Abençoado pela melanina em abundância na pele, o modelo e professor de educação física Weverton Bolt, de 28 anos, admite que os cuidados dermatológicos nunca foram prioridade no seu cotidiano. A situação mudou de figura quando a carreira de modelo começou a deslanchar no ano passado. “Na primeira seleção para um trabalho internacional, notei que deveria cuidar melhor de alguns aspectos que antes passavam despercebidos, como manchas e a tendência que tenho a acnes”, conta.Pessoas de pele morena e negra normalmente têm a vantagem biológica de ter maiores quantidade de melanina e produção de colágeno e elastina, em relação às peles com fototipos inferiores. Na prática, esse biótipo, em geral, tem a pele mais firme e menos tendência a problemas como linhas de expressão e rugas. Mas isso não significa que o cuidado dermatológico deva ser descartado. Pelo contrário. “No consultório do dermatologista, aprendi a importância do uso de produtos específicos para a pele negra e comecei o tratamento para a acne”, explica Weverton, que tem feito sucesso no mundo da moda.A biomédica esteta Gabriela Cardoso Oliveira Raya explica que a melanina, que contribui para retardar o envelhecimento e o aparecimento de rugas, é responsável também por um dos maiores problemas desse tipo de pele: a oleosidade. Protetor solar específico, limpeza adequada, de preferência com sabonetes líquidos desengordurantes, e hidratação são indispensáveis para amenizar isso. Ao mesmo tempo em que a pele negra tem a tendência de ser mais oleosa, é muito fácil ressecá-la, o que dá um aspecto acinzentado. Ela também é mais suscetível a manchas, foliculite e queloide.A melanina, segundo Gabriela, funcionaria como uma proteção natural contra a radiação solar. Por isso, a pele negra é menos propensa ao câncer de pele; porém, o protetor solar jamais deve ser ignorado. “Também devido à melanina, é uma pele menos flácida. Contudo, tem maior quantidade de melanócito, daí a tendência a ter mais manchas. A camada córnea da pele negra é mais espessa. Tem alta atividade de fibroblastos, componente presente na cicatrização, responsável pelos queloides”, ressalta.Queloides são uma espécie de cicatrização exagerada, que forma uma fibrose, um alto relevo. Quanto mais melanina na pele, maior o risco de desenvolvê-los no processo de cicatrização de feridas e cirurgias. A dermatologista Paula Azevedo afirma que o problema pode ser de 13 a 18 vezes mais frequente na pele negra do que na branca. A melhor saída é evitar a formação e não esperar que ele apareça para tratá-lo. Curativos oclusivos a base de corticoide e betaterapia, tratamento que utiliza energia emitida por uma placa de estrôncio-90, são algumas das técnicas utilizadas para prevenir o problema.“Os problemas dermatológicos mais comuns na pele negra e morena vêm justamente do excesso de melanina e vão desde hiperpigmentação inflamatória, ou seja, aquele prolongamento da mancha após uma ferida ou lesão na pele, até a maior dificuldade no processo de cicatrização”, explica a dermatologista. Por isso, Paula reforça a importância da consulta regular para avaliação clínica e prevenção dos problemas que atingem as peles morenas e negras.Escassez nas prateleirasApesar de pretos e pardos serem maioria no Brasil, a proporção não se repete quando o assunto são produtos dermatológicos e cosméticos específicos para as peles morenas e negras. Em um levantamento recente entre as principais marcas brasileiras, publicado pela revista Exame, raras foram as que dispunham de itens exclusivos para esses consumidores.Aos 46 anos, a barista Neide Aparecida dos Santos conta que a escassez de produtos específicos para a pele negra e morena acaba desestimulando o consumo. “Sempre usei o básico do básico”, revela. Apenas recentemente ela descobriu que seria possível fazer sessões de depilação a laser. “Estou muito satisfeita com o resultado, mas ainda há muitos outros serviços que não são oferecidos para meu tipo de pele”, explica.