A história do clássico entre Vila Nova e Goiás não começou no Serra Dourada, mas foi no principal palco do futebol goiano que o duelo entre esmeraldinos e colorados chegou ao período de glória e de certa maneira ajudou a construir o legado do estádio, que completa 50 anos neste ano. Para muitos, a imagem do clássico tem o estádio como palco. É desta maneira que personagens dos rivais criaram lembranças, boas e ruins, de clássicos.Desde o primeiro clássico registrado em 1943, Vila Nova e Goiás jogaram por 32 anos no estádio Olímpico. A partir da inauguração do Serra Dourada, em 1975, o estádio foi o local em que os rivais mais se enfrentaram, com 219 partidas.O primeiro clássico teve a presença do ex-atacante Guilherme, que jogou pelo Vila Nova e é um dos principais ídolos do clube colorado. Ele já era um atleta consolidado quando o Serra Dourada foi inaugurado no dia 9 de março de 1975. O primeiro clássico contra o Goiás, o único do vilanovense no palco, foi disputado dez dias depois da inauguração - o sexto jogo registrado na história do estádio.“O Olímpico sempre ficava cheio nos clássicos, mas, quando jogamos a primeira vez no Serra Dourada, eu me impressionei porque foram cerca de 40 mil pessoas. Era muita gente. Pena que hoje não enche mais. Não lembro direito como foi o jogo, mas a rivalidade com o Goiás cresceu quando o Serra foi inaugurado”, comentou Guilherme, que está com 78 anos.A história do estádio tem destaque na história de Vila Nova e Goiás por diversos fatores, um deles pelo número de conquistas. Vários títulos das equipes foram conquistados no Serra Dourada. Alguns deles com clássicos entre esmeraldinos (1989, 1994, 1998 e 2017) e colorados (1978, 1982, 1993, 2001 e 2005).“Quando eu cheguei no Goiás, já peguei a época que a rivalidade entre Goiás e Vila Nova era a principal do Estado. Joguei de março de 1987 a março de 1994 no Goiás e enfrentei muitas vezes o Vila Nova. Joguei no Serra Dourada no título de 1989 com 70 mil pessoas no estádio. A sensação do estádio cheio é única. A final de 1993 foi a única que perdi pra eles”, recordou o ex-atacante Niltinho, que também jogou o clássico pelo lado colorado e não tem boa lembrança.Niltinho jogou pelo Vila Nova em 1996. O Campeonato Goiano teve três turnos (Copa Pepsi, Copa Antártica e Copa TVA). No final do 1º turno, o Goiás venceu o clássico por 2 a 1 e garantiu vaga no triangular final.“Eu comecei no banco e entrei faltando 15 minutos para acabar, já estava 2 a 1. O treinador (Osmar Guarnelli) me colocou para jogar de lateral direito. Fiz uns três cruzamentos, sofremos uma pressão grande do Goiás e não empatamos. No dia seguinte, me apresentei e pediram para eu conversar com a diretoria. Eles rescindiram o contrato, mandaram treinador embora e emprestaram muitos jogadores. Fizeram um limpa geral depois do clássico”, contou Niltinho, que está com 59 anos e é comentarista esportivo.Um dos jogadores que os torcedores do Goiás não esquecem quando pensam no clássico contra o Vila Nova é o ex-atacante Dill, que hoje está com 50 anos. O esmeraldino foi criado na base do clube alviverde e fez sua carreira sendo destaque em clássicos contra o Tigre.Apenas como profissional, Dill marcou 12 gols contra o Vila Nova (o número é do jornalista Fernando Lima, assessor do Goiás). O ex-atacante disse que não lembra de ter atuado em outro local que não tenha sido o Serra Dourada em clássicos.“É um estádio muito especial para mim. Eu particularmente vivi muito o clássico no Serra. Não tinha clássico na Serrinha. Era bem diferente de agora, levava muito público. Antigamente, tinha preliminar e tinha 10 mil torcedores no estádio”, citou Dill, que acrescentou que sempre teve “muita sorte contra o Vila Nova” e acredita que sua carreira deslanchou por causa dos bons desempenhos diante do Tigre - ele jogou na França, Portugal, São Paulo, Botafogo e Flamengo, por exemplo, na sequência da carreira.“Eu tenho noção do que é jogar esse clássico. Cresci enfrentando o Vila Nova, do júnior ao profissional. O clássico me colocou em pauta. O ano de 1994 foi marcante, meu primeiro título (goiano) foi no clássico, com uma assistência para o Baltazar. Tive muitas vitórias e sempre será um jogo marcante para mim”, acrescentou Dill.Nos últimos anos, com a rotatividade de atletas nos clubes, poucos jogadores criaram tanta identificação com o clássico entre Vila Nova e Goiás como o ex-meia Alan Mineiro. Pelo Tigre, o colorado jogou sete clássicos e marcou cinco gols. Ele é conhecido entre os vilanovenses como o “Rei dos Clássicos”.“Todos os dias alguém me chama de Rei dos Clássicos. Quando tem semana de clássico, meu instagram não para. É torcedor do Vila me mandando direct falando que queria me ver em campo, o torcedor do Goiás me provoca. É um reconhecimento por tudo que fiz. O trabalho pode não ter sido perfeito, mas foi bem feito. Gosto do carinho do torcedor do Vila Nova”, frisou Alan Mineiro, de 38 anos, que voltou a morar em Goiânia e abriu uma escolinha de futebol (AM10 Academy, no Parque Atheneu).“Eu sou fã número 1 do Serra Dourada, a maioria dos meus gols pelo Vila foi no Serra Dourada. Eu gostava muito da atmosfera. É o palco do futebol goiano, é o estádio com a cara do clássico”, completou o ex-jogador, que cita o clássico do dia 24 de junho de 2017 como o mais especial da sua carreira. Ele marcou dois gols no duelo disputado no Serra Dourada.