“Uma vagina incomoda muita gente”. A afirmação faz parte de um desabafo nas redes sociais da artista curitibana Bruna Alcantara sobre a alteração de uma obra realizada no Centro de Goiânia. A convite do Lambes Góia - Festival Internacional de Lambe-Lambe, a artista criou um painel no entroncamento entre a Rua 9 com a Av. Tocantins, com uma imagem sua amamentando o filho no colo. “Em menos de 12 horas tiraram apenas o bordado que representava a vagina”, escreveu.Ao POPULAR, Bruna diz que foi a primeira vez que obteve resposta negativa e violenta da obra. A artista já expôs o mesmo trabalho em países como Portugal e outras capitais brasileiras, a exemplo de Curitiba e São Paulo. “A gente colou o trabalho numa parede que, pelo que me foi dito, já tem intervenções urbanas há anos. Mas pelo visto, o que incomodou foi o conteúdo da obra”, explica.A intervenção na obra levanta a discussão sobre a representatividade da mulher em diversos espaços da sociedade, como na arte e na política, e o aumento do feminicídio no Estado. “Os casos de feminicídio aumentaram 23% em Goiás entre 2020 e 2021 - a cada 5 dias, uma mulher é morta em Goiânia. Em 2022, 100 mulheres serão vítimas da violência doméstica por dia em Goiás”, afirmou em seu perfil do Instagram (@brunaalcantara.00). A artista recebeu dezenas de manifestações de apoio na internet.Jornalista e artista visual, Bruna cria trabalhos artísticos em uma misto de fotografia, colagem e bordado que refletem sobre feminismo. “Para minha surpresa, só tiraram o bordado que representava a vagina… e desde então, a reflexão que fica é: por que uma vagina incomoda tanto? Ainda mais uma de maneira figurada, poética, representada por linhas (de bordado)”, diz.A obra faz parte de uma série de murais que estão sendo instalados no Centro, Sertor Universitário, Oeste e Sul até o dia 28, dentro da programação do Lambes Goia - Festival Internacional de Lambe-Lambe. Além da artista curitibana, participam do projeto nomes como o sul-mato-grossense Leonardo Mareco, e os goianos Ricarjones, Karla Planta e Gabi Matos.Organizador do Festival de Lambe-Lambe, o artista visual Diogo Rustoff lamentou o ato de vandalismo. “Em primeiro lugar eu enxergo com tristeza, mas não estou surpreso. O Lambe é uma expressão artística muito vulnerável e nós que utilizamos a linguagem temos um certo desapego em relação aos nossos trabalhos. Mas a velocidade e a maneira que o trabalho dela foi destruído (somente na região do bordado) foi muito simbólico.”Rustoff destacou o fato do Centro de Goiânia abrigar diversos moradores de rua, “com sua Cracolândia que só cresce, mas para o Goianiense médio, um trabalho artístico é mais agressivo do que ver um viciado em droga dormindo sobre seus próprios excrementos”. Apesar do episódio, o artista afirma: “a ação não vai nos fazer desistir do que acreditamos”.Dentro da programação do festival, uma exposição de lambes também está em cartaz na Vila Cultural Cora Coralina. A mostra reúne o trabalho de mais de 20 artistas feitos na técnica do lambe-lambe. Desenhos criativos e ilustrações animadas ao lado de frases divertidas, políticas e sociais podem ser vistos até o dia 28 de julho.Leia também:- Luan Santana estreia festival em Goiânia e promete levar formato para todo o Brasil; veja vídeo- Disco póstumo de Marília Mendonça é lançado nesta quinta- Documentários e filme brasileiros são opções nos cinemas de Goiânia-Imagem (Image_1.2495460)