No que depender do deputado federal José Nelto (Podemos), a batalha está apenas começando. Após apelo do governador Ronaldo Caiado (DEM), no fim de semana passado, o parlamentar apresentou projeto de lei na Câmara dos Deputados, em Brasília, que torna o “pequi goiano” patrimônio cultural, ambiental e ecológico nacional. A ação é uma tentativa de barrar um projeto do deputado Delegado Marcelo de Freitas (PSL-MG), que pretende fazer de Montes Claros, no norte de Minas Gerais, a “capital nacional do pequi”. “Os mineiros e goianos sempre tiveram ótima relação. Óbvio que o projeto do deputado Marcelo de Freitas, que é meu amigo, mexeu com o brio do povo goiano, o verdadeiro comedor de pequi. Todo mundo sabe que cada Estado tem a sua tradição culinária. Em Minas Gerais, é o queijo. E, em Goiás, é o pequi”, explicou José Nelto, em entrevista ao POPULAR. Em suas redes sociais, Caiado ironizou a iniciativa do deputado mineiro. “Já vamos fazer um acordo aqui: a gente deixa o ‘trem’ e o pão de queijo para vocês mineiros, e em troca ninguém mexe no nosso pequi. Combinado?”, propôs.Que goianos e mineiros têm muita coisa em comum, inclusive o linguajar, todo mundo sabe. Mas qual seria a cidade que realmente merece o título de capital do pequi? A resposta, O POPULAR ouviu de uma pesquisadora - quer por mera coincidência - é mineira: “Goiânia, com certeza”, garante Elainy Botelho, doutora em agronomia que há mais de duas décadas se dedica à pesquisa sobre o pequi na Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater). Nascida em Lavras, no sul de Minas Gerais, Elainy conta que só conheceu e provou o pequi ao se mudar para Goiás. “Em Minas Gerais, a produção e a tradição são localizadas na região de Montes Claros. Em Goiás, tanto a produção quanto o consumo é em todo o território, em todas as regiões. Desde criança, as pessoas aprendem a comer pequi que tem uma importância cultural, econômica e afetiva muito maior para os goianos”, diferencia.Vários EstadosO pequi é encontrado em quase todo o Centro-Oeste e em partes de Rondônia, Tocantins, Pará, Maranhão, Piauí, Bahia, São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Porém, hoje em dia, muita gente acredita que os pratos com pequi são restritos a Goiás. Isso se deve, em parte, à destruição do Cerrado, que antes era muito mais extenso. O naturalista francês Saint-Hilaire (1779-1853), por exemplo, encontrou pés de pequi perto de Itu, em São Paulo, o que não existe há muito tempo.Em termos de produção, Minas Gerais leva realmente vantagem, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com 80% do total de pequis extraídos no País, contra 14% de Goiás. O esperado é que a produção goiana aumente devido às pesquisas de melhoramento genético do pequizeiro. “Há muita variabilidade do fruto. Ele ainda não é uma cultura que foi trabalhada, mas estamos neste caminho”, explica a pesquisadora Elainy Botelho. Variedades com mais polpa e até frutos sem os temidos espinhos estão sendo criados. O pequi já teve 1,5 mil tipos diferentes registrados, dos quais 53 são próprios para comércio. A demanda por variedades aumentou após a aprovação do novo Código Florestal Brasileiro, que obriga toda propriedade rural localizada na região de Cerrado a ter 35% de reserva legal e, nas regiões de campos, 20%. Reserva legal é uma área que possui cobertura de vegetação nativa. Plantar pequi tem sido a saída encontrada por muitos produtores rurais que querem atender a lei e, ao mesmo tempo, não deixar a terra improdutiva.-Imagem (Image_1.2197227)-Imagem (Image_1.2197228)