A trajetória do artista e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Glayson Arcanjo de Sampaio ganhou um novo marco com a entrada de cinco de seus trabalhos no acervo da Pinacoteca de São Paulo, um dos museus mais importantes da América Latina. Produzidas em 2014, as obras chegaram à instituição por meio da doação de um colecionador e integram a exposição permanente da Sala 10, onde dialogam com criações de artistas históricos e contemporâneos.

“Estar ao lado de nomes fundamentais para a arte brasileira, como Tarsila do Amaral, Márcia Xavier, Benedito José Tobias e J. Cunha, é algo maravilhoso e, de certo modo, surreal. Dividir esse espaço com eles é profundamente emocionante. É um privilégio que reafirma como estudar, pesquisar e fazer arte transformou minha trajetória e me permitiu contribuir com essa história, levando ao público uma obra que olha para a cidade e seus centros urbanos”, diz Glayson, mineiro que vive em Goiânia desde 2010.

O conjunto de obras integra um recorte curatorial que discute São Paulo, suas camadas simbólicas e contradições visuais. Conhecido por tensionar os limites entre desenho, arquitetura e memória urbana, Glayson apresenta uma cidade feita de fachadas ocupadas, marcas do tempo e presenças humanas sutis. Um olhar sensível sobre o espaço como campo de disputa e de vida.

As obras nasceram durante a residência artística Phosphorus, realizada em 2014, no Centro de São Paulo. Durante três meses, o artista percorreu diariamente a região observando edifícios desocupados, em reforma ou ocupados por movimentos de moradia popular. Dessa vivência surgiram as duas monotipias da série Fachadas, atualmente expostas na Sala 10, que retratam construções reais e refletem vestígios de habitação e transformação social. Outro trabalho incorporado à coleção, mas não exposto, é uma faixa em tecido preto com a frase “...fora isso estava tudo calado na casa”, síntese poética do silêncio e do abandono desses espaços.

“Essas obras traduzem uma investigação sobre a cidade e suas contradições, abordando temas como moradia, especulação imobiliária e o esvaziamento dos centros urbanos”, explica. O artista recorre a linguagens simples e materiais acessíveis para registrar impressões e imagens colhidas nas caminhadas. No ateliê, o processo se ampliava com experimentações em monotipia e o uso de materiais coletados nas ruas. O resultado é um conjunto que une observação, crítica social e delicadeza .

Formado em Educação Artística pela Universidade Federal de Uberlândia, com mestrado pela Universidade Federal de Minas e doutorado pela Unicamp, Glayson construiu sua carreira a partir de Goiás, onde leciona no curso de Artes Visuais da UFG. Sua produção transita entre o desenho expandido, o texto e a arte em contexto urbano, explorando a paisagem como campo de experiência e de inscrição da memória.

Experimentação &nbsp;e ousadia

O curador do acervo da Pinacoteca, Yuri Quevedo, explica que a incorporação das obras de Glayson e de outros artistas contemporâneos, como Rosana Paulino, Ayrson Heráclito, Eustáquio Neves e No Martins, representou um movimento importante dentro da instituição. “Essas obras chegaram em 2020, por meio da doação de um colecionador. Foi um conjunto muito especial, pois tensionava narrativas consolidadas do acervo, mostrando o outro lado da moeda. Além disso, traziam experimentação técnica, ousadia e seriedade”, destaca.

Para o curador, a presença do trabalho de Glayson na Sala 10 se justifica por sua capacidade de confrontar a imagem idealizada da cidade presente em boa parte do acervo histórico. “A Pinacoteca é um museu de São Paulo e, ao longo de sua história, colecionou vistas da cidade. Mas raramente é possível reconhecer a metrópole que conhecemos nessas pinturas, são paisagens ajardinadas, quase bucólicas”, observa. “Os trabalhos do Glayson, ao contrário, reconstroem fachadas de prédios ocupados por movimentos de moradia. Não é uma cidade pacificada, é a cidade do conflito. E toda cidade deveria ser o espaço onde a democracia é encarnada.”

Com uma pesquisa que aprofunda as relações entre imagem e texto, Glayson faz da arte um exercício de observação e escrita sobre o território. Seus cadernos de artista, publicações e desenhos revelam uma poética de escuta e permanência, uma tentativa de compreender como as formas urbanas, os muros e as ruínas carregam histórias de pertencimento. “Sempre me interessou pensar o desenho como uma prática aberta, que registra o movimento do corpo e do pensamento no espaço. É um modo de olhar para o mundo”, ressalta o artista.

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Perfil

Natural de Belo Horizonte, formou-se em Artes Plásticas pela UFU e, desde 2010, é professor da UFG. A viagem à 24ª Bienal de São Paulo, em 1998, foi decisiva para a escolha da carreira. “Voltei daquela Bienal querendo ser artista”, lembra. Desde então, construiu uma trajetória que une criação, pesquisa e docência, marcada por projetos coletivos e reflexões sobre território, cidade e memória.

Nos últimos anos, seu trabalho tem se voltado também para questões ligadas à terra e aos modos de habitar o mundo contemporâneo. “Tenho buscado cruzar fronteiras e dialogar com outros saberes, como os indígenas e quilombolas, para pensar formas mais inclusivas e menos colonizadoras de ensinar e fazer arte”, afirma. Entre os planos, ele cita o desejo de seguir produzindo, participar de novas exposições e ampliar o diálogo com artistas e instituições em Goiás e em outras regiões do país.

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Artista e professor da UFG Glayson Arcanjo de Sampaio tem obras no acervo da Pinacoteca

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Olhar sobre a cidade

As telas nas quais Antônio Poteiro trabalhou em suas derradeiras pinceladas aludem aos seus trabalhos anteriores, com a mesma expressividade, as cores fortes e as formas pitorescas que permitiram gravar seu estilo no imaginário de quem admirava sua obra. Os quatro quadros estão no Instituto Antônio Poteiro, na residência de seu filho Américo Souza, em Goiânia, onde ele viveu os últimos anos. “Claro que dá para ver que são Poteiros, mas o Velho aqui já não tinha mais a força para pintar como antes”, reconhece o herdeiro. Numa delas, vai um casal sobre um burrinho, com outro animal atrás trazendo alguma carga, num cenário vermelho e verde, cheio de pássaros. Outra traz uma árvore florida, uma terceira tem uma figura que parece divina e exala paz. A última é feita de flores num fundo azul.

Se os traços já não eram firmes, sua assinatura continuava ali. Uma assinatura única, que o próprio artista soube condensar em uma frase, dita para um documentário produzido no ano 2000 para a TV Câmara, do Congresso Nacional: “Isso tudo que você vê é fantasia e se acabar a fantasia, acaba o Poteiro também”. A fantasia que, 15 anos após sua morte, continua a encantar. “Ao pintar festas, ritos e o cotidiano, ele criou uma conexão direta com o povo e com a memória coletiva do Brasil. Isso deu à sua obra uma identidade própria, facilmente reconhecível e marcante. Alguns podem achar que essa fidelidade o limitou, mas, na verdade, foi essa consistência que fez dele um artista sólido, respeitado e lembrado. Foi a sua marca registrada”, destaca a produtora em artes Malu Cunha.

Em 10 de junho de 2010, após uma internação, Poteiro, que padecia de problemas renais, teve uma parada cardíaca. Tinha quase 85 anos de uma existência na qual não faltaram atribulações, mudanças radicais de rota, sofrimentos, dores e alegrias. Tudo isso, por outro lado, adubou um imaginário que não foi só fértil, mas surpreendente. As peças de cerâmica, as cores vibrantes das telas, as figuras pouco delineadas que habitam seus trabalhos, tudo isso compõe um quadro singular nas artes brasileiras. Do barro, ele criou um mundo próprio. Das cirandas e rezas, do sacro e do pagão, das histórias contadas e cantadas em ladainhas, Poteiro erigiu um universo que convida a mergulhos no coração da cultura, dos festejos, do viver. Poteiro morreu, mas deixou essa pulsação de vida como herança.

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Uma das últimas obras produzidas por Antônio Poteiro (Renato Conde)

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“Toda essa riqueza, esse legado que ele deixou permitem que a gente entenda melhor o Brasil, o período em que ele viveu, isso de uma maneira às vezes irônica, sarcástica, mas de uma maneira natural. Ele é popular e é culto na tradução desse país”, resume o biógrafo e pesquisador da obra de Antônio Poteiro, PX Silveira. “Poteiro nos ajudou a ver melhor nossa própria identidade. Ele não trabalhava para satisfazer expectativas. Ele tinha suas próprias verdades. Não era um artista estático”, ressalta. “Poteiro não teve mestres formais, mas seguiu uma produção livre, inspirada na tradição familiar. Aprendeu a lidar com o barro desde pequeno, observando seus tios e pai”, salienta o pesquisador José Reinaldo Martins, da PUC Goiás. “Anos mais tarde, resgatou essa produção anterior, transfigurando-a.”

“Antônio Poteiro é uma referência marcante: em Goiás, é símbolo de identidade cultural; no Brasil, é reconhecido como o artista que levou a força da arte popular ao patamar da grande arte. Sua importância está em ter criado uma linguagem única, ao mesmo tempo acessível e significativa”, assegura Malu Cunha. “Ao transformar a cerâmica em uma narrativa visual rica e multifacetada, Poteiro construiu um universo onde o sagrado e o profano dançam em harmonia, onde a tradição encontra a liberdade criativa e onde o passado se reinventa no presente”, assinala José Reinaldo. “Ao deixar um legado duradouro tanto em Portugal quanto no Brasil, e ao continuar a inspirar novos artistas e pesquisadores, Antônio Poteiro reafirma o poder transformador da arte”, conclui o pesquisador.

Para realização de seu livro Antônio Poteiro: Um Místico Luso-Brasileiro, o professor José Reinaldo constatou, entretanto, que em Portugal, o artista plástico radicado em Goiás poderia ter seu nome mais difundido. “Em Barcelos, há um museu interessante sobre a cerâmica produzida na região. Numa primeira consulta ao espaço, disseram que não havia uma obra de Poteiro no acervo. Mas quando encontramos uma pessoa mais antiga, que conhecia melhor o que o museu possui, ela nos indicou peças de Poteiro, mas que não estavam em exposição porque estavam danificadas. Depois disso, houve até um compromisso de restaurar esses trabalhos”, relata José Reinaldo. O primo de Poteiro, o também artista plástico João do Monte tem uma inserção melhor no mercado lusitano.

No Brasil há um déficit em relação à visibilidade da obra de Poteiro. Apesar de ele ter participado da Bienal de Arte de São Paulo de 1981, principal evento da área no Brasil, não há informações de que alguma obra sua integre, por exemplo, o acervo do Museu de Arte de São Paulo (Masp), o mais prestigiado do País. Já o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) tem o registro de duas esculturas de Poteiro – A Mãe, de 1994, e Anjos, de 1997 –, ambas oriundas da Coleção Gilberto Chateaubriand, doada à instituição. Em Inhotim, Minas Gerais, maior museu a céu aberto do mundo, Poteiro não está contemplado. Já o Museu Oscar Niemeyer, de Curitiba, recebeu obras do artista em 2015, trabalhos que foram apreendidos na posse de investigados no âmbito da Operação Lava Jato.

Os desafios de um amplo legado

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Obras no Instituto Antônio Poteiro (Wesley Costa)

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Para onde se olhe no Instituto Antônio Poteiro, vemos a força da imaginação. Telas de diferentes tamanhos ocupam todas as paredes da sala principal e de outros cômodos. Américo Souza calcula em quase 150 trabalhos do pai ali expostos. No quarto principal fica, geralmente, a série da Via Crúcis, agora emprestada para uma exposição itinerante sobre o artista produzida pela Caixa Econômica Federal, que está rodando o Brasil. Ela já esteve em São Paulo e agora passa por Fortaleza. Também ali está, em lugar de destaque, a leitura de Poteiro para a Criação do Mundo, cheia de motivos da nossa cultura e do nosso bioma, com figuras reais e imaginadas povoando a imensa tela com mais de 5m². Nas partes interna e externa da casa há várias peças em barro esculpidas por Poteiro.

Esse legado está, sobretudo, nas mãos de Américo, filho de Poteiro, que seguiu a carreira do pai. Ele também é ceramista e mantém um ateliê em Aparecida de Goiânia, onde expõe suas obras e promove visitas guiadas com grupos escolares. Américo e seu irmão Valdir, entretanto, não têm uma relação boa exatamente em razão da administração desse conjunto. “Já bem idoso, Poteiro me pediu para ser seu testamenteiro, exatamente para evitar que os filhos se desentendessem ainda mais diante das obras que deixaria”, relata PX Silveira, que passou a ter uma relação próxima com ele no processo de escrita do livro Poteiro em Primeira Pessoa, principal biografia do artista. Os irmãos mantêm distância, mas Américo salienta que o Instituto que comanda é o único autorizado a certificar as obras.

Este é um ponto delicado quando se fala da obra de Antônio Poteiro após sua morte. Ele produziu muito – calcula-se em mais de 5 mil peças ao longo da vida –, mas saber onde todas estão é um desafio quase impossível de superar. Poteiro era generoso e não é difícil encontrar pessoas de sua convivência que foram presenteados por ele com quadros ou esculturas. Ele também deixou matrizes, que hoje podem ser usadas para a confecção de reproduções que, não raramente, são ofertadas como pinturas originais. E ainda há o pior de tudo: as falsificações. Em 2020, por exemplo, a revista Veja publicou uma nota informando que os trabalhos de Poteiro estavam entre os principais alvos de falsários. “Tem muito disso, realmente”, lamenta PX. “Isso deprecia o valor de mercado das obras.”

“Muitas vezes as pessoas me ligam perguntando se um quadro específico foi feito pelo Velho ou não. Há casos que é fácil saber que é falso. Em outros, eu peço para que a pessoa traga o trabalho para eu analisar”, afirma o filho Américo. “Muita gente vem com obras sem certificação. Daí eu falo para a pessoa que a opção de comprar é dela. Existe uma tabela e se a pessoa encontra uma obra vendida a um preço muito abaixo, ela tem que desconfiar sobre a autenticidade”, pondera. “Isso diminuiria se houvesse um catálogo do Poteiro. Assim poderíamos ter segurança sobre o que é dele e o que não é”, sugere o professor a artista plástico Divino Sobral. Com a autoridade de quem já foi curador de uma exposição de Poteiro, ele tem olho clínico para reconhecer uma obra verdadeira.

“Certa vez, em São Paulo, entrei numa pequena loja da região central e lá no fundo, numa prateleira escondida, cheia de poeira, havia duas peças originais de Poteiro. E o mais impressionante: comprei as duas por R$ 45,00”, conta Sobral. “Isso revela o quanto a obra de Poteiro ainda não é conhecida como deveria em outras partes do País.” Essa falta de informação é terreno fértil para que seus trabalhos sejam imitados ou falsificados, com pouca chance de punição para os responsáveis. “Quem conhece um Poteiro sabe distinguir a falsificação exatamente porque ela tenta ser muito metódica, com as linhas bem feitas, bonitinhas. Poteiro não era assim. Pelo contrário, ele era mais rústico mesmo. Há também diferenças na assinatura. Se estiver muito certinha, pode não ser dele”, ensina PX Silveira.

“O fato de Poteiro ter seguidores e artistas que se inspiram nele mostra a força de sua linguagem”, considera a produtora artística Malu Cunha. “Claro que isso exige atenção no mercado, já que falsificações acabam trazendo certa desconfiança. Nesse sentido, o Instituto Antônio Poteiro desempenha um papel importante ao certificar suas obras, fortalecendo a confiança de museus e colecionadores e contribuindo para que seu legado siga valorizado e reconhecido”, opina. “Na minha opinião, para aquisição de obras do Poteiro, tem que haver uma avaliação de especialistas para não deixar dúvidas sobre o seu legado”, argumenta o diretor do Museu de Arte de Goiânia, Antônio DaMatta. “Quanto mais fama, mais responsabilidade a gente tem”, dizia o próprio Poteiro.

 
Mostra de celebração será aberta em 2026

Uma grande mostra em homenagem a Antônio Poteiro está sendo preparada pelo Sesc de Goiás e será realizada no Museu de Arte Contemporânea (MAC), mas ela só será aberta em janeiro de 2026, devendo durar três meses. Antes dela, a última grande exposição de Poteiro em Goiás ocorreu em 2022, no Museu Octo Marques, no Centro. Em âmbito nacional, a Caixa Econômica Federal produziu uma mostra itinerante, chamada A Luz Inaudita do Cerrado, que esteve em cartaz em São Paulo, no primeiro semestre, e que agora pode ser visitada em Fortaleza. Já a exposição 100 anos de Antônio Poteiro, cujos organizadores preveem que seja vista por 30 mil pessoas, terá elementos interativos e imersivos, que vão levar o público para dentro das cores vivas do artista plástico.

Segundo Leopoldo Veiga Jardim, diretor regional do Sesc/Senac, o evento terá diversas linguagens. “A exposição exibirá pinturas, cerâmicas, bem como fotos e documentários sobre a vida e a obra do artista”, anuncia. O projeto prevê obras interativas, cenários dinâmicos, que reagem em tempo real aos movimentos do público, com sensores de movimento, som direcional e projeção mapeada. Entre esses cenários, haverá uma ciranda com as figuras típicas do imaginário de Poteiro, dançando em imagens ao lado dos visitantes. Telas que abordam as festas juninas ganharão o mesmo efeito, assim como será possível ouvir Poteiro falando de sua obra, em áudios de antigas entrevistas. Durante o evento, o livro Poteiro: Pessoa Pública, do seu biógrafo PX Silveira, será lançado.

“Nós estamos realizando uma série de ações na cidade para celebrar o centenário de Poteiro. A exposição em si só será realizada entre janeiro e março do ano que vem porque neste final de ano, o Centro Cultural Oscar Niemeyer já estará muito demandado pelos festejos natalinos do governo”, explica Leopoldo Veiga Jardim. “Enquanto isso, em vários lugares há exposições que estamos apoiando. Uma delas é uma mostra que será feita na Galeria ID+D, em Goiânia”, informa o diretor regional do Sesc/Senac. São iniciativas muito bem-vindas, mesmo que isoladas. A data de nascimento de Poteiro em outubro chegou sem que nos nove meses anteriores suas obras ocupassem, com vigor, um dos tantos espaços culturais públicos que existem na capital. Que o início de 2026 redima essa lacuna de 2025.

Centenário de Antônio Poteiro expõe os desafios para preservar seu legado

A vida como herança

A enfermeira Letícia Pereira, 35 anos, moradora de Indiara, a cerca de 100 quilômetros de Goiânia no rumo sudoeste, não pensou muito para se inscrever no programa Goiás Todo Rosa quando teve o diagnóstico de câncer de mama, em julho de 2024. Ela e centenas de mulheres têm contribuído para o fortalecimento de uma iniciativa pioneira no País, que prevê o <a href="https://opopular.com.br/cidades/veja-como-fazer-exames-geneticos-gratuitos-para-diagnostico-e-prevenc-o-do-cancer-de-mama-e-ovario-pelo-sus-em-goias-1.3270208" target="_self">rastreamento genético familiar como método de prevenção contra tumores</a>. O programa – parceria entre a Secretaria de Estado da Saúde (SES) de Goiás e a Universidade Federal de Goiás (UFG) – nasceu no fim de 2023 e já atendeu 571 pessoas, 305 pacientes e 266 familiares. Desses, 40% apresentaram mutação genética.

Com a intenção de alcançar esse público, a SES lança nesta segunda-feira (6), dentro do programa Goiás Todo Rosa, o Protocolo e Linha de Cuidado do Câncer de Mama. O objetivo é organizar e qualificar a rede de atenção oncológica, possibilitando o diagnóstico precoce, o tratamento ágil e a redução da mortalidade. “A ideia é fazer várias ações para mitigar os riscos de desenvolver câncer, desde orientações sobre mudanças nos hábitos de vida até o acompanhamento mais próximo com consultas especializadas e exames numa periodicidade diferente do protocolo convencional”, explica o médico oncologista Kleber Monteiro, que integra o programa desde o início.

A criação do protocolo, que alcançará todas as 11 regionais de saúde, consolida a iniciativa que surgiu com a sanção, em 2020, da Lei 20.707, que de forma pioneira definiu o exame, custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para detecção de mutação genética dos genes BRCA1 e BRCA2. Segundo especialistas, a alteração desses genes representa risco de 80% para câncer de mama e de 40% para o de ovário. Letícia teve diagnóstico de câncer de mama em julho de 2024 e, na rede privada, chegou a fazer a mastectomia bilateral. Encaminhada ao Hospital Araújo Jorge, soube do programa público de sequenciamento genético.

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	<li>Saiba como fazer o exame no g1 Goiás:&nbsp;<a href="https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2025/05/29/exames-geneticos-gratuitos-para-prevencao-do-cancer-de-mama-e-ovario-sao-oferecidos-pelo-sus-em-goias-sabia-como-fazer.ghtml" target="_blank">Exames genéticos gratuitos para prevenção do câncer de mama e ovário são oferecidos pelo SUS, em Goiás</a></li>
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“Eu relatei à médica que uma prima de primeiro grau estava finalizando o tratamento de um câncer de mama. Como o meu exame comprovou a mutação do gene BRCA, decidi retirar os ovários como forma de prevenção. Eu temia ter novamente câncer”, conta a enfermeira. Mãe de um casal de filhos de 8 e 5 anos, Letícia agora levará os pais, que ainda não chegaram aos 60 anos, para fazer o exame genético. A única irmã, fora do Brasil há três anos, também vai se submeter ao teste. “Sou grata ao programa. Depois do diagnóstico, passei a me cuidar melhor, a ter uma alimentação equilibrada e atividade física. Minha vida mudou muito.”

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/veja-como-fazer-exames-geneticos-gratuitos-para-diagnostico-e-prevenc-o-do-cancer-de-mama-e-ovario-pelo-sus-em-goias-1.3270208" style="font-size: 12px;" target="_self">Veja como fazer exames genéticos gratuitos para diagnóstico e prevenção do câncer de mama e ovário pelo SUS em Goiás</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/outubro-rosa-colore-a-praca-tamandare-pela-prevenc-o-ao-cancer-de-mama-1.3320304" style="font-size: 12px;" target="_self">Outubro Rosa colore a Praça Tamandaré pela prevenção ao câncer de mama</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/professora-curada-do-cancer-comemora-vitoria-em-carreta-furac-o-video-1.3319595" style="font-size: 12px;" target="_self">Professora curada do câncer comemora vitória em 'carreta furacão'; vídeo</a></div>

<h2>Homens</h2>

A bióloga geneticista Elisângela Lacerda, que junto com a médica mastologista Rosemar Rahal apresentou à SES a proposta de fazer do Centro de Excelência em Genética Humana (CEGH) do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG um espaço de referência de rastreamento genético, é uma entusiasta do programa Goiás Todo Rosa. “É importante que a população saiba que não é só a mulher com mutação dos genes BRCA que pode ter câncer. Familiares masculinos que apresentarem a mesma alteração correm risco de manifestar câncer de próstata, de pâncreas e de mama. É raro, mas o câncer de mama no homem existe”, enfatiza.

O oncologista Kleber Monteiro reforça que o sequenciamento genético independe da faixa etária e do sexo. “O familiar precisa saber que, se ele tem a mutação genética, pode evitar o surgimento do câncer, a segunda maior condição de adoecimentos e mortalidade no país, só perdendo para doenças do aparelho circulatório. E isso é possível com mudança do comportamento e do estilo de vida.” O médico salienta que, embora a retirada total da mama e dos ovários como forma de prevenção esteja contemplada na Lei 20.707/2020, o ato cirúrgico não é significativo no programa Goiás Todo Rosa. “O mais importante é acompanhar precocemente. Isso vai impactar nos serviços e nos custos social e emocional das famílias.”

<h3>Ato cirúrgico radical deve ser a última possibilidade</h3>

O Protocolo e Linha de Cuidado do Câncer de Mama que o governo de Goiás lança nesta segunda-feira (6), às 8 horas, no Hotel Transamérica, no Setor Marista, integra o programa Goiás Todo Rosa. O reforço veio do Instituto Natura, que há anos executa ações em todo o País em prol do diagnóstico precoce do câncer de mama. Em setembro, a instituição assinou um termo de cooperação com a SES para garantir apoio técnico e estratégico na ampliação do alcance do programa goiano. “A partir de agora, Goiás passa a ter uma rede estruturada que vai acompanhar a paciente desde a prevenção até o tratamento especializado”, explica o secretário estadual de Saúde, Rasível Santos.

Para o médico oncologista Kleber Monteiro, o programa Goiás Todo Rosa agora se apresenta com muitas vertentes. “Não é somente o que está posto na lei, que é garantir o exame de sequenciamento genético, mas um serviço de oncogenética com várias linhas de atuação. Vamos qualificar e capacitar profissionais, promover a assistência e despertar na sociedade a importância do autocuidado, do cuidado familiar e das mudanças de hábito. Em caso de necessidade de tratamento hospitalar, haverá o encaminhamento. É uma carteira de serviços”, ressalta. A qualificação pelo novo protocolo não é direcionada apenas a médicos e enfermeiros, mas também aos agentes comunitários de saúde.

“Tem gente que acha que retirar a mama e os ovários é a solução para evitar a síndrome do câncer hereditário, como fez a atriz Angelina Jolie, mas isso não tem necessidade”, diz Kleber. “O treinamento de profissionais para aumentar o número de biópsias está dentro da linha de cuidados. Isso nos ajuda quando o paciente chega no CEGH.” Em 2013, a atriz norte-americana Angelina Jolie, após detectar a mutação dos genes BRCA 1 e 2 em teste genético, decidiu realizar mastectomia profilática. A atitude, amplamente divulgada, fez surgir legislações no Brasil para que o exame fosse feito no SUS.

<h3>Mais de 73 mil novos casos no triênio</h3>

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), vinculado ao Ministério da Saúde, o câncer de mama é o tipo mais frequente da doença em todas as regiões brasileiras e está relacionado ao estilo de vida e aos ambientes urbanizados. O número estimado de casos novos no País para o triênio de 2023-2025 é de 73.610, o que corresponde a um risco estimado de 66,54 casos novos a cada 100 mil mulheres. Em Goiás, entre 2023 e até o presente momento, foram contabilizados 3.397 novos casos. No período, 1.717 mulheres goianas perderam a vida em razão da doença. A SBM estima que, com prevenção e diagnóstico precoce, a mortalidade pode ser reduzida em até 45%.

Embora haja uma multiplicidade de fatores para o surgimento da doença, como hereditariedade, estima-se que pela alimentação saudável e atividade física seja possível reduzir em até 28% o risco de a mulher desenvolver câncer de mama. Em caso de confirmação, a Lei nº 12.732/2012 estabelece que a paciente que apresentar neoplasia maligna tem direito de se submeter ao primeiro tratamento no SUS num prazo de até 60 dias a partir do diagnóstico.

<h3>Rastreamento na família é fundamental</h3>

Para ter acesso ao exame de sequenciamento genético de BRCA 1 e 2 pelo SUS, o paciente (homem ou mulher) precisa buscar uma unidade básica de saúde (postinho) e apresentar laudo que comprove histórico pessoal de câncer de mama e/ou ovário com tumor primário diagnosticado antes dos 40 anos ou triplo negativo diagnosticado antes dos 50 anos; ou ainda um laudo que comprove histórico familiar em dois parentes consanguíneos em linha reta ou colateral até o terceiro grau. O médico da atenção primária vai solicitar a um especialista – geneticista, mastologista ou oncologista – que faça o pedido ao CEGH.

Além de uma consulta com médico geneticista e o exame, o CEGH oferece aconselhamento genético. “Nós recrutamos os familiares, fazemos uma busca ativa. A grande importância desse programa é o rastreamento da família. Até agora o Goiás Todo Rosa já mostrou que 40% dos familiares que fizeram o teste possuem a variante patogênica e agora, o Estado está lançando o protocolo e a linha de cuidados para essa população”, lembra Elisângela Lacerda. Moradora de Jaraguá e com um histórico de várias doenças, Rosilene Maria Costa, 49, fez o exame de sequenciamento genético do BRCA que comprovou a mutação. Entre as seis irmãs, uma sucumbiu a um câncer de cérebro e o pai morreu de infecção generalizada a partir de um problema renal. “Acho que a origem foi meu pai”, afirma. As irmãs vão passar pelo teste genético no CEGH.

Em Campo Limpo (GO), a funcionária pública Silvia Maria Rodrigues de Godoi, 49, está na expectativa de fazer a retirada do ovário e das mamas por recomendação da mastologista. Ela foi diagnosticada com câncer de mama em 2016 e teve recidiva em 2023. “Fui encaminhada para o CEGH e meu teste apresentou a mutação genética. Tenho um casal de irmãos, mas eles não querem fazer o sequenciamento. E nem minha mãe”, lamenta. O câncer foi responsável pela morte da bisavó materna de Silvia. Para a funcionária pública, o exame ajudaria os familiares a prevenir possíveis futuros casos. Esse cuidado ela pretende manter com o casal de filhos.

A bióloga Elisângela Lacerda explica que o esforço da equipe do CEGH é no sentido de ampliar o rastreamento familiar. Ela conta a história de uma paciente de 30 anos, moradora de Uruaçu, que demorou muito a ser diagnosticada com câncer de mama e quando chegou ao centro de referência já estava com metástase. “Expliquei que ela deveria fazer o teste por ter tido o câncer muito jovem e os familiares também. Ela me disse que um tio tinha morrido por câncer de próstata, que está ligado à mutação do BRCA. Os irmãos e o pai fizeram o exame e a alteração do gene foi detectada no pai.” A equipe do CEGH já percorreu 11 municípios coletando material de familiares de pacientes para fazer o exame.

Busca genética reduz casos de câncer de mama entre goianas

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Saúde

Manhã de domingo bucólica, como tantas outras naquela Goiânia da segunda metade dos anos 1960. Entre o Coreto da Praça Cívica até a esquina da Avenida Goiás era realizada a Feira Hippie, em sua versão original, com poucas bancas, a maior parte delas vendendo peças de arte, num ponto de efervescência da cultura na cidade. Uma das tendas era da editora e livraria Cultura Goiana, constantemente visitada por escritores da época, como Bernardo Élis. Em outra, um homem barbudo apresentava suas peças de barro, potes e outros recipientes utilizados como enfeites ou utensílios domésticos, mas também algumas esculturas com faces humanas. Uma freguesa assídua se aproxima e dá a sugestão crucial: “O senhor deveria assinar seus trabalhos e vender como obras de arte”.

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O vendedor se chama Antônio, mas ainda sem o Poteiro no sobrenome. A cliente é a folclorista Regina Lacerda. O que veio depois integra a história das artes em Goiás. Poteiro não era um completo desconhecido em determinados espaços. “Ele já havia produzido peças para o cenário do programa O Mundo é das Crianças, da Magda Santos, na TV Anhanguera”, revela o filho do artista plástico, Américo, que hoje cuida do legado do pai. Ele também fabricava peças que eram assinadas por um xará seu, outro Antônio menos talentoso. Isso mudou após a sugestão de Regina Lacerda. O escultor não tinha pensado sequer num nome para si naquela possível nova fase. Mas em Nerópolis, onde ele tinha a cerâmica, as pessoas já o conheciam como Poteiro. Pronto, ele estava rebatizado.

“A Regina Lacerda teve um papel fundamental nesse momento importante da vida do Poteiro. Era rara a semana em que ela não ia à Feira Hippie para comprar uma peça dele. Além disso, muito bem articulada, começou a falar do Poteiro no meio artístico de Goiás, a cavar espaços na imprensa para comentar seu trabalho”, contextualiza o biógrafo do artista plástico, PX Silveira. “A Regina o provocou a se assumir como um artista. E ela também ajudou ao sugerir que ele produzisse suas esculturas numa relação com o folclore e as manifestações da cultura goiana”, acrescenta o professor e artista plástico Divino Sobral. “A Feira Hippie era um polo de cultura na época. As coisas aconteciam ali. Com Poteiro, isso funcionou”, pondera PX. Mas o destino reservaria outra reviravolta para o mago do barro.

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Foi o artista plástico Siron Franco quem primeiramente identificou em Poteiro a mão para a pintura. “Ele viu as peças de barro e disse que ele poderia colori-las. Siron ensinou ao Poteiro como ele deveria trabalhar com a tinta, como misturá-la, quais tipos de produtos eram mais adequados para peças em barro, para as telas”, sublinha Divino Sobral. “Foi no ateliê do Siron que o Poteiro encontrou um espaço para praticar. Certa vez, um cliente levou o filho de uns 10 anos de idade até lá para que ele escolhesse um quadro como presente de aniversário. O menino passou, viu o Poteiro pintando e quando o pai perguntou qual tela do Siron o menino queria, ele disse que queria um quadro do homem lá de fora”, conta PX Silveira. Siron articulou, ainda, muitos contatos de Poteiro com o mundo das artes.

Em uma entrevista concedida à TV Brasil Central nos anos 1980 e que hoje está no acervo do Museu da Imagem e do Som de Goiás, Poteiro recorda aquele momento. “Eu trabalhei em muitos ateliês, como no do Siron. Acho que foi melhor do que fazer curso de arte. Mas o artista nasce feito”, assegurou. Autodidata, ele tomou a própria trajetória como prova dessa sua tese. “Eu também gosto de colocar movimento nos meus trabalhos. Minhas cores são vivas, meu céu é bem azul, aberto. Isso também é um jeito de levar alegria para as pessoas”, justificou. Na mesma entrevista, ele revelou que, naquele momento de sua vida, dividia o tempo entre a pintura e a cerâmica. A esta última – “mais trabalhosa”, segundo ele –, dedicava 4 meses no ano. “São dois processos muito diferentes um do outro.”

Muitas de suas obras, sobretudo as de cerâmica, comunicam-se com a região onde nasceu, em Portugal, mas que não o viu transformar-se em artista. “Há um novo ponto de contato entre a construção criativa de Poteiro e o figurado de Barcelos”, escreve José Reinaldo Martins, professor da PUC Goiás, no livro Antônio Poteiro: Um Místico Luso-Brasileiro. “Em ambos, observa-se a modelagem do barro de acordo com as referências de mundo legadas pelo contexto regional, a influência direta da vida cotidiana refletida nos seus personagens anônimos, a tradição religiosa popular posta em cena, numa atmosfera mítica em que o sagrado e o profano se entrelaçam. Finalmente, a variedade das cores, cobrindo o barro ou a tela, como janelas que nos transportam a outros universos e verdades.”

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Os aspectos da fauna e fora do Brasil Central estão expressos nas obras de Poteiro&nbsp;

<h2>A sofisticação na simplicidade</h2>

Dentro das classificações mais tradicionais de escolas e estilos artísticos, os trabalhos de Antônio Poteiro costumam se encaixados no chamado naïf (ingênuo, em francês), que denotaria uma execução mais primitivista, menos acadêmica, mais instintiva, com temáticas populares e elaborações menos complexas. Bom, nada mais ilusório, segundo aqueles que entendem do riscado. “Poteiro tinha uma inteligência muito sofisticada, que se mostrava de uma forma muitas vezes ríspida e rústica, sem tanta delicadeza, mas que é muito expressiva”, avalia Divino Sobral, que fez a curadoria de uma grande exposição de Poteiro três anos atrás. “Quando ele dizia ser um artista barroco-karajá, isso fica claro na estrutura das peças, que se parece com as bonecas karajás, que vão subindo e ficando mais finas.”

“O que mais me chama a atenção na obra de Antônio Poteiro é a força da imaginação”, afirma a produtora de arte Malu Cunha, que também ajudou a montar a mostra de Poteiro em 2022. “ Ele pinta sem medo, com liberdade e verdade, criando cenas que parecem brotar da memória coletiva. Sua arte tem a capacidade rara de ser popular e, ao mesmo tempo, universal, que fala da vida simples, mas alcança qualquer pessoa, em qualquer lugar”, elogia. “Muitos definem Poteiro como um artista naïf, por sua pintura espontânea e intuitiva. Eu, porém, prefiro não prender sua obra a rótulos: vejo nele, acima de tudo, um grande artista brasileiro. Sua criação vem da vida, da cultura popular e de uma imaginação intensa, resultando numa arte única, que expressa de forma autêntica a nossa identidade.”

“Antônio Poteiro é um artista que conseguiu dar voz plástica à alma popular de Goiás e do Brasil, elevando-a ao reconhecimento nacional, e consolidando-se como um dos maiores representantes da arte naïf brasileira”, considera o pesquisador e crítico de arte Antônio Da Mata, atual diretor do Museu de Arte de Goiânia. “Poteiro ocupa o lugar de maior representante da arte popular e naïf em Goiás e é um dos grandes nomes dessa vertente no Brasil. Sua importância é enorme porque conseguiu transformar a simplicidade e a memória coletiva em arte de alto valor estético e cultural, reconhecida nacional e&nbsp;internacionalmente”, completa Da Mata, com a autoridade de quem ajudou a constituir acervos e coleções em que obras de Poteiro estavam incluídas.

Divino Sobral chama a atenção para o fato de que a arte barroca mineira, que Poteiro gostava de revisitar em viagens e formas de produzir, foi uma influência relevante, mas não como modelo para imitações. “Poteiro é único porque ele soube retrabalhar aquelas tinhas complexas em sua arte de forma completamente inédita. Ele uniu aquela herança com o imaginário dos povos originários, com as festas populares. Isso ninguém fez”, assinala. Outra das marcas de sua arte é a ocupação completa de espaços, sobretudo na pintura, numa complexa tecitura de cores e referências que criam narrativas. “Ele cria histórias novas nessa superfície do quadro. A gente pode ver nas primeiras telas o empastado, que é uma procura pelo equilíbrio no trabalho com a tinta, algo que ele conseguiu realizar.”

O filho Américo relata que o pai não fazia desenhos prévios antes de começar uma nova tela. “Ele já ia para o quadro com tudo na cabeça. Ele só fazia o esboço já na tela e depois ia pintando”, descreve. “Pintava até 10 quadros ao mesmo tempo e nas telas maiores, demorava até 3 meses, porque ia e voltava várias vezes ao mesmo trabalho. Pintava uma parte, deixava secar, e depois voltava para fazer outra parte.” Outra particularidade era o método de produzir proseando. “Ele gostava de conversar. Fazia seus intervalos. Pintava o dia inteiro, mas sempre dava pausas”, recorda do filho. Poteiro tinha o hábito de ler O Popular todos os dias, de não perder o Jornal Nacional e de acompanhar novelas. Ele também adorava cinema. Ia ao Cine Cultura, na Praça Cívica, com frequência.

Isso demonstra o olhar atento que manteve sobre o mundo e as pessoas e que nunca deixou esmorecer. São famosos os seus trabalhos que redimensionam manifestações da cultura popular, como as Cavalhadas e as festas juninas, mas em constante diálogo com outras fontes de inspiração. Alguns de seus trabalhos trazem essa marca eclética e, por que não dizer, cosmopolita. Sua releitura Via Sacra 3000, com os quadros que refazem a Paixão de Cristo, é um bom exemplo desse talento incomum em refigurar de maneira original mesmo as cenas mais conhecidas. A imensa tela A Criação do Mundo (tem 1,86m de altura por 2,70 de comprimento), pintada num suporte especial presenteado por Siron Franco, é outra obra-prima que denota a simplicidade que se expande numa base muito sofisticada.

“O uso das cores em Poteiro tem algo de encantador, que prende o olhar de imediato. Esse colorido intenso e cheio de vida faz com que suas telas sejam acessíveis a todos, mesmo para quem não tem muita intimidade com o mundo das artes. É uma pintura que convida, acolhe e desperta curiosidade”, salienta Malu Cunha. “É uma obra colorida de fácil leitura nas suas representações. Representam o esmero e soberania, paisagens do Centro Oeste, como povos indígenas, a fauna, em especial os psitacídeos (família dos papagaios e araras). Há ainda os rios e os animais que habitavam neles”, completa Antônio Da Mata. O azul dos céu e das águas, o verde das matas, o amarelo das vestes, o vermelho da terra. Tudo vibra em Poteiro, da cerimônia do pote indígena ao Descobrimento do Brasil.

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Os personagens sertanejos também são característicos nas pinturas do artista&nbsp;

Admiradores e valorização

Nas dezenas de álbuns de fotografias guardados no Instituto Antônio Poteiro, Américo, seu filho, mostra registros que demonstram o quanto a carreira do pai superou fronteiras. Em uma das imagens, o escritor Jorge Amado e sua esposa, Zélia Gattai, conversam com o artista plástico. Outro casal célebre, Fernanda Montenegro e Fernando Torres, estão numa foto dos anos 1990, com obras de Poteiro ao fundo. Em uma terceira fotografia é o ator Raul Cortez quem ouve Poteiro com atenção numa conversa. Quem também tinha obras do artista plástico era o colecionador e produtor Luiz Gravatá, do Rio de Janeiro, que ajudou a apresentar o talento de Poteiro em círculos de clientes célebres. “Muita gente de outros estados e até de fora do Brasil adquiriram obras do Velho. Até hoje é assim”, diz Américo.

Uma prova disso foi obtida na pesquisa que o professor José Reinaldo Martins, da PUC Goiás, realizou em Portugal sobre a obra de Poteiro. “Em consulta ao Museu do Casino, em Estoril, Cascais, descobrimos que a primeira menção ao nome de Poteiro não é de 1986, mas de 1980, como integrante de uma mostra coletiva do Salão de Pintura Naïf. Desde então, a participação do artista se tornou frequente, em mostras coletivas ou individuais”, informa. Naquela época, Poteiro chegou a morar um período por lá produzindo peças. “O Museu do Casino de Estoril conserva fotografias em que se pode observar a presença de Poteiro junto aos demais, entre outros pintores e figuras ilustres da cena cultural da época”, complementa. “Poteiro expôs suas obras em 41 países”, contabiliza PX Silveira.

Centenário de Antônio Poteiro: descubra como o artista construiu sua carreira já na maturidade

ESPECIAL

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A estudante de&nbsp;ciências ambientais,&nbsp;Larissa Andrade, de 25 anos, gravou o momento em que as janelas de um ônibus da&nbsp;Universidade Federal de Goiás (UFG) caíram durante uma viagem campo.&nbsp;Segundo a estudante, o incidente aconteceu quando eles estavam retornando da cidade de Caiapônia, na região sudoeste do estado, para Goiânia.&nbsp;Ao&nbsp;POPULAR, a jovem contou que a janela já estava um pouco ‘bamba’ e quase caiu em outros momentos do passeio.

Conforme relatado pela estudante, durante o percurso de ida, o ônibus tremeu até a janela começar a sair. Assim que o motorista e o professor perceberam, eles desceram e conseguiram encaixá-la novamente. Larissa contou que foi só na volta que a janela 'despencou' e assustou a todos.

Ao&nbsp;POPULAR, a UFG informou, por meio de nota, que 'a estrada&nbsp;ser bastante acidentada gerou danos à suspensão e pneus, além de provocar o desacoplamento do vidro'. Ainda segundo a nota, a Universidade informou que enviou outro transporte para realizar o retorno dos estudantes.

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Jovem contou que a janela já estava um pouco ‘bamba’ e quase caiu em outros momentos do passeio (Arquivo pessoal/ Larissa Andrade)

Na gravação, Larissa Andrade se assusta com a janela caindo e grita. Em seguida, ela e os outros colegas começam a rir. A estudante de&nbsp;ciências ambientais disse que ela e os colegas riram bastante.&nbsp;

<cite>No momento exato em que a janela caiu, eu assustei. Tanto que gritei. A minha colega gritou também sem saber o que estava acontecendo e, de repente, a janela caiu. Depois disso, a gente riu bastante", disse Larissa Andrade.</cite>

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/magazine/goiania-mostra-curtas-tem-homenagens-shows-e-cursos-veja-programac-o-1.3319036" target="_self">Goiânia Mostra Curtas tem homenagens, shows e cursos; veja programação</a> 
 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/wes-gama-e-unico-goiano-a-pintar-mural-no-historico-museu-goeldi-em-belem-do-para-1.3318709" target="_self">Wes Gama é único goiano a pintar mural no histórico Museu Goeldi, em Belém do Pará</a></div>

<h3>Nota da UFG</h3>

"A Diretoria de Logística da Universidade Federal de Goiás (UFG) informa que no dia 27 de setembro, sábado, no retorno de uma atividade de campo da disciplina de Hidrogeologia, do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa), no retorno de acampamento próximo ao município de Caiapônia, houve uma ocorrência com o vidro de uma janela de um micro ônibus. Durante um trajeto de 15 km, por ser em estrada bastante acidentada, gerou danos à suspensão e pneus, além de provocar o desacoplamento do vidro. Para zelar pela segurança dos usuários, a Divisão de Logística da UFG enviou de imediato outro veículo para que os estudantes pudessem voltar para Goiânia".