As festas populares, as belezas do Cerrado e os temas religiosos sempre foram inspiração para os artistas plásticos na hora de representar Goiás nas suas produções. Antonio Poteiro, Amaury Menezes e Omar Souto são alguns dos que retratam muito bem a identidade cultural nas suas telas. A preferência não é uma exclusividade dos grandes nomes da arte goiana, ela se renova em ciclos e conquista várias outras gerações que levam em traços e cores as crenças, tradições e o cotidiano do Estado para as telas.“A produção goiana desperta atenção pela temática e força das pinceladas. Goiás é um celeiro de artistas plásticos, que se renovam a cada década com nomes antenados no tempo em que vivem. São obras reconhecidas dentro e fora do País, presentes em coleções importantes e nos principais museus do mundo”, analisa o crítico de arte e diretor da Vila Cultural Cora Coralina, Gilmar Camilo. Boa parte das obras chama atenção pelos registros fiéis do dia a dia, da natureza, do folclore e da preservação da memória e da história.Carros de boi, vendedores de leite e personagens como a poetisa Cora Coralina e o contador de causos Geraldinho Nogueira estão na obra de Auriovane D’Ávila, de 42 anos. Ele aprimorou a pintura com areia da Serra Dourada, técnica reconhecida pelas mãos de Goiandira do Couto (1915-2011). “O meu foco sempre foi o cotidiano da cidade, o vendedor de banana, o carroceiro, aquela coisa mais bucólica da pessoa varrendo a porta de casa. São lembranças que não deixo morrer e que são pura goianidade no meu trabalho”, conta.Auriovane é influenciado pela obra de Goiandira, apesar de não ter aprendido diretamente com ela a técnica que a tornou famosa internacionalmente, com obras vendidas para presidentes, governadores e artistas de vários segmentos. Quando visitou o ateliê da artista na cidade de Goiás, no final dos anos 1990, ele ficou apaixonado pelo jeito de ela trabalhar e pelo material utilizado. Ao chegar em sua casa, ele tentou fazer igual e abandonou a tinta óleo. “Ela é a minha referência, sem ela eu não existiria nas artes”, conta.O goiano lembra que o teste de fogo foi quando apresentou uma obra para uma avaliação de Goiandira. Auriovane pintou um anjo São Miguel Arcanjo, da obra de Veiga Valle. “Ela falou que não era possível fazer aquele trabalho com tanta perfeição. Ela tinha achando que tinha jogado tinta por baixo e areia por cima. Eu fiquei honrado com aquele comentário porque ela me passou a segurança que eu tinha ido além, passando a fazer rostos, sendo que ela fazia casarios coloniais e ruas. Aquilo foi gratificante”, recorda-se.RaízesAs riquezas do Cerrado são temas para a obra de Santana Rosa, de 64 anos. A capivara, a tartaruga, o lobo guará, o jacaré, o tamanduá e a onça pintada aparecem com frequência em sua obra em cores fortes e vibrantes. Em acrílico sobre tela, a natureza é mostrada coberta de folhas secas ou em bambuzais misturados com elementos da arte rupestre. “Sou apaixonado pela minha terra e envolvido nessa onda de preservação ecológica”, conta ele, que tem no currículo mostras nos EUA, China, Reino Unido, Japão, Alemanha e Holanda.A cultura dos Carajás, índios que moram nas margens do Rio Araguaia, nos Estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso, estão também na obra de Santana. Ele fez pesquisas no campo da cultura indígena no período que morava em Cuiabá nos anos 1980 quando ainda trabalhava numa empresa veterinária – profissão abandonada em 1995. O artista inclusive fez, mais tarde, uma série de trabalhos em totens, símbolo sagrado adotado como emblema das tribos. “Foi uma maneira que encontrei de valorizar nossas raízes”, comenta.Autodidata, Santana completou recentemente 40 anos de carreira representados em trabalhos ora extremamente contemporâneos, ora abstratos ou naïf. Independentemente do estilo ou suporte, a temática ambiental se manteve intacta. “Eu sou um pintor muito inquieto e não abro mão da minha liberdade. Desenvolvi um estilo próprio e que não tem influência nenhuma de escola ou mercado”, valoriza. Outro goiano que bebe bastante dessa fonte natureza é o artista Manoel Santos, conhecido por retratar os animais do Araguaia.Terra de coresO lugar onde vivem faz parte da criação dos artistas goianos. Amaury Menezes, por exemplo, é um dos maiores cronistas do Estado. Vendedores ambulantes, crianças, jovens e adultos brincando nos parques não passam despercebidos na sua arte, assim como o Rio Araguaia. Antonio Poteiro é reconhecido por retratar festividades regionais, como as Cavalhadas e o Fogaréu, assim como Helena Vasconcelos e Lourdes de Deus. Já o homem do campo, o casamento na roça e os temas sacros são a marca na carreira de Omar Souto.Quem provavelmente inspirou gerações de artistas goianos nesse caminho de registrar o cotidiano foi o frei Nazareno Confaloni (1917-1977), um dos pioneiros da Arte Moderna em Goiás. Casarios, paisagens, personagens populares, lutas sociais, temas sacros e cenas de trabalhadores ganharam telas nas mãos do religioso. Um dos trabalhos mais conhecidos do pintor é o conjunto de painéis que ornamentam a antiga Estação Ferroviária de Goiânia, na Praça do Trabalhador. As obras mostram a formação da população goiana.-Imagem (Image_1.2091303)-Imagem (Image_1.2091302)