A alta ocorrência dos casos de síndrome respiratória aguda grave (Srag) em Goiás desde o início do ano tem acendido o alerta para autoridades na área da saúde. Desde o início do ano, conforme a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), a média semanal tem sido de 188 casos, totalizando, até o momento, 1.518 pacientes que demandaram hospitalização pelo quadro de saúde. Também já foram confirmadas 101 mortes.
A Srag abrange casos de síndrome gripal que evoluem com comprometimento da função respiratória, ou seja, com maior gravidade. A maioria, decorrente de coronavírus e infecções por Influenza (gripe), vírus sincicial respiratório (VSR), rinovírus e adenovírus, entre outros agentes etiológicos. Nos indicadores da SES-GO, o maior número de causas de óbitos por Srag neste ano aparece como síndrome não especificada (50). Cinco anos após o início oficial da pandemia, a Covid-19 ainda é responsável pela segunda maior causa de mortes, com 34 casos.
Crianças com menos de dois anos e idosos com mais de 60 anos são os dois grupos etários mais afetados pela Srag. O primeiro conta com o maior número de casos: 549. Destes, 8 óbitos foram confirmados. Já o segundo tem o maior quantitativo de mortes (70) e o segundo maior número de casos (315). No caso das crianças, a infecção tem ocorrido majoritariamente pelo vírus sincicial. E os idosos, por covid-19.
Superintendente de Vigilância em Saúde (Suvisa), Flúvia Amorim explica que neste ano houve uma antecipação na alta dos casos, que começou duas semanas antes do registrado no ano anterior. O pico, entretanto, deve ocorrer entre abril e maio, época em que há maior variação de temperatura. "A média semanal já está maior do que o mesmo período no ano passado, então isso nos leva a crer que pode haver um número maior neste ano. Pode aumentar ainda mais. Se a gente não conseguir vacinar o maior número de pessoas, pode ser maior que o pico em 2024.", pontua, ao destacar que a média semanal no mesmo período do ano passado era de 160.
Conforme Flúvia, o aumento dos casos ocorre justamente após festividades de fim de ano e o início das aulas. "No fim do ano, as pessoas se juntam para as festas, as pessoas viajam mundo afora nas férias, e quando todos voltam, começa a espalhar nas escolas, empresas, onde tem aglomeração de pessoas. Por isso temos visto essa curva subir. Durante a pandemia era diferente, tinha lockdown (confinamento), escola não funcionava, então mexeu a dinâmica da doença. Foi após 2023 que começamos a ver essa sazonalidade pós-férias e retorno às aulas."
Atuando como infectologista no Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT), a médica Marina Roriz pontua que tem observado um "aumento de atendimentos tanto em pronto-socorro como de internações". "Estamos vendo um aumento de casos, e, por isso, há um aumento dos casos mais graves. Há duas hipóteses (para a alta): a gente ficou mais restrito na época da pandemia, e agora essas crianças que nasceram na pandemia estão indo para as escolas. É uma possibilidade que essas crianças tiveram menos contato com vírus na primeira infância, e agora estão tendo contato com mais. Outra possibilidade é a baixa cobertura vacinal, que contribui para o aumento de casos graves", diz.
"O vírus sincicial tem uma sazonalidade que começa geralmente entre abril e junho, mas esse ano começou a aparecer já em janeiro e fevereiro, em uma porcentagem bem maior dele do que de outros vírus, bem diferente dos outros anos. O que temos visto é o aumento do vírus sincicial, mas temos aumento de Covid-19. E a Influenza está mantendo mais ou menos o que a gente espera. Mas a nossa rede já é sobrecarregada, vemos falta de leitos todos os dias, e a Srag é causa muito importante de internação", complementa. Ainda conforme a infectologista, os sintomas das infecções são parecidos, como coriza, tosse, indisposição e febre. "O principal sintoma que preocupa e leva à hospitalização é a falta de ar, dificuldade para respirar", explica.
Para além de Goiás, outros oito estados brasileiros estão em níveis de alerta ou risco pela incidência de Srag. No Estado, há tendência de crescimento a longo prazo, impulsionado por casos de crianças e adolescentes de até 14 anos. Os dados foram divulgados no último dia 7 no boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), referente à semana epidemiológica entre 23 de fevereiro e 1º de março. O vírus sincicial tem a segunda maior prevalência entre os casos positivos, atrás apenas de infecções causadas pelo rinovírus, e de covid-19.
A SES-GO emitiu um alerta nesta segunda-feira (10) para que a população reforce cuidados para doenças respiratórias, como a vacinação contra covid-19 e influenza. Apenas em janeiro, 97 crianças foram internadas em unidades estaduais diante de um quadro de bronquiolite. Já em fevereiro, o número chegou a 202. O quadro, causado principalmente pelo vírus sincicial, motivou o Ministério da Saúde a incluir em fevereiro deste ano, uma vacina contra o agente. Conforme a titular da Suvisa, os imunizantes devem chegar em junho, tendo como público-alvo gestantes. "Assim, as crianças já nascem com anticorpos", pontua Marina.
Sobrecarga
A alta ocorrência de casos de Srag também tem gerado uma demanda maior por leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e enfermaria. Conforme dados da SES-GO, a taxa de ocupação dos leitos estaduais até às 18 horas desta terça-feira (11) girava em torno de 93% e 90%, para UTI e enfermaria adulto, além de 91% e 83% no caso dos leitos pediátricos. A UTI neonatal também tinha 93% ocupada. No Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad), por exemplo, o percentual era de 99%, com apenas um leito de enfermaria desocupado. Vale lembrar que há variações constantes na taxa de ocupação.
Conforme a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, já foram registrados 4.745 atendimentos em saúde por doenças respiratórias -- aumento de 3,2% no comparativo com o mesmo período de 2024. Até o momento, a capital confirmou 15 óbitos por Srag, sendo a maioria idosos (7) e crianças menores de 1 ano (3). Em crianças menores de 2 anos, a principal causa de doenças respiratórias é a infecção pelo vírus sincicial. De 2 a 14 anos, prevalecem as infecções por rinovírus. Entre os idosos, a maior causa é Covid-19.
