À primeira vista, os trabalhos do artista visual Luciano Drehmer, 37 anos, parecem escorrer na tela. Terapia para organizar os pensamentos cotidianos, a arte para o anapolino é uma espécie de representação visual de como ele se sente e como suas ideias se comportam. De morada na China desde 2016, o profissional foi convidado para participar da Feira de Arte Nacional da China, realizada na Shenzhen Convention e Exhibition Center, em Hong Kong, com três trabalhos que destacam a heterogeneidade do que vem sendo feito em sua galeria, a TNT Contemporary. Amalgamado de pop art com experimentações e volumes disformes, Drehmer (@drehmer) brinca, como se fossem massinhas de modelar, com personagens populares da cultura pop, como o Mário, da franquia de games da Nintendo, ou as crianças da Turma da Mônica, de Maurício de Souza. No jogo de esticar e puxar, o artista acaba discutindo conceitos de apropriação, direitos autorais e transformações visuais. Em suas obras, tudo que é sólido pode derreter. Em entrevista ao POPULAR, o goiano fala sobre a exposição, trabalhos artísticos e a morada na China.De que forma você chegou até a China? Cheguei à China em 2016 após uma temporada na Tailândia. Vim para Ásia com o objetivo de trabalhar e explorar esse continente que, para mim, era uma incógnita.Sobre a exposição coletiva em Hong Kong, quais trabalhos estão expostos e como se deu este convite?Participei da Feira de Arte Nacional da China por meio da minha galeria, a TNT Contemporary, que é focada em artistas estrangeiros na China. Expus três trabalhos, sendo uma pintura de 7 metros de largura, uma escultura de aço inox e vidro e outra pintura de 3 metros trabalhada com folhas de ouro.A exposição que você participa é coletiva com artistas de todo mundo. Tem pretensões de realizar uma individual na China?Já estou preparando minha primeira exposição individual da vida. Estabeleci uma relação com uma galeria de arte em Dafen, uma vila de arte muito famosa na China de onde saem 60% das pinturas que são vendidas no mundo. Comecei a criar algumas obras para eles e depois eles me convidaram.As suas obras parecem escorrer por entre as telas, como se estivessem derretendo num jogo de muita cor. Como são feitas?Eu tenho uma cabeça muito frenética, meu pensamento é muito divergente e acelerado. Meu trabalho como artista é como se fosse uma terapia para ajudar a organizar meus pensamentos e a representação visual dele é mais ou menos como eu me sinto e como meus pensamentos se comportam.Você brinca com personagens populares de desenhos e jogos, a exemplo do Mário, Bart Simpson e da Pantera Cor de Rosa. De que forma é feita a seleção dos personagens? Eu me inspirei inicialmente quando morava no Brasil em desenhos tortos da turma da Mônica em muros de borracharias e escolas infantis brasileiras. Aos poucos fui distorcendo esses personagens como se eles fossem uma massinha de modelar e os transformando em outras coisas. Entendi que meu trabalho era sobre apropriação e transformação. Então comecei a me apropriar de personagens que já são conhecidos da maioria das pessoas e transformar, remixar e misturá-los, abrindo questões sobre apropriação, direitos autorais, cópia, criação e transformação.Quais suas maiores referências artísticas atuais?Andy Warhol, Koons, Murakami, Kusama, Picasso, Makoto Aida, Tarsila do Amaral e Burle Marx.De que forma a pandemia afetou seus trabalhos aí na China? A pandemia aqui foi bem diferente, praticamente não se vê casos e o controle é muito rígido. A principal coisa foi que ficou difícil para mim sair aqui do país para visitar a família já que não posso voltar.Existe uma diferença em ser artista visual no Brasil e na China?Imensa. Acho que no Brasil o mundo da arte é muito engajado em política e pautas progressistas. Já aqui vejo que é mais focado em poéticas, deleite e temas positivos. Preciso ter mais cuidado e ser mais delicado com o que falo por aqui. Mas, de uma forma geral, na Ásia a arte é muito pouco política.Qual foi a última vez que você esteve em Goiânia? Quais artistas goianos você admira?Já tem dois anos e meio, vou com pouca frequência especialmente devido à pandemia. Meus favoritos são o Oscar Fortunato, Bicicleta Sem Freio, Selon, Juliano Moraes, KBoco, Marcelo Solá, Siron Franco e Poteiro.-Imagem (Image_1.2386471)-Imagem (Image_1.2386472)