Nas últimas entrevistas coletivas, o técnico do Atlético-GO, Rafael Lacerda, se diverte quando algum repórter cita a questão da “ofensividade” para definir as vitórias do time comandado por ele na Série B. No último domingo (5), o Dragão foi avassalador e, mesmo sem três titulares – o lateral Dudu, o volante Luizão e o atacante Lelê – soube se impor para aplicar a goleada (3 a 0) sobre o Athletico-PR.O treinador abre um sorrisão sobre a mudança de patamar, dele e do time rubro-negro, no returno da competição. “É legal ouvir a palavra ofensividade”, disse, após os 3 a 0 sobre o Furacão, no Accioly.No primeiro semestre, Rafael Lacerda ganhou no Vila Nova a fama de “retranqueiro”, mesmo tirando o clube da fila que completaria 20 anos sem títulos do Estadual. Pode-se dizer que o treinador é pragmático.Isso pode ser percebido no trabalho e nos resultados dele. Foi por isso que, também numa entrevista, o treinador tentou explicar os conceitos técnicos e táticos que passou a empregar nos clubes em que trabalhou em seis anos de carreira. O vídeo da entrevista viralizou nas redes sociais.Rafael Lacerda vem da escola gaúcha, uma das mais organizadas e respeitadas do futebol brasileiro. Basta lembrar que, no século 21, a maior parte dos técnicos da seleção brasileira nasceu no Rio Grande do Sul: Dunga, Mano Menezes, Tite (nas duas últimas Copas) e Luiz Felipe Scolari (pentacampeão em 2002, mas duramente derrotado na goleada de 7 a 1 para a Alemanha, na semifinal do Mundial de 2014, no Brasil).“De onde venho, ‘retranqueiro’ é sinônimo de organização, é organização defensiva”, rebateu o treinador no vídeo. Então, explicou que, ao chegar no Vila Nova, foi cobrado por três objetivos: não perder clássicos, não perder do Paysandu (o time foi goleado na final da Copa Verde, por 6 a 0 e 4 a 0) e ganhar o título do Goianão. As metas traçadas foram cumpridas. Por isso, fez questão de expor o ponto de vista sobre futebol.No Vila Nova, o sistema ofensivo não era letal no ciclo de Lacerda. Ele conseguiu levar o clube ao título do Estadual com goleada (3 a 0) sobre o Anápolis no jogo final, com os três gols marcados no segundo tempo, quando a situação parecia difícil de ser revertida. Antes, no começo do Goianão, o time foi primoroso e impiedoso, abrindo três gols sobre o Atlético-GO no Accioly – o placar final foi 3 a 1.Rafael Lacerda explicou que, entre as concepções de trabalhando, costuma formar as equipes conforme aquilo que “tem na mão”. Mas, partindo da resposta dada por ele, o treinador se preocupa com a organização defensiva, um princípio usado pela maioria dos técnicos.Quando Rafael Lacerda chegou ao Atlético-GO, foi possível ver a fragilidade defensiva do time, goleado logo na estreia dele pelo Operário-PR, em Ponta Grossa-PR (3 a 0). No jogo seguinte, o Dragão o conseguiu empatar (0 a 0) com a Chapecoense. O técnico começou a moldar o Atlético-GO. Disse que não abre mão do “ambiente” e, aos poucos, resgatou isso no Dragão. O elenco atual tem uma energia diferente e passou a assimilar os conceitos de Lacerda. Ele tem usado as peças conforme o jogo exige. Em alguns jogos, escalou um trio de zagueiros, descolando o versátil volante Luizão para as laterais. Em outras partidas, arriscou terminar com Maranhão e Lelê juntos no ataque, mas foi possível perceber que o time perdeu velocidade.Do ponto de vista ofensivo, Lacerda conseguiu encontrar o melhor espaço de atuação do uruguaio Federico Martínez, mais aberto e como segundo atacante. No outro lado, apostou no jovem Yuri Alves, de 19 anos e que, mesmo inexperiente, vai se firmando no time. Lelê fez quatro gols, mas ainda não conseguiu superar os goleadores da fase anterior do elenco: Marcelinho e Caio Dantas, ambos com sete gols cada um.Nas mexidas, Lacerda também recuperou jogadores como Guilherme Romão – cotado para ser negociado, virou capitão e uma referência ofensiva -, deu moral ao criticado Talisson (participou de gols nos últimos jogos), soube encaixar Jean Dias na lateral direita e não teve dúvidas ao escalar o zagueiro Tito na defesa, assim que foi contratado junto ao Maringá-PR e com poucos treinos no Dragão. Rafael Lacerda ajustou o Atlético-GO, que não tem marcado tantos gols na temporada atual, mas que resgata a intensidade. Os números são 16 gols em 13 partidas sob a direção de Lacerda. A equipe está há oito jogos sem derrota e tem a perspectiva de brigar pelo acesso.