Após 21 semanas movimentando o circuito nacional, Ainda Estou Aqui se despediu dos cinemas no Brasil. Em sua longa carreira, marcada pelo forte apoio e engajamento do público brasileiro, o longa dirigido por Walter Salles foi visto por 5,8 milhões de espectadores. A produção entra em cartaz no Globoplay, streaming da TV Globo, neste domingo (6).

O filme alcançou importantes conquistas para o cinema nacional, incluindo o primeiro Oscar do Brasil, na categoria de Melhor Filme Internacional, o primeiro Goya, na categoria de Melhor Filme Ibero-Americano, o inédito Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Drama, com Fernanda Torres, e o prêmio de Melhor Roteiro, no Festival de Veneza, além de sete prêmios de Melhor Filme do júri popular.

Ainda Estou Aqui também trilha uma longa carreira nos cinemas do circuito comercial internacional, e já foi lançado em 42 países, incluindo Itália, Bolívia, Chile, Venezuela, Colômbia, Israel, Argentina, República Dominicana, Nova Zelândia, Paraguai, Peru, Uruguai, México, Romênia, Espanha, Polônia, Austrália, Eslováquia, Turquia, Alemanha e Taiwan, onde estreou nesta semana.

As próximas estreias acontecem na China (17/05), Japão (Agosto/2025), Escandinávia (12/09), Dinamarca (02/10) e Noruega (03/10). A trajetória de Ainda Estou Aqui nas premiações continua no Prêmio Platino, uma das maiores premiações do cinema Ibero-Americano, onde concorre a Melhor Filme Ibero-Americano.

Também no Prêmio Platino, o longa compete na categoria de Melhor Atriz, com Fernanda Torres, e Melhor Direção, com Walter Salles, além de concorrer ao Prêmio do Público nas categorias de Melhor Filme Ibero-Americano de Ficção e Melhor Atriz. A cerimônia de premiação acontece no dia 27 de abril, no Palácio Municipal IFEMA Madrid, localizado na capital espanhola, e terá transmissão ao vivo pela plataforma SmartPlatino TV.

Selecionado para mais de 50 festivais nacionais e internacionais, Ainda Estou Aqui já recebeu 27 prêmios nacionais e internacionais, incluindo sete prêmios de Melhor Filme segundo o Júri Popular: no Festival Internacional de Cinema de Roterdã; na 48ª Mostra de S. Paulo; no Festival Internacional de Cinema de Vancouver, no Canadá; Festival de Cinema de Mill Valley, nos Estados Unidos; Festival de Pessac, na França, onde também recebeu o Prêmio Danielle Le Roy, dado pelo júri jovem; Festival Internacional de Cinema de Miami.

O filme já foi exibido em festivais de mais de 20 países, incluindo Itália, Canadá, França, Estados Unidos, China, Suíça, Inglaterra, Turquia, Áustria, Portugal, Espanha, Marrocos, Egito, Alemanha, Estônia, Eslovênia, Sérvia, Bulgária, Irlanda, Austrália e Holanda.

Globoplay

Neste domingo (6), Ainda Estou Aqui chega com exclusividade ao Globoplay, iniciando uma nova jornada no streaming, após meses de sucesso nas telonas. O primeiro filme Original Globoplay, é baseado no livro biográfico de Marcelo Rubens Paiva e que conta a história real e emocionante da família Paiva, que viveu o desaparecimento de Rubens Paiva nos anos 1970, quando o Brasil enfrentava o endurecimento da ditadura militar.

Eunice, sua esposa, representada por Fernanda Torres e por Fernanda Montenegro, inicia a busca pela verdade sobre o destino de seu marido e é obrigada a se reinventar e traçar um novo futuro para si e seus cinco filhos. Tem ainda no elenco nomes como Selton Mello, Marjorie Estiano, Antônio Saboia, Maeve Jinkings, Humberto Carrão e Dan Stulbach. A produção é da VideoFilmes, RT Features e Mact Productions, em coprodução com Globoplay, ARTE France e Conspiração, com distribuição no Brasil pela Sony Pictures.

'Ainda Estou Aqui' entra no catálogo do Globoplay neste domingo (6)

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AUDIOVISUAL

Se estivesse vivo, o Dr. Ulysses iria assistir ao filme “Ainda estou aqui” e logo após, diria ao autor da obra, ao diretor, aos demais artistas e às duas Fernandas, a mãe e a filha, Eu estive lá em todos os trabalhos constituintes e, em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Cidadã. Daí, o “Eu estive lá” e o “Ainda estou aqui” expressam uma dialética de inter complementaridade histórica.

E, quando lá estive, ao falar sobre a sociedade e o Estado, afirmei que o Estado autoritário prendeu e exilou a sociedade, com Teotônio Vilela, pela anistia, libertou e repatriou. E acrescentei: a sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram. E, ainda, ao me referir à ditadura, conhecemos o caminho maldito: rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério.

Por isso, temos ódio à ditadura. Ódio e nojo. Daí, diz a Constituição que constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático. Que belíssimo testemunho histórico deu o “Ainda estou aqui”, ao mostrar aos jovens e adultos a incivilidade da ditadura!

Tal qual o “Eu estive lá” e o “Ainda Estou aqui”, diria ainda Ulysses, ambos foram legitimados pela presença de inúmeros cidadãos brasileiros, participando das suas sessões, nas da constituinte foram diariamente cerca de dez mil cidadãos, entre outros e outras, os moradores de rua, de praça, de favela, de fábrica, de trabalhadores, de cozinheiras, de menores carentes, de índios, de posseiros, de empresários, de estudantes, de aposentados, de servidores civis e militares, atestando a contemporaneidade e autenticidade social do texto que ora está em vigor.

Essa presença da cidadania atesta que a democracia, é a vontade da lei, que é plural e igual para todos, e não a do príncipe que é unipessoal e desigual para os favorecimentos e os privilégios. Tampouco o é da japona, como pretendeu o golpe militar de 1964, com a sua doutrina de segurança nacional.

Pois bem Fernandas, sei que todos os participantes do “Ainda estou aqui”, seguramente, não estavam informados que os constituintes ao aprovarem que todo poder emana do povo, que o exerce, por seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição, foram inspirados na mais perfeita definição de democracia que a história moderna registra, que é a de Lincoln, que foi presidente dos Estados Unidos, libertador de escravos, ao afirmar: governo do povo, para o povo, pelo povo.

Que sofrimento tiveram vocês do “Ainda estou aqui” e, especialmente, Fernanda Montenegro, quando estiveram lá, no país em que a democracia está morrendo, já que o presidente que foi eleito lá parece ignorar que um dos pilares americanos é o sistema constitucional de freios e contrapesos, concebido para impedir presidentes de concentrar e abusar do poder. Esse sistema sempre deu certo na rica e sólida história da democracia americana.

Enfim, afirmaria Ulysses como vocês do “Ainda estou aqui”, quando estive lá, tive algumas dificuldades para se chegar a um consenso. Entre outros, com a União Democrática Ruralista (UDR), no que concerne à política agrícola, fundiária e reforma agrária, matéria que suscitou uma polarização entre esquerda e direita. E o outro tema foi o da democratização das Forças Armadas, cujo consenso foi o de que elas não são um quarto poder ao lado da Constituição. Essa é uma concepção ultrapassada.

O “Ainda estou aqui” como o “Eu estive lá” são fundamentos da sociedade brasileira rumo à mudança. Era o que eu dizia: A Nação quer mudar, a Nação deve mudar, a Nação vai mudar. Mudou com a Constituição Cidadã.

Jônathas Silva, advogado e mestre em direito

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Jônathas Silva

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Não pude deixar de lado a expressão mais falada nos últimos meses - Ainda Estou Aqui, ao pensar na mulher em data especial, Dia Internacional da Mulher, 8 de março e escrever. O que me atravessou naquela noite em que me vi diante da tela da premiada obra cinematográfica, parece de alguma forma ter atingido boa parte do mundo, pela maravilha de um filme nacional.

Fernanda Torres, que já havia me flechado nos anos 80 em Eu Sei que Vou te Amar, me alcançara de um jeito ímpar na noite em que assisti Ainda Estou Aqui. Sob a direção de Walter Salles, que já havia ganhado meu coração em Central do Brasil, acompanhada de Selton Melo que interpretou uma psicanálise “completa” em Lavoura Arcaica e de tantos atores maravilhosos, Fernanda me colocou em um lugar simultâneo de amor, pavor, tragédia, beleza e desespero. O lugar da maternidade.

Esse lugar tão singular de quem, desde o início, engole o próprio choro para acalentar o choro do outro. O lugar de dar, “dar o que não se tem a alguém que não o quer” - definição de amor nas palavras de Lacan. Do amor emerge o outro, inicialmente tão pequeno em franco desamparo, que dependera desse Outro grande que ocupe a função materna para que sobreviva, e viva. Tudo começa com uma abertura feita no corpo, no útero, no âmago do útero, que alojará uma nova vida. Fenda em seu corpo próprio! Lugar único, com desdobramentos únicos e sensações também.

Para cada mulher, um desenrolar, mas com certeza para cada filho uma única versão e um misto de emoção. A revolução que a chegada de um filho faz na vida de uma mulher, nada mais é capaz de fazer... ela varre narcisismos hipócritas, preconceitos idiotas, varre fragilidades e retira força extraordinária de luta e cuidado diários, faça chuva, faça sol, a mãe é aquela que estará sempre lá. A esperar. A ofertar, a acalmar o coração. E foi exatamente aí que Fernanda Torres conseguiu levar ao mundo a história de Eunice Paiva, uma mulher que seguiu sua vida de mãe de cinco filhos apesar do pai desaparecido.

O escritor Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice, ajuda a localizar o desaparecimento de seu pai, o ex deputado Rubens Paiva, que foi uma das tantas vítimas da tortura durante a ditadura militar no Brasil. Eunice leva essa luta até o fim de sua vida: fazer com que seu marido deixasse de ser um desaparecido político para ser um pai que havia morrido. Parece simples, mas não é nada simples. O lugar do desaparecido não é o lugar do morto. O morto morreu, o desaparecido desapareceu. Não houve inscrição simbólica. Não houve assinatura, não houve registro, não houve adeus. Nem funeral.

Quantas mulheres nesse mundo amanhecem e dormem e amanhecem e dormem sem saber o paradeiro dos pais de seus filhos? Sem saber se estão ou não vivos? Quantas mulheres seguem a criar seus filhos sem ter uma assinatura do divórcio mesmo sendo separadas? Quantos milhões de mulheres mundo afora lutam por uma pensão alimentícia para seus filhos sem serem atendidas. E quantos filhos sobreviveram aos desaparecimentos de seus pais...

Ser mãe é ainda estar aqui apesar de.

Isabella M. F. Castro, psicanalista

Ainda estamos aqui

Isabella M. F. Castro

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