Após duas indicações ao Emmy Internacional pelo papel do traficante Evandro do Dendê na série Impuros (Fox Premium), o ator Raphael Logam, 36, diz que conseguiu fugir dos personagens com perfis violentos que muitas vezes são destinados a atores negros. Durante alguns anos, Logam teve de recusar convites que reforçam esse estereótipo.“As recusas a esses papéis têm a ver diretamente com as pessoas que só conseguem ver a gente (pessoas negras) nesse lugar. Só nos colocam nesse lugar. Minha missão é mostrar que na favela tem de tudo. De tudo mesmo. Não só o que a galera do achismo pensa”, afirma Logam, que foi criado entre a favela da Rocinha e a Gávea, zona sul do Rio de Janeiro.“Violência existe em qualquer lugar. Seja na favela, no asfalto, no sítio, na fazenda, pousada. Isso vai sempre ser contado. O que importa é a forma que querem contar. “Quem vai fazer cada personagem? Vai mais uma vez cair no estereótipo? Se sim, não aceito fazer.”No filme Mato ou Morr, ainda sem data de estreia, o ator interpreta o médico Marcos, que tem uma pousada na cidade de Gramado, no Rio Grande do Sul, e há anos está tentando reformá-la para a alta temporada. Quando consegue concluir a reforma, ele e seu melhor amigo Caio (Sacha Bali), se deparam com os caseiros, um casal de argentinos, mortos no local.Diferente de outras séries e filmes violentos em que atuou, Logam diz que esse personagem se depara com o crime e fica todo atrapalhado para resolver, exaltando a comédia sem perder o suspense. “Aceitei fazer o personagem pelo humor, suspense e pelo diretor Caco Souza, que é um grande amigo. Enfim, o conjunto da obra.”Emendando um trabalho atrás do outro, o ator admite que não teve muito tempo para se preparar para o personagem do filme. “Mas, com muita leitura, entrega e vontade de fazer, consegui achar um tom bacana para o personagem. Espero que a galera goste.”Após as gravações do longa, o ator curte uma temporada de descanso em Jericoacoara, no Ceará, ao lado da namorada, a atriz Karla Bonfá, que também atuou no filme. Mas não por muito tempo, já que ele se prepara para gravar a quarta temporada da série Impuros, além de outros projetos. Neste ano, ele lança também uma série e um filme. “Estou seguindo com a bênção dos Orixás e de Exú.”Apesar do sucesso na carreira, Logam ainda sonha um dia em contracenar com o amigo e ídolo Lázaro Ramos, 43, que o dirigiu na peça O Método Grönholm - Em Busca de um Emprego e a quem chama carinhosamente pelo apelido Lazinho. “Falta isso para fechar o pacote. Lazinho é um ídolo nesse marzão de ídolos que tenho. Alguns, infelizmente, já se foram. Mas gosto de atuar com os mais velhos e os mais novos. Essa troca de aprender ensinando e ensinar aprendendo é uma delícia. Aprendi isso na capoeira e sendo pai. Essa é a minha filosofia.”Nascido no Rio de Janeiro, Logam começou a se interessar pela atuação aos 12 anos quando fez a primeira peça de teatro na escola pública em que estudava, no bairro da Gávea. “Me identifiquei, gostei, pirei e segui. Fui para a extinta Casa da Gávea, em 2000, e lá fiquei anos mergulhando e aprendendo com a família Thiré.”Em 2003, ele fez a primeira peça profissional e continuou fazendo diversos cursos de atuação em paralelo aos trabalhos como ator. O primeiro protagonista de TV foi interpretando o personagem título da série A Turma do Pererê, entre 2008 e 2009. Pela atuação na peça infantil Macunaíma - Uma História de Amor, ele foi indicado ao prêmio Zilka Salaberry.“Continuo seguindo, estudando, respeitando, aprendendo e ensinando. Dificuldade sempre teve, meu caminho é feito de sangue e suor, mas sou filho de guerreiros (pai funcionário público e mãe empregada doméstica) e o fruto não cai longe do pé. Tenho apoio dos meus melhores amigos: meus pais, minha filha e minha família. Seguimos!”