A contratação de um técnico estrangeiro para comandar a seleção brasileira divide opiniões e a discussão está mais forte após o fim da Copa do Catar. O nome mais citado após a saída de Tite é do italiano Carlo Ancelotti, hoje no comando do Real Madrid. Para analistas consultados pelo POPULAR, ainda há resistência quanto ao acerto com um profissional do exterior, mas há também a constatação de que nunca houve uma proximidade de acerto tão grande como agora.Isso ocorre, além da globalização do futebol, por causa do sucesso recente de treinadores estrangeiros no futebol brasileiro: Abel Ferreira (Palmeiras), Jorge Jesus (Flamengo) e Vojvoda (Fortaleza) são exemplos. Mas não há, tão forte como em anos anteriores, uma possibilidade de choque cultural em relação ao jogo.Ideias de futebol, questões táticas e gestão no dia a dia nos clubes são situações que o futebol brasileiro já está acostumado por causa do sucesso de técnicos do exterior no Brasil.“O próprio Tite tem ideias bastante europeias sobre o jogo, tanto em filosofia quanto em métodos de treinamento e abordagens para os jogos. Os atletas, evidentemente, estão mais acostumados com a cultura europeia do que brasileira quando falamos de futebol. Nesse sentido, não há preocupação”, falou o jornalista Gabriel Dudziak, comentarista da Rádio Globo CBN.A CBF não deve se prender a respeito de uma “escola de futebol”. Técnicos portugueses, por exemplo, são considerados primeiras escolhas para clubes brasileiros no atual momento do futebol. Em Portugal, porém, é possível encontrar treinadores que fazem trabalhos que valorizem a posse de bola, outros que adotem o jogo reativo e quem tenham a mescla dos dois estilos.A impressão que fica, por parte da opinião pública e da falta de clareza da CBF, é que busca-se uma escola vitoriosa.“Me parece que não se trata de uma escola portuguesa, por exemplo, mas sim de ganhar. Se estivéssemos em 2020 se falaria de Renato Portaluppi e se fosse 2021, seria o Cuca. Infelizmente, a escola que o brasileiro e a CBF procuram é a escola ‘vencedora’, como se ela pudesse existir. Há um debate mais profundo sobre isso. Ele contrapõe identidade nacional com globalização. O orgânico com o artificial. A essência com o condicionamento. Infelizmente, ele está longe da nossa realidade aqui”, citou Gabriel Dudziak.O estilo de Carlo Ancelotti, que é italiano, está longe de ser defensivo, como por anos o futebol italiano foi conhecido. No Real Madrid, velocidade, posse de bola, variações táticas e futebol ofensivo integram o trabalho do experiente treinador.“Diante da globalização e da universalização do que se pratica em campo, avaliar escolas de futebol está complicado. Não se trata disso, e sim de aprimorar ainda mais os métodos”, opinou o jornalista do Sportv, Alexandre Lozetti.Parte da resistência é externa, mas de envolvidos com o futebol, como treinadores, ex-jogadores e parte da mídia. “O que existe explicitamente é a resistência da comunidade do futebol brasileiro. A CBF é um enigma. O choque que existe dentro da entidade nos últimos anos é moral, não cultural. O futebol de elite está globalizado e, dentro disso, cultivar algum brasileirismo na seleção é um desafio para qualquer treinador, nativo ou estrangeiro”, complementou Alexandre Lozetti. -Imagem (1.2583449)