Realizar uma simples tarefa do dia a dia, como subir e descer o pequeno degrau na entrada de casa, pode se tornar um tormento por causa da dor crônica. Essa era a realidade diária de Maria Abadia de Oliveira, de 74 anos, diagnosticada com três problemas diferentes no joelho: artrose, artrite e derrame articular. “Para se ter uma ideia, eu acabei com a maçaneta da porta porque precisava apoiar nela para firmar na hora de subir e descer o degrau. Eram muitas dores”, lembra.Após os diagnósticos, ela passou a seguir as recomendações de tratamentos medicamentosos. “Mas o médico me avisou: se não melhorar, vai ter de operar”, conta. As dores não cessaram e, por causa da diabetes, Maria Abadia ficou receosa de seguir o tratamento prolongado com corticoide, que pode afetar a produção de insulina e níveis de glicose no sangue. Foi em busca de tratamentos naturais para o alívio das dores e comemora que tem funcionado até então. Quando os incômodos começam, ela faz uma compressa quente de linhaça duas vezes ao dia, ao longo de cinco dias. “Não quer dizer que funcione para todos, mas para mim alivia muito. Faço minhas atividades, costuro, trabalho. Estou há oito anos seguindo assim e sem cirurgia”, comenta.As doenças ainda existem, as dores vez ou outra voltam a aparecer, mas Maria Abadia aprendeu a contornar a situação e tornar as condições de saúde crônicas menos limitadoras para o seu dia a dia. Conviver com dores crônicas, que podem ser causadas por uma diversa gama de patologias, é a realidade de aproximadamente quatro em cada dez brasileiros, segundo uma recente pesquisa da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED).Leia também:- Veja 8 erros cometidos no emagrecimento- Saiba como enfrentar os impactos da baixa umidadeAlém de provocar incômodos, as dores podem afetar a mobilidade e impactar diretamente as tarefas rotineiras, o trabalho e o lazer das pessoas que convivem com os sintomas causados por condições como a artrose. O Ministério da Saúde estima que cerca de 15 milhões de pessoas no Brasil sofram com a doença, também conhecida como osteoartrose ou osteoartrite, doença degenerativa que afeta e desgasta as articulações, causando rigidez e dores em diversas partes do corpo, como os joelhos e os quadris.A condição é comumente confundida com a artrite reumatoide, mas elas não são a mesma coisa. A artrite é uma doença inflamatória crônica e autoimune, caracterizada pela inflamação das articulações especialmente dos dedos, punhos, joelhos e tornozelos. É causada por um ataque do sistema imunológico ao próprio organismo e provoca inchaço, rigidez e dores nas articulações.IdadeA artrose é uma das doenças que geralmente se associa ao avanço da idade e com alto índice de acometimento da população brasileira. Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, a incidência aumenta com o passar dos anos, sendo pouco comum antes dos 40 e mais frequente após os 60 anos. Por volta dos 75 anos, 85% das pessoas apresentam evidência radiológica ou clínica da doença, mas somente de 30 a 50% dos indivíduos com alterações observadas nas radiografias se queixam de dor crônica.Pelo desgaste da cartilagem com o passar dos anos, tecido que reveste as extremidades ósseas, há um aumento do atrito entre os ossos e, por isso, o quadro se agrava com o avanço da idade. Histórico familiar de artrose, movimentos repetitivos, lesões, obesidade, malformações e outras doenças, como a artrite reumatoide, também estão entre os fatores que aumentam as chances do desenvolvimento da doença. O gênero também influencia na incidência dos casos, sendo as mulheres as mais atingidas principalmente pela diminuição do hormônio estrogênio na fase da menopausa.Apesar da idade ainda ser o maior fator de risco para a artrose, um levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, em 2017, mostrou que 20% dos indivíduos diagnosticados estão na faixa dos 30 anos de idade. Entre os jovens, as principais causas estão alterações no formato dos ossos do quadril e entre os praticantes de atividades físicas, já que impacto frequente e repetitivo nas articulações provoca um desgaste prematuro da cartilagem, como explica o ortopedista David Gusmão. Ao pessoal que joga futebol, tênis, pratica artes marciais, corrida ou caminhada com frequência, o especialista pede atenção não só aos joelhos, mas também ao quadril.“Acontece muito com quem joga futebol, por exemplo, começar a ter distensões musculares de repetição, que chamam de tendinite crônica na região da virilha ou de virilha aberta. Dores crônicas de repetição durante ou após atividades físicas na região do bolso da frente da calça merecem avaliação radiológica e exame físico com ortopedista”, alerta. Em estágio mais avançado, a pessoa começa a sentir dor ao agachar, sentar em um banco mais baixo, colocar meias, sapatos, cortar a unha dos pés, entrar e sair do carro. “Em viagens longas, a pessoa se sente meio travada da articulação do quadril, as pernas também ficam travadas e ela precisa levantar do carro e dar uma caminhada para aliviar”, exemplifica.TratamentosA recomendação de tratamentos para a artrose varia de acordo com o quadro apresentado, mas, em geral, indica-se o uso de medicamentos que aliviam os sintomas, como anti-inflamatórios, analgésicos e pomadas. Acompanhamento com fisioterapeuta para a realização de exercícios de mobilidade e uso de aparelhos e recursos térmicos também podem ser indicados.Exercícios físicos para o fortalecimento da musculatura que envolve a articulação afetada estão entre as principais indicações de tratamento. “Quando as alterações são detectadas precocemente, conseguimos orientar quanto aos exercícios mais e menos adequados. Agora, se esse paciente já tem sintomas de dor que não melhoram com o fortalecimento muscular e fisioterapia, precisamos tomar um passo adiante e fazer a correção por intermédio da intervenção cirúrgica”, aponta o ortopedista David Gusmão.Os procedimentos cirúrgicos são minimamente invasivos e podem corrigir alterações de formato no quadril retardando ou parando completamente o desgaste na região; também podem realizar a substituição total da articulação do joelho por próteses ortopédicas (artroplastia). Após a cirurgia, o indivíduo consegue retomar as atividades do dia a dia em curto espaço de tempo.“Normalmente, no dia seguinte ao procedimento de colocação da prótese total com o auxílio das plataformas robóticas, o paciente já consegue se sentar e ficar em pé, dando os primeiros passos com a ajuda de um andador”, explica o ortopedista e professor de medicina do esporte Moisés Cohen. “Nesse momento, começam também as sessões de fisioterapia para que o paciente possa voltar a se locomover gradativamente e realizar atividades do dia a dia com autonomia.”