O mercado japonês foi um dos alvos da diretoria do Goiás na construção do elenco para 2022. O clube esmeraldino buscou três reforços no extremo oriente. A diretoria contratou o atacante Pedro Raul, por empréstimo, junto ao Kashiwa Reysol e aproveitou que o lateral direito Maguinho, ex-Yokohama FC, e o meia-atacante Luan, que atuava pelo V-Varen Nagasaki, ficariam livres de contrato.Maguinho foi o que mais tempo viveu no Japão. Apesar das diferenças culturais e do idioma, o lateral disse que não teve muitos problemas para se adaptar, pois contou com apoio e estrutura dos japoneses.“Minha adaptação foi a melhor possível porque fui para o maior clube do Japão, que oferecia a melhor estrutura possível para um atleta chegar. Devido à dificuldade do idioma, nós sempre éramos acompanhados pelos tradutores. Isso facilitou bastante. Fiquei três anos muito bem adaptado ao país”, comentou o lateral.O atacante Pedro Raul chegou ao futebol japonês em 2021 para atuar no Kashiwa Reysol, com quem ainda possui vínculo contratual. O jogador, de 25 anos, explicou que um dos maiores problemas encontrados foi morar longe de casa em meio à pandemia. No entanto, disse que a adaptação ao Japão foi facilitada porque sua equipe tinha muitos jogadores brasileiros.Além de Pedro Raul, o Kashiwa Reysol contava com o zagueiro Emerson Santos, os meias Richardson, Matheus Sávio, Dodi e Rodrigo Angelotti, além do atacante Cristiano.“Minha adaptação até que foi rápida, tive de fazer uma quarentena de 15 dias, que foi a única parte difícil da minha adaptação lá. Quando voltou à vida normal, foi tranquilo, pois o clube tinha muitos brasileiros”, disse.Em sua chegada ao Goiás, o meia-atacante Luan explicou que sofreu um pouco para se adaptar ao Japão. No entanto, a diferença cultural na sociedade nem foi a maior dificuldade. De acordo com o jogador, a mentalidade dos treinadores japoneses, tanto na prática do jogo como em situações de vestiário, é o que pesava para deixá-lo infeliz no Japão.Os três jogadores optaram por sair de um mercado que paga bons salários e em dólar, o que é uma vantagem atualmente com a fragilidade da moeda brasileira. No entanto, os atletas acreditam que outros fatores são mais determinantes do que o financeiro para que fizessem a escolha de trocar o futebol japonês pelo brasileiro.“O salário é muito importante para o jogador, mas, em questão de projeção de carreira, às vezes, você tem de abrir mão de receber um pouco mais agora para receber mais no futuro. Era essa minha intenção”, explicou o atacante Pedro Raul.O caso de Maguinho é um pouco diferente e conta com um desejo pessoal relacionado ao currículo como jogador. O lateral direito, de 30 anos, assinou contrato de três anos com o Goiás e aceitou a oferta pela oportunidade de disputar a 1ª Divisão do futebol brasileiro pela primeira vez na carreira.“Sempre tive o sonho de jogar uma Série A, então tive a oportunidade de voltar ao futebol brasileiro para um grande clube que vai me dar essa oportunidade. Claro que tem situações pessoais, mas a oportunidade de jogar no Goiás foi fundamental”, salientou o lateral direito, que enfatizou que a questão salarial não é sempre a mais importante, apesar de ter seu peso.Luan também projetou um retorno ao futebol brasileiro como uma questão pessoal. De acordo com o meia-atacante, seu desejo é demonstrar que pode jogar em alto nível no futebol brasileiro, discurso que repetiu na última quinta-feira (24) quando fez sua estreia com a camisa do Goiás na vitória sobre o Anápolis, por 1 a 0, no Estádio Jonas Duarte.Financeiro já não é tão decisivo para jogar no JapãoO futebol brasileiro teve papel de protagonismo para o desenvolvimento da liga japonesa nos anos 1990. Grandes craques como Zico, Toninho Cerezo, Leonardo, Dunga, Bebeto, entre outros, foram nomes que elevaram o nível do futebol no país.Hoje, os atletas que trocam o futebol brasileiro pelo japonês não são os mais badalados. No entanto, o Brasil ainda é visto pelos japoneses como referência neste esporte. “O Brasil é visto como o país do futebol e, na história da J-League, os estrangeiros de maior sucesso foram e são brasileiros. Hoje, alguns clubes até optaram por contratar europeus e asiáticos, mas o Brasil ainda é a primeira opção para a maioria dos clubes”, explicou Alexandre Aki, que é agente registrado e credenciado no Japão, na JFA (Japan Football Association).Apesar da distância, os clubes japoneses lançam mão de ferramentas tecnológicas para mapear o futebol brasileiro em busca de talentos que possam servir aos clubes. De acordo com Alexandre Aki, há também a dinâmica de viagens ao Brasil para conhecer de perto os jogadores que são alvos no mercado, embora a pandemia tenha atrapalhado esse processo nos últimos dois anos.“Hoje, a maioria dos clubes tem os scouts e analistas que ficam monitorando os campeonatos brasileiros e estaduais através da ferramenta Wyscout e InStat. Conforme a necessidade do clube e possível interesse, eles procuram puxar o máximo de informações possíveis e, havendo real interesse, vem esse scout ou o diretor técnico para o Brasil ver dois ou três jogos, ao vivo, conhecer pessoalmente o atleta e o representante para tentar concretizar a contratação”, explicou.Muito discrepante no passado, a fator financeiro hoje já não é tão decisivo para a ida de jogadores brasileiros ao Japão, uma vez que os clubes brasileiros da 1ª Divisão conseguem competir, algumas vezes, com os salários pagos no Japão.No entanto, outros fatores pesam nessa balança quando os brasileiros decidem fazer essa mudança para o outro lado do mundo. “É mais seguro por ter a certeza do pagamento em dia e que o acordado não terá mudanças. Com o dólar alto hoje, acaba sendo um atrativo na questão financeira e segurança familiar”, frisou Alexandre Aki, que trabalha neste mercado há 26 anos.Brasileiros na 1ª Divisão do futebol japonêsYokohama Marinos: 5 brasileiros (16,7%)Kashima Antlers: 5 brasileiros (16,1%)Shimizu S-Pulse: 5 brasileiros (14,7%)Kashiwa Reysol: 5 brasileiros (13,9%)Gamba Osaka: 4 brasileiros (13,3%)Kawasaki Frontale: 4 brasileiros (13,3%)FC Tokyo: 4 brasileiros (12,1%)Nagoya Grampus: 3 brasileiros (10,3%)Consadole Sapporo: 3 brasileiros (9,7%)Sanfrecce Hiroshima: 3 brasileiros (9,7%)Avispa Fukuoka: 2 brasileiros (6,9%)Júbilo Iwata: 2 brasileiros (6,5%)Cerezo Osaka: 2 brasileiros (6,2%)Vissel Kobe: 1 brasileiro (3,6%)Kyoto Sanga: 1 brasileiro (2,9%)Shonan Bellmare: 1 brasileiro (2,9%)Sagan Tosu: 1 brasileiro (2,8%)Urawa Reds: sem brasileiros (0%)