado são itens essenciais nas casas.Camisa 5 do Al Qadisiya, Edson viu a mudança tática do time com a presença dele em campo. A equipe deixou de fazer a transição direta, da defesa ao ataque. Passou a valorizar mais a posse de bola. “Eu pedia para jogar curto, com a posse de bola. Os jogadores foram acreditando nisso”, afirmou.Na passagem de Renan pela Bulgária, nasceu Isabela, uma das filhas do goleiro. Em julho, decidiu pela volta ao Brasil para criar a família, mas elogiando a experiência no país europeu, mesmo que tivesse de passar por situações atípicas, como treinar no frio usando três camisas de manga comprida, calça térmica e gorro.O goleiro diz ter aprendido muito, tecnicamente falando, porque trabalhava muito a reposição de bola com os pés, se exercitava no treino “um contra um” e na chamada “saída em x”, na qual o goleiro tenta diminuir os espaços do adversário com o uso do corpo, das mãos e dos pés.Assim que voltou ao Rio, Renan passou a treinar numa academia para goleiros. No Dragão, precisou entrar no ritmo forte de treinos. Renan afirma que está se sentindo bem e espera adquirir ritmo de jogo com a sequência das partidas. Tem se revezado no time com Luan Polli.