O trabalho mais conceitual de Fernanda Abreu celebra 30 anos em 2025. Ao revisitar o som, conceito e a estética visual do disco Da Lata (1995), a cantora, compositora e bailarina descobriu que o batuque da lata é atemporal e fala do Brasil de antes e de agora com a mesma assertividade. O olhar de Fernanda, a garota carioca sangue bom, traduzia “a efervescência cultural suburbana daquele momento”, escreve Charles Gavin no texto de apresentação do projeto Da Lata – 30 Anos, que ganha documentário, livro, remix e relançamento do vinil, celebrando um dos clássicos e mais icônicos discos do pop brasileiro. Ao POPULAR, Fernanda Abreu divide como foi o processo de revisitar a obra após três décadas. Nesse processo de reviver o disco, o que mais te surpreende na sua própria criação? Que ele não envelheceu. Passaram-se 30 anos e, afinal, todo mundo envelhece. Quando eu ouvi o disco para começar a fazer esse projeto, eu realmente me entusiasmei. Percebi que é uma produção, um conceito, uma ideia completa, assim como a sessão de fotos da capa, os videoclipes, o show. A história dele dentro e fora do País, a história do Rio de Janeiro e do funk carioca contextualizada. Sinto que ainda é esse Brasil e esse Rio, com a diferença que aquele era um mundo analógico. E eu percebo um interesse da nova geração com elementos do analógico, como texturas de Super-8, VHS, vinil. Até em termos de produção musical, com plugins que resgatam alguns timbres de teclado, como o Prophet-5 e o Minimoog. É bacana trazer esse outro mundo que pode provocar curiosidade sobre o jeito que a gente fazia música, criando de uma maneira muito mais coletiva. Hoje, com a presença da Inteligência Artificial cada vez maior, a gente fica muito mais isolado fazendo nossas próprias coisas com a parceria da IA. Acho que é provocador também nesse sentido, de trazer uma reflexão sobre tudo isso.