Apesar de todas as vantagens e benefícios listados por treinadores e corredoras, a trail run, como qualquer outra modalidade esportiva, exige alguns cuidados. Por se tratar de uma atividade ao ar livre, a segurança aparece no topo da lista, mas também há as questões de hidratação, alimentação e preparo físico.

“Esportes na natureza requerem estudo, planejamento e transformação. Você precisa saber de condições meteorológicas, alimentação e hidratação antes, durante e depois da corrida. Precisa entender um pouco sobre primeiros socorros, equipamentos necessários de vestimenta e calçados, além de tecnologias de geolocalização para saber onde ir e como voltar. Já imaginou levar uma picada de abelha no meio da trilha e não ter como resolver? Não vai ter farmácia no meio do mato”, ponderou o educador físico Ricardo Oliveira.

O treinador Lucas Matheus ressaltou que somente carregar suprimentos não será suficiente se a pessoa não se preparar minimamente para isso, porque a trail run possui uma característica de terrenos difíceis. Segundo ele, muitas pessoas estão correndo risco de vida se encararem o desafio sem preparação adequada.

“Uma das principais características do trail run são provas com grandes ganhos de elevação, consequentemente uma grande variação de temperatura e locais de difícil acesso. Para isso, mochilas específicas são fundamentais e quase sempre obrigatórias, com itens básicos de sobrevivência”, afirmou.

Sobre a vestimenta, Lucas Matheus destacou a importância de usar um tênis específico com “cravinhos” que dão aderência para qualquer tipo de terreno. Além disso, é importante carregar mochila com suporte para garrafas de água ou outras bebidas, apito, manta térmica, alimentos e bastão de apoio. Em competições, muitos desses materiais são obrigatórios, mas sempre vai depender das exigências de cada prova.

Ricardo Oliveira acrescentou que, quanto às roupas, o clima deve ser levado em consideração. De acordo com ele, pode ser que na base de uma montanha esteja quente e com sol, e depois na altitude elevada haja muito vento e chuva. Portanto, o corredor precisa carregar consigo capa de chuva, boné, jaqueta corta vento e, a depender do local, luvas e lanterna de cabeça.

Sobre a parte nutricional, Ricardo orienta alimentos que forneçam energia de forma rápida durante a corrida, podendo ser batata cozida com sal, gel de carboidrato, azeitonas para dar um sabor de sal ao paladar, doces como rapadura, paçoca, doce de leite, além de isotônicos e bebidas com eletrólitos. O ideal é consultar-se com um nutricionista, especialmente para quem quer percorrer distâncias a partir de 20 km.

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O QUE LEVAR PARA FAZER TRAIL RUN

Mochila

Garrafas d’água

Alimentos e/ou suplementos

Kit de primeiros socorros (esparadrapo, gaze, pinça, antisséptico, antialérgico, analgésico, corticoide, soro fisiológico em pó)

Relógio ou celular com GPS

Apito

Jaqueta corta vento

Tênis com travas

Capa de chuva

Boné

Bastão de apoio

Manta térmica

Luvas e lanterna de cabeça (dependendo do local)

DICAS IMPORTANTES

Preparar-se fisicamente

Consultar-se com nutricionista

Avisar pessoas de confiança sobre onde e quando vai treinar

Evitar treinar sozinho por questões de segurança (especialmente para mulheres)

Consultar previsão meteorológica e usar roupas adequadas ao ambiente em que vai correr

Trail run exige cuidados; veja o que levar na mochila e como se preparar

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Corre que dá

Em Goiânia e no estado de Goiás, as oportunidades para a prática do trail run existem, apesar de limitadas por causa das características geográficas da região, mas é possível encontrar vários destinos. Na capital, a Trilha do Laboratório, no Paço Municipal, é um importante ponto de encontro. Nas demais cidades, Pirenópolis é um destino recorrente.“O treinamento em Goiânia é um pouco mais desafiador, sem muitas opções para treinos específicos, mas para manter uma rotina de treinos é totalmente acessível. Temos a disponibilidade de pequenas trilhas em parques dentro da cidade e também o Parque Altamiro de Moura Pacheco, com boas opções de trilhas. No estado, de modo geral, temos excelentes locais para treinos e provas e organização específica de provas trail no estado e também nos arredores, como Brasília e Mato Grosso”, contou o educador físico Lucas Matheus.Em Goiânia, a corredora Daiane Machado citou o Parque Areião, principalmente por uma questão de segurança em determinadas horas do dia. Lara Queiroz afirmou que o Areião “quebra o galho”, mas o percurso de terra é pequeno e plano. Ela concorda com Lucas Matheus que o Parque Altamiro, em Goianápolis, é uma ótima opção, e também citou outros locais.“No momento, eu treino trilha na fazenda de meus pais. É um local que conheço bem e me sinto segura. Tem outras trilhas em Goiânia, como a do Laboratório (perto do Paço Municipal), Trilha da Coxinha (em Bela Vista de Goiás) com terreno mais variado, subidas e descidas. Mas a questão da segurança influencia muito na escolha do local para fazer o treino”, disse Lara.Juliana Fernandes revelou que o local onde mais treina é a Trilha do Laboratório, por questão de logística e por ser um percurso difícil. Outros lugares citados por ela são a Serra das Areias e o Residencial Campos Dourados, ambos em Aparecida de Goiânia, além de rotas em Caldazinha e Bonfinópolis, por causa da altimetria. Para completar, a corredora define Pirenópolis como um “parque de diversões”.Na visão do treinador Ricardo Oliveira, em Goiânia o trail run vem crescendo e despertando a curiosidade de pessoas que já correm no asfalto e de pessoas que não gostam nada de asfalto, mas amam correr no barro.Além dos locais já mencionados, o educador físico citou a Trilha do Morro Feio, nas proximidades de Hidrolândia, como um destino agradável e bonito, apesar do nome contraditório. Ricardo Oliveira também contou que, neste ano, uma prova com três percursos (7 km, 17 km e 45 km, além de três provas para crianças) foi realizada no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas. Para ele, o mais interessante foi levar pessoas que nem sabiam da existência do local, que tem entrada gratuita todos os dias da semana.“Nosso estado de Goiás tem muito potencial para essa modalidade esportiva que pode incentivar ainda mais o esporte e o turismo juntos. Temos potencial na Chapada dos Veadeiros, Pirenópolis e mesmo municípios não tão estabelecidos no ramo turístico, mas que tenham boas opções de trilhas e certamente podem despertar o interesse dos corredores de trail run”, falou.

Onde praticar trail run em Goiás: capital tem trilhas acessíveis e Pirenópolis é "parque de diversões"

Além dos cuidados inerentes à prática de trail run, a parte da segurança surge como um problema, sobretudo para mulheres. Todas as três corredoras entrevistadas nesta reportagem ressaltaram essa parte negativa da trail run, que não tem a ver diretamente com a prática esportiva.“O maior desafio, infelizmente, extrapola o esporte em si: é a questão da segurança relacionada ao gênero. A escassez de lugares seguros para mulheres treinarem é uma barreira real, que limita nosso acesso aos lugares e inviabiliza nossa prática mais constante. E, se considerarmos as opções de trilha na cidade de Goiânia, esbarramos em mais um obstáculo: a limitação quantitativa de locais adequados à prática”, disse Daiane Machado.Lara Queiroz ecoou a mesma opinião. “O meu maior desafio é ter uma trilha segura em Goiânia para treinar. Por ser mulher, fico muito receosa por conta da questão da violência e assédio a mulheres. Tem a questão do horário também, que afeta diretamente a segurança. Sinto necessidade de alguma companhia para me sentir mais segura para fazer o treino na trilha”, admitiu.Juliana Fernandes também contou que, como mulher, fica insegura de treinar em alguns lugares sozinha. Segundo a própria, ela já se acostumou com isso e gosta de correr sozinha, mas reconhece que pode ser perigoso dependendo do lugar em que vai. É uma reclamação de várias colegas dela. Além disso, ela também citou a questão financeira como um potencial problema da trail run.“Não faço tantas provas por falta de condição financeira, principalmente, porque as provas de trail run são mais caras e requerem todo um deslocamento. Gosto mesmo de montanha, então aqui por perto (de Goiânia) não tem tantas provas de longa distância. É uma experiência incrível de desafio próprio. Gosto de dar o meu máximo. Se eu ganhar de alguém, ótimo, mas a intenção é ganhar de mim mesma.”

Corre que dá: corredoras têm segurança como preocupação para praticar trail run

No universo da corrida, uma das modalidades é a “trail run” ou corrida de trilha, que se diferencia de outras mais convencionais por causa de sua aura aventureira. Na série especial Corre que Dá, o POPULAR mergulhou no universo da modalidade para conhecer a prática e os cuidados e locais para correr com segurança e diversão.

O profissional de Educação Física Lucas Matheus, de 37 anos, natural de Goiânia, trabalha na Assessoria Esportiva Ventureli e teve a sua primeira experiência no trail run em outubro de 2019, na Chapada dos Guimarães (Mato Grosso). Segundo ele, trata-se de uma prática esportiva que tem como características principais os terrenos naturais e grandes altimetrias em uma modalidade mais técnica com um senso de autossuficiência e comunidade.

“O trail run é uma modalidade de corrida em terrenos naturais, em montanhas, morros, florestas e terrenos irregulares, todos com uma conexão com a natureza. Às vezes em trilhas estreitas (single track), outras vezes em locais abertos, estradão de terra, terreno com muita pedra, pequenas ou gigantes”, contou Lucas.

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Segundo o treinador, ao contrário do que muitos pensam, o treinamento de trail run não é feito totalmente fora do asfalto, pistas e até mesmo de esteiras. Existe uma estratégia de preparação para condicionamento, preservação articular e desgaste muscular.

O educador físico Ricardo Oliveira, de 45 anos, nascido em Brasília e que mora em Goiânia há 14 anos, é atleta de trail run há quatro anos e já participou de provas de 16, 22, 35, 43, 58 e 75 km. Como treinador específico da modalidade, desempenha a função há dez meses. Ele acrescentou que normalmente as provas envolvem distâncias para iniciantes, intermediários e até as ultramaratonas com provas de 7, 15, 28, 35, 55, 75 e as famosas 100 milhas (cerca de 160km).

Ricardo explicou que, na corrida de trilha e montanha, o pace - medida de quanto tempo você leva para percorrer 1 km - não é o mais importante. Segundo o treinador, o pace até importa, principalmente para quem está competindo pelos primeiros lugares no pódio, mas, diferentemente de uma prova de corrida em asfalto, o pace no trail run é muito mais variado.

“Para uma corrida de trail, você precisa estudar o percurso, saber quantos metros terá de subida, se terá areia, rochas, córregos para atravessar e tudo isso vai interferir no seu pace. Se pegarmos o mesmo corredor que cravou um pace de 5min/km nos 10km de asfalto, na trilha ele terá momentos de pace de 5, mas, se pegar uma subida muito íngreme, pode ser que seu pace vá para 8, depois em uma descida rápida, ele passe para um pace de 4”, elucidou.

Daiane Machado, de 42 anos, é de Anápolis e sempre gostou de fazer trilhas. A sua formação em Biologia a fez se apaixonar ainda mais por essa atividade. Em 2016, ela começou a praticar corrida de rua e eventualmente fazia trilhas, como na parte interna do Parque Areião. Em 2020, em meio ao isolamento social, a trilha passou a ser mais constante e ela logo se inscreveu para a primeira prova na modalidade.

“A sensação de liberdade, o desafio técnico do terreno e a imersão total no ambiente natural fizeram com que o trail run se tornasse uma paixão. Desde então, as corridas em trilha sempre estão presentes no meu planejamento anual”, destacou a funcionária pública.

De lá para cá, Daiane participou de provas em Cocalzinho, com a oportunidade de subir o Pico dos Pirineus. “Chegar no topo e ser presenteada com aquela vista é uma das sensações mais gratificantes que já vivi”, ressaltou. Recentemente, ela correu a etapa da UTMB Brasil na cidade de Paraty (RJ).

“Foi intenso, desafiador em muitos sentidos e absolutamente inspirador. Acho que, no geral, no trail, cada passo e cada subida te exigem físico e mente de uma forma mais intensa. Mas é justamente isso que torna a experiência tão única e especial. Correr em lugares de natureza intocada, longe do concreto, é um convite à conexão com a nossa ancestralidade”, descreveu Daiane.

A publicitária goianiense Lara Queiroz, de 40 anos, conheceu a trail run há cerca de dois anos. A paixão por trilhas e o contato com a natureza foram os principais atrativos. Após participar de uma prova em Cocalzinho no ano passado, amou tanto a experiência que começou a entrar mais neste mundo da trail run.

“A maior recompensa é o prazer que o contato com a natureza nos proporciona. O bem-estar, a saúde tanto física quanto mental. Também corro muito no asfalto, mas é na terra que eu de fato descanso a mente. Outra coisa muito boa que o trail me proporciona são as amizades que fui fazendo ao longo dos treinos e nas provas”, disse.

Assim como Daiane, Lara participou da UTMB Brasil em Paraty, que aconteceu em setembro deste ano. Para 2026, a publicitária já marcou em seu calendário quatro provas diferentes de trilha.

Enquanto Daiane e Lara estão imersas no universo da trail run há relativamente pouco tempo, a empreendedora goianiense Juliana Fernandes, de 44 anos, começou a praticar a modalidade entre 2011 e 2012. Ela decidiu se arriscar na corrida de aventura e passou pelo triatlo antes de chegar na trail run.

“Em certo momento, quis me desafiar e entrar no mundo da corrida de aventura. Você recebe um mapa, tem pontos determinados para passar, usando apenas o mapa e bússola. Provas em equipe, geralmente de quatro pessoas. Comecei a treinar em todas as modalidades, inclusive a corrida em trilha”, contou.

Multiatleta, com experiência no mountain bike, no remo e, principalmente, na escalada, Juliana participou de provas internacionais, como o Circuito Mundial, fez duas vezes os 80 km na corrida de trekking La Mision e correu em lugares como Pirenópolis, Brasília e países como Chile, Argentina e no arquipélago espanhol das Ilhas Canárias.

Para Juliana, a maior recompensa do trail run é o contato com a própria religiosidade e com a natureza, em um momento de reflexão e introspecção. “Atualmente, treino para me manter mentalmente sã”, declarou a proprietária de uma marca de culinária saudável.

Corre que dá: conheça a modalidade trail run, que leva aventura e conexão à corrida

Correr

Em setembro deste ano, nasceu o projeto Corre Lento, que visa democratizar a prática da corrida em Goiânia e contemplar pessoas que não desejam viver o esporte de maneira competitiva, preocupando-se com tempo e velocidade. Em mais uma reportagem da série Corre que Dá, o POPULAR conta a história do grupo.

A equipe idealizadora do Corre Lento é formada por três pessoas: Pedro Victor Basílio, psicólogo de 28 anos; Vitória Silva, advogada de 28 anos; e Thatianne Carneiro, tatuadora de 29 anos. Apaixonados pelo esporte, eles chegaram juntos à ideia de criar um grupo que, em pouco tempo de existência, já alcançou a marca de 200 integrantes.

“O projeto começou primeiramente com a necessidade de criar um grupo de corrida que agregasse outros públicos. Goiânia tem pouquíssimos grupos de corrida, e os que já existiam eram mais voltados para uma galera mais elitizada. Então, surgiu essa necessidade de fazer um projeto de corrida gratuito de promoção de saúde para outros públicos, que não se enquadravam nos movimentos que já estavam acontecendo”, contou Pedro Victor.

Vitória acrescentou que a ideia era ocupar espaços da cidade e centros urbanos, para criar um senso de comunidade. O Corre Lento já passou por locais como Parque Flamboyant, Lago das Rosas, Setor Universitário, Setor Sul e, mais recentemente, pelo Setor Central.

De acordo com Pedro Victor, o movimento é uma construção grupal em que todos os integrantes têm participação ativa. Na última semana, por ideia de um dos participantes, o grupo topou fazer um trajeto que começasse no Mercado 74, no Setor Central, e terminasse no Lado Leste, no Setor Universitário.

“Temos sempre aberto para as pessoas que participam no grupo para elas direcionarem os lugares que não são ocupados, justamente para poder dar essa visibilidade”, falou Vitória.

A advogada contou que no Strava (aplicativo de esportes) o Corre Lento possui mais de 200 pessoas e que, no grupo de WhatsApp, são mais de 100. Além disso, a página no Instagram tem crescido. Os encontros costumam ter entre 40 e 50 pessoas, pois nem todo mundo que participa de uma corrida vai na outra.

Ricardo Guimarães, de 30 anos, que trabalha no cargo de controlador de equipe em uma empresa de energia, conheceu o Corre Lento por meio de Pedro Victor, que o incentivou a fazer alguma atividade, depois de passar um tempo parado. Ele não foi em todos os encontros, mas tenta marcar presença sempre que pode.

Mesmo assim, Ricardo falou sobre a relevância do projeto. “A importância é a inclusão de todo mundo porque não são todos que correm ou correm só pelo tempo. O projeto veio para incluir o máximo de pessoas, para ninguém ficar desconfortável de vir e falar que não dá conta”, disse.

Entre os integrantes, a maioria está na faixa de 20 a 30 anos, de acordo com Pedro Victor e Vitória. Os idealizadores contam que já houve uma criança de 10 anos correndo com eles, além de pessoas de mais de 50 anos. Vitória também contou que, em um dos encontros, uma idosa participou e frequentemente aparece alguém com um cachorro.

A intenção do Corre Lento é alcançar cada vez mais pessoas. A principal estratégia é se manter ativo nas redes sociais e contar com o crescimento orgânico, no “boca a boca”. Para atrair mais gente, o grupo costuma variar os encontros nos dias da semana, para dar mais oportunidades para quem não pode ir em dias específicos.

Apesar da preocupação de montar um projeto que não esteja focado em tempo e velocidade, os idealizadores pensam em participar de competições. Não com o objetivo de pódio ou sequer de RP (recorde pessoal), mas para passar um recado e mostrar que está tudo bem não conseguir o melhor “pace” - ou ritmo, no contexto da corrida.

“Já recebemos um convite para colaborar em prova de corrida, por exemplo, e tivemos esse debate. Levamos para o nosso grupo e pensamos: ‘será que isso vai afetar a nossa política, a nossa ciência, o nosso manifesto?’. Mas, ao mesmo tempo que nos deparamos com essa contradição ou até com algo que poderia ameaçar o senso de comunidade, chegamos à conclusão de que talvez isso também possa ser uma porta de entrada para as pessoas que desejam começar a correr mesmo”, explicou Vitória.

O Corre Lento busca a ideia de desaceleração em meio a um mundo conectado e corrido, pois os idealizadores acreditam - até por Pedro Victor ser um profissional de saúde mental - que a performance afeta diretamente a saúde. Por isso, eles consideram o projeto um movimento contracultural de se conectar com a cidade e com o próprio corpo, sem grandes exigências.

“Querendo ou não, ainda somos uma sociedade que mostra as coisas para os outros, é uma sociedade do espetáculo. E o projeto visa justamente tirar esse peso de uma performance. Às vezes, a pessoa quer começar a correr, mas não se considera um atleta, não tem velocidade suficiente. Esse foi o jeito que encontramos de nos comunicar com as pessoas. De falar que aqui as pessoas têm um espaço aberto para não se preocupar com performance, e sim para praticar uma atividade física. E a partir dessa atividade física, um coletivo, uma troca de ideia”, comentou Vitória.

Pedro Victor também complementou que, nos quase dois meses de funcionamento do projeto, um dos aspectos principais é que muitas pessoas estão saindo do sedentarismo.

“Só pelo fato de elas saberem que não vão correr sozinhas, mas que vão correr com outras pessoas do mesmo nível delas. Cada pessoa tem um ritmo, uma mentalidade, uma limitação. Então, o nosso grupo é agregador, ele é tudo, mas a última coisa que ele não é, é homogêneo. Porque respeitamos todas as limitações do ser humano”, disse Pedro Victor.

Patrice Blaser, de 27 anos, que trabalha com RH, está no projeto desde a primeira edição e participou de quase todos os encontros realizados no meio de semana. O fato de ser um circuito itinerante é um diferencial para ele, que, por causa do projeto, teve a oportunidade de correr em lugares de Goiânia em que nunca tinha corrido antes, como o Lago das Rosas e o Setor Sul.

“O importante, o que eu mais gosto, é justamente isso de não precisar preocupar com velocidade, com pace, que os corredores chamam. Então, estamos mais preocupados em manter a unidade do grupo”, concluiu.

Criadores do Corre Lento enaltecem poder democrático e de transformação da corrida

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Dois dos três criadores do Corre Lento, Pedro Victor Basílio e Vitória Silva têm uma relação forte com o esporte. Ele é filho do ex-jogador de futebol Toninho, formado na base do Atlético-GO e que atuou por alguns anos no Vila Nova durante a década de 80. Ela começou a correr por causa da pandemia.

Pedro Victor contou que o esporte sempre esteve presente na sua vida desde que ele nasceu, até pela profissão do pai. Já jogou futebol e chegou a ter o sonho de se tornar profissional. Também praticou karatê, natação e outras modalidades.

Quase no final da faculdade de Psicologia, Pedro Victor teve uma matéria optativa de Psicologia do Esporte, algo que mudou a vida dele e o motivou a escrever um TCC a respeito do tema, voltado para corrida.

“Juntei a Psicologia com o que eu mais amo na vida, que é esporte, para poder estar levando saúde para as pessoas de forma gratuita. Vivemos no mundo em que tudo é muito cobrado, esse mundo da corrida, parece que para estar dentro dele, você precisa gastar R$ 1.000 com tênis, não sei mais quanto com roupa. Então, estamos tentando democratizar ao máximo uma coisa que deveria ser gratuita, que é uma atividade física ao ar livre”, explicou Pedro Victor.

Vitória, por sua vez, começou a correr em 2020 para ter um ponto de fuga na época da pandemia da Covid-19, uma forma de melhorar a saúde mental. Desde então, ela sentiu como se houvesse renascido através da corrida.

A advogada correu a sua primeira meia maratona (21 km) em janeiro deste ano. Na semana que vem, topou o desafio de correr uma maratona completa (42 km). Segundo ela, o esporte tem a capacidade de transformar as pessoas.

“O esporte tem esse poder sobrenatural de te fazer acreditar em você mesmo. Eu entrei, me entreguei para o esporte como uma pessoa frágil e com incertezas e me devolvi como uma pessoa forte e capaz de fazer tudo o que eu conseguir”, contou a corredora.