A próxima novela das 19 horas da Globo, Cara e Coragem, que estreia no dia 30 de maio, vai colocar os holofotes sobre um elenco de protagonistas pretos. E engana-se quem pensa que seus papéis terão caráter de subserviência como historicamente pode ser visto na TV. Os atores, cujos personagens são cheios de riqueza, afirmam ser um “marco histórico na TV”.“Se você abrir as cortinas dessa novela, a diversidade aparecerá. O audiovisual sempre nos colocou em submissão e quando vemos um núcleo preto com três gerações cheias de dinheiro e que não conheceram a pobreza, isso é representatividade. 56% do meu povo poderão se sentir representado”, afirma Claudia di Moura, que na trama vive Martha, a matriarca da família Gusmão e presidente de uma siderúrgica.De acordo com ela, a família à qual está inserida na história é a “encarnação da justiça social que reivindicamos”. Para a artista, o momento é de mudança. “O núcleo preto tem palavra e está sendo ouvido. Essa família vive sem aflição e esse é meu sonho para a atualidade”, destaca a atriz, que também se diz feliz por gozar de privilégios e por “poder usar Gucci na TV”.Filho dela em Cara e Coragem, Ícaro Silva também comemora o avanço com o protagonismo preto. Seu personagem é Leonardo, um vilão que quer tomar o controle da empresa da família após a morte da irmã, Clarice (Taís Araújo). “Ele se apresenta como um cara jovem, um preto bilionário que tem Porsche, empresa de sucesso, já nasceu rico. O poder também é lugar de afeto”, destaca o ator. Ícaro Silva também ressalta a importância do momento e fala sobre as relações familiares com a irmã Clarice e com a mãe Martha. “Com a morte da irmã, cria-se uma tensão no desejo do Leonardo. A Clarice sempre foi a mais poderosa, a que teve o afeto mais direcionado pra ela. Quando ela morre, o Léo também fica sem chão. O que ele quer não é necessariamente estar no topo. Leonardo quer muito manipular essa mãe, mas ao mesmo tempo quer ser amado, respeitado, admirado por ela. É um personagem que se equilibra entre esses lugares muito diferentes e isso que o torna tão instável. Acho que as ambições dele passam dos limites, mas as motivações dele são muito genuínas.”Quem também achou ótimo todo o destaque à negritude na trama foi Paulo Lessa, que nela interpreta o bem-sucedido instrutor de parkour Ítalo. Paulo Lessa conta que o treinamento de dois meses foi essencial para mergulhar na composição do personagem, que é um dos protagonistas da história. “Fiz uma série de testes on-lines, e mais outros testes, até que fui chamado para um presencial com a Taís. O Ítalo é um personagem muito especial. Na minha infância, na minha adolescência, não tive um Ítalo como referência, né? A novela vem quebrando alguns estereótipos. É um protagonista negro muito bem-sucedido. Não é um personagem superficial.”“Essa novela vai quebrar estereótipos e irá além do entretenimento. E ele é um personagem negro, protagonista, bem-sucedido, com um carro incrível e uma casa maravilhosa. E não é superficial. Feliz e orgulhoso de fazer parte.”Tudo isso é resultado da iniciativa da autora, Claudia Souto. Durante um bate-papo com a imprensa, ocorrido na segunda-feira (16), ela contou que ainda está aprendendo e que não quer revolucionar o audiovisual, mas dar um passo de cada vez no sentido contra a discriminação. “Sou fruto de uma dramaturgia assistida desde pequena do patriarcado branco. E é tudo muito novo para mim. Agradeço aos meus atores pela generosidade de me ensinarem nos dias de hoje.”