Dois representantes de Goiás foram os vencedores do Concurso Nacional de Projeto para Habitação Quilombola, promovido pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU/GO). O projeto dos arquitetos e urbanistas Marina Noelle Sousa Borges e Pedro Henrique Ramos Lima levou o primeiro lugar do concurso, que tem o objetivo de selecionar o melhor projeto para a construção de moradias nas comunidades remanescentes de quilombos de Goiás.O concurso integra os programas habitacionais da Agência Goiana de Habitação (Agehab), que foi parceira na realização do mesmo, que recebeu inscrição de 86 projetos oriundos de diversos Estados. O arquiteto e urbanista Victor Maitino, de São Paulo, ficou em segundo lugar e a arquiteta e urbanista Nubia França de Oliveira Nemezio, do Rio de Janeiro, levou a terceira posição. O concurso deu, ainda, menção honrosa a projetos do Distrito Federal, Paraná e Alagoas. Receberam menção honrosa as propostas da GSR Projetos e Consultoria Empresarial Ltda (DF), arquitetos e urbanistas Gabriel Deller de Aguiar e Felipe Nakamura Bassani (PR), e arquiteta e urbanista Maria Luísa de Carvalho (AL).O CAU/GO lançou o concurso no dia 16 de agosto em homenagem ao Dia Nacional do Patrimônio Cultural no Brasil, celebrado no dia seguinte. As comunidades remanescentes de quilombos são reconhecidas como patrimônio cultural brasileiro. Em Goiás, está localizado o maior território quilombola do País, constituído pelo povo calunga, com grupos distribuídos entre três municípios do Nordeste Goiano há mais de 300 anos: Cavalcante, Monte Alegre de Goiás e Teresina de Goiás, localizados em região próxima à Chapada dos Veadeiros.Em setembro, o CAU/GO e a Agehab ouviram representantes de comunidades quilombolas do Estado a respeito de suas expectativas em relação aos projetos. A reunião técnica aconteceu pelo Zoom a pedido da Superintendência da Mulher e da Igualdade Racial do Estado. “Com a grande movimentação que a publicação do edital provocou, percebemos que faltava essa conversa com representantes das comunidades para auxiliar os arquitetos participantes nas suas pesquisas”, explica a arquiteta e urbanista Maria Ester de Souza, coordenadora do concurso e assessora institucional do CAU/GO. Entre as demandas, estavam casas que tenham como ponto central a cozinha e construídas com materiais e tecnologia modernos.Para a avaliação dos projetos inscritos, a banca julgadora foi formada pelos arquitetos e urbanistas Adriana Mara Vaz de Oliveira e Marcelo Perini Peralta Cunha e pela historiadora Janira Sodré Miranda. “A disposição da casa e sua qualidade estética foi o que colocou o primeiro lugar nessa posição. É uma casa que cabe na zona rural e na zona urbana e respondeu a algumas das principais demandas trazidas em relação à tecnologia da construção e da cozinha como centro e coração da casa”, comenta a coordenadora.Marina Noelle Sousa Borges, que integra a equipe vencedora, comenta que o tema da habitação social sempre foi uma área de interesse para ela. “Com a oportunidade de participar do concurso, convidei o Pedro para integrar a equipe. Tivemos grande ajuda de um terceiro arquiteto, o Edinardo Rodrigues Lucas”, conta.O projeto final apresentado partiu de diversos questionamentos, como o que seria um lar para os quilombolas, quais sistemas de construção são fruto de sua cultura e da interação com a paisagem que os rodeia. “Na hora de desenvolver o projeto, fiz vários questionamentos para tentar me colocar no lugar das pessoas que vão viver naquelas casas. Por exemplo, o uso do tijolo de adobe: será que o uso desse material e do telhado de palha são por falta de opção ou é pela tecnologia?” As casas, então, trazem uma mescla de signos arquitetônicos tradicionais que são vistos nas comunidades quilombolas e uso de materiais de fácil acesso no mercado de construção.A acessibilidade também foi um ponto essencial e priorizado pelos arquitetos e urbanistas que desenvolveram o projeto. “Tenho experiência com a questão da acessibilidade e conheço bastante a região da Chapada próxima a Cavalcante. Fui apresentado a Marina e ao Edinardo, que são bastante familiarizados com o tema da habitação e juntamos os nossos conhecimentos”, conta Pedro Henrique Ramos Lima. “Discutimos bastante sobre as melhores soluções para a construção. Acredito que conseguimos transmitir com uma boa linguagem a área, os costumes locais e questão estética que pensamos”, comenta.Memória celebradaEm homenagem ao primeiro presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o advogado, jornalista e escritor Rodrigo Melo Franco de Andrade, o dia 17 de agosto, data de seu nascimento, foi escolhido para celebrar o Dia Nacional do Patrimônio Cultural no Brasil. Rodrigo foi também um dos grandes responsáveis pela criação do instituto, em 1937, que teve anteprojeto redigido pelo escritor Mário de Andrade no ano anterior a convite do então ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema. A Constituição Federal de 1988 traz em seus artigos o reconhecimento e inclusão dos direitos culturais das comunidades quilombolas, um marco fundamental para a apropriação do conceito para os grupos remanescentes que permaneceram em seus territórios no período pós-abolição e para o reconhecimento como patrimônio cultural brasileiro. Em Goiás, está localizado o maior território quilombola do País, distribuído entre os municípios de Cavalcante, Monte Alegre de Goiás e Teresina de Goiás, na região da Chapada dos Veadeiros, constituído pelo povo calunga.-Imagem (Image_1.2373003)-Imagem (Image_1.2373004)