Por meio do barro da região do Araguaia, pouco a pouco as bonecas ganham formas únicas, feitas de argila modeladas e pintadas com urucum e ixarunina. Para os adornos, cera de abelha, linha de algodão e miçangas. Tombadas como patrimônios imateriais brasileiros desde 2012, as bonecas Karajá e seus modos de fazer agora conquistam um Plano de Salvaguarda elaborado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

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As bonecas representam a cultura e a vida de determinados povos originários da região de Goiás, Tocantins, Pará e Mato Grosso. Mais do que simples objetos lúdicos, as criações falam sobre a cultura dos povos originários. Também reproduzem o ordenamento sociocultural e familiar daqueles povos que se concentram, principalmente, às margens do Araguaia.

“Da comunidade Karajá, foi reconhecido o modo de fazer das bonecas e o hitiokô, que é a cosmologia vinculada a esse modo de fazer”, explica a historiadora do Iphan, Renata Galvão, que esteve na equipe de pesquisa do documento. “Inicialmente, elas eram feitas para que as mulheres repassassem para as filhas. Elas têm uma concepção de ensinamento de transmissão de valores”, completa.

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A elaboração do Plano de Salvaguarda é resultado de um extenso trabalho de mobilização coordenado conjuntamente pelas equipes técnicas das superintendências do Iphan nos estados de Goiás, Mato Grosso e Tocantins, desde 2019. A ideia era de que representantes das comunidades detentoras de diferentes localidades do território Karajá pudessem reunir-se com parceiros institucionais e, de forma participativa, elaborassem o documento coletivo.

Durante o período da pesquisa, foram realizados contatos com os caciques, as lideranças de cada aldeia, para obter os dados sobre as representantes de cada local e intermediar o deslocamento das participantes com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas. “A cada contato foi reforçada a importância da participação na reunião, sobretudo das mulheres”, comenta Renata.

O documento chega em uma boa hora para as comunidades indígenas. É a partir do Plano de Salvaguarda que o Iphan vai poder trabalhar na manutenção, preservação e acolhimento das demandas para que os modos de fazer das bonecas não se percam com o tempo. “Agora, temos que manter a mobilização com a comunidade detentora e a articulação com os parceiros envolvidos para começarmos a executar os trabalhos”, diz a pesquisadora.

Mecanismos

A primeira ação que a equipe tenta organizar é a criação de uma estrutura física com ferramentas para garantir a continuidade da prática cultural. “Ter um espaço para que as mulheres possam realizar as atividades é o ponto de partida para pensarmos nas outras ações prioritárias, como a comercialização dos produtos evitando os atravessadores que exploram comprando os produtos em valores muito baixos e revendendo com altos preços, a logística das vendas e a realização de oficinas de transmissão dos saberes”, destaca Renata.

Os desafios são muitos para que as ações do Plano de Salvaguarda possam seguir adiante. Segundo a historiadora, doutoranda em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG), a comunidade indígena tem língua e tempo próprios, além de outras dinâmicas de vida. Tudo isso faz com que as ações se tornem bem mais complexas.

“Estamos falando de uma comunidade indígena, que está em territórios espalhados por quatro unidades da federação. Algumas estão em locais de difícil acesso, logo, qualquer ação de mobilização impõe uma articulação complexa e cara de logística de deslocamento”, salienta Renata. A questão dos investimentos destinados também dificulta a efetivação das ações do Plano. “Infelizmente, a Cultura tem um dos menores orçamentos, logo, recurso para nós é sempre um desafio enfrentado”, lamenta.

Com motivos mitológicos, de rituais, da vida cotidiana e da fauna, as bonecas Karajá são instrumentos de socialização das crianças que se enxergam nesses objetos e aprendem a ser Karajá. Elas recebem ensinamentos, conhecem as técnicas e os saberes associados à sua confecção e aos usos. Por representarem cenas do cotidiano e dos ciclos rituais, elas portam e articulam sistemas de significação da cultura Karajá.

Segundo o Plano de Salvaguarda do Iphan, a pintura e a decoração das cerâmicas estão associadas, respectivamente, à pintura corporal dos Karajá e às peças de vestuário e adorno consideradas tradicionais. Indicativos de categorias de gênero, idade e estatuto social, a pintura e os adereços complementam a representação figurativa das bonecas. “Um detalhe é que Karajá é um termo que foi atribuído a eles. Hoje eles até se apropriaram do nome, mas dentro da comunidade eles se autodenominam como Iny. É assim que eles se veem”, completa a historiadora Renata Galvão.

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Ritos ancestrais 
Com motivos mitológicos, de rituais, da vida cotidiana e da fauna, as bonecas Karajá são instrumentos de socialização das crianças que se enxergam nesses objetos e aprendem a ser Karajá. Elas recebem ensinamentos, conhecem as técnicas e os saberes associados à sua confecção e aos usos. Por representarem cenas do cotidiano e dos ciclos rituais, elas portam e articulam sistemas de significação da cultura Karajá.

Segundo o Plano de Salvaguarda do Iphan, a pintura e a decoração das cerâmicas estão associadas, respectivamente, à pintura corporal dos Karajá e às peças de vestuário e adorno consideradas tradicionais. Indicativos de categorias de gênero, idade e estatuto social, a pintura e os adereços complementam a representação figurativa das bonecas. “Um detalhe é que Karajá é um termo que foi atribuído a eles. Hoje eles até se apropriaram do nome, mas dentro da comunidade eles se autodenominam como Iny. É assim que eles se veem”, completa a historiadora Renata Galvão.

Bonecas Karajá ganham Plano de Salvaguarda elaborado pelo Iphan

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Mulheres de barro

Pelo menos seis prédios tombados como patrimônio histórico estadual e federal serviram de palanque para o acirramento das relações entre o governo estadual e a superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Goiás. As críticas de uso político do órgão para atrapalhar as obras de reforma do governo goiano começaram em meados do ano passado e chegam agora ao Museu Zoroastro Artiaga e à sede da Procuradoria-Geral do Estado (PGE), ambos na Praça Cívica, em Goiânia. Quanto ao primeiro, a crítica retoma a obra do BRT Norte-Sul, que circula a praça e causou estragos na estrutura do museu à época da construção. Agora, há receio de que a passagem dos ônibus pesados na estação próxima ao prédio possa servir para novos abalos.

A situação preocupa o governo de Goiás quanto ao acúmulo de obras do Estado que passam por demora ou questionamentos nas avaliações da superintendência do Iphan. Em meados de 2024, um mês depois de o cargo de superintendente ser assumido por Gilvane Felipe, ex-secretário de Cultura no governo Marconi Perillo (PSDB) e ex-presidente estadual do partido Cidadania – em federação com o PSDB –, a discordância entre o governo estadual e o Iphan foi evidenciada em falas do governador Ronaldo Caiado (UB), que reportou os questionamentos a questões políticas. Caiado é pré-candidato à Presidência.

Desde então, o Estado aponta divergências entre os entendimentos do governo e da superintendência em seis obras de revitalização de prédios considerados patrimônios históricos. O primeiro foi na Igreja do Ferreiro, em que o projeto original mantinha as telhas às vistas na parte interna e o projeto do governo instalou um forro no local. O governo chegou a ser multado pela alteração e teve de recorrer ao órgão em Brasília, quando a multa foi retirada e o forro mantido. Secretária da Secretaria de Estado de Cultura de Goiás (Secult Goiás), Yara Nunes, ressalta que há diálogo positivo com o órgão nacional, mas problemas com os processos na superintendência em Goiás.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/opiniao/coluna-giro/cavalhodromo-abre-nova-crise-entre-governo-e-iphan-1.3292691" target="_self">Cavalhódromo abre nova crise entre governo e Iphan</a> 
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Yara complementa, no entanto, que os técnicos do órgão atendem a secretaria e entendem os projetos e necessidades, mas que, quando os pleitos se tornam processos e passam pela burocracia da superintendência, começa a ter problema com os prazos de respostas e negativas. A reportagem de O POPULAR procurou o superintendente, Gilvane Felipe, que afirmou que o órgão possui sua política de comunicação e, como subordinado a ele, deve seguir os trâmites de tratar com a sede do Iphan, em Brasília. Junto a técnicos, porém, a reportagem apurou que não se vê essa divergência entre os órgãos e que os trâmites processuais são seguidos à risca.

A secretária da Secult reforça, porém, uma inércia da superintendência, como no caso que envolve a reforma da sede da PGE. A obra está parada à espera de uma definição pela retirada de uma gameleira que obstrui a drenagem do prédio e também prejudica a estrutura do telhado do prédio. Segundo Yara, o processo foi iniciado no começo de julho e ainda não se tem o parecer sobre o caso. Por outro lado, o Iphan respondeu que o pedido de remoção da árvore foi protocolado no dia 10 de julho e respondido pelo instituto em 17 de julho, com a confirmação do recebimento da resposta. “Conforme Portaria nº 420/2010, o prazo de análise do Iphan é de 45 dias. No entanto, o pedido foi respondido em apenas 7 dias corridos após o protocolo.”

A nota técnica, segundo o Iphan, concluiu que, “mediante um compromisso de recomposição da massa arbórea, preservando os valores do tombamento, a supressão das espécies é passível de aprovação”. Porém, para a realização da avaliação final por parte do Iphan e à emissão de parecer autorizativo, foi solicitado ao governo de Goiás a apresentação da manifestação da Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) sobre o caso, bem como a proposta de recomposição da vegetação suprimida, indicando os locais, espécies e porte das novas inserções. “Até o momento, as complementações solicitadas não foram protocoladas pelo governo”, ressalta o Iphan.

<h2>Museu</h2>

Sobre o caso do Museu Zoroastro Artiaga, o Iphan afirma que toda a obra do BRT Norte-Sul foi acompanhada, incluindo a paralisação da mesma a pedido do órgão e a troca do maquinário para outro de baixa trepidação, em razão dos abalos na estrutura do museu e da Torre do Relógio. “Desde o início das obras do BRT, nos trechos onde se localiza grande parte dos edifícios tombados em nível federal, o Iphan demonstrou preocupação quanto à preservação e integridade dos prédios históricos. Diante disso, por orientação da autarquia, a Prefeitura de Goiânia utilizou maquinários de compactação das vias com menor vibração, para gerar o menor impacto possível nos bens no entorno da Avenida Goiás e Praça Cívica.”

O órgão complementa que, durante toda a obra, “houve monitoramento dos edifícios, inclusive com a contratação de empresa especializada por parte da Prefeitura, de modo a garantir a integridade dos monumentos e prédios”. O Iphan informa ainda que reportou a necessidade de obras na edificação do Museu Zoroastro Artiaga, que atualmente está em obras pelo governo estadual e passará por um restauro completo, com execução em 80%. Sobre o receio de novos problemas em razão da passagem dos ônibus, não há o registro de qualquer reclamação formal ao órgão. A Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), responsável pelo BRT, informa que não há qualquer registro com relação à preocupação das estruturas na Praça Cívica com relação à passagem dos ônibus do BRT no local feito pelo governo estadual ou pela Secult Goiás.

<h3>Cavalhódromo de Pirenópolis segue sem solução</h3>

A secretária da Secretaria de Estado de Cultura (Secult Goiás), Yara Nunes, afirma que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) teria apontado um prazo de dois anos para rever a Portaria de Tombamento nº 02/1995, documento que impede a execução do projeto de <a href="https://opopular.com.br/cidades/cavalhodromo-de-pirenopolis-passa-por-adequac-o-1.3008030" target="_self">revitalização do Cavalhódromo</a>, em Pirenópolis. O prédio não é tombado, mas está em área de tombamento, que é a região central da cidade. A portaria em si determina índices de ocupação do solo e de altura dos edifícios em áreas de tombamento, e o projeto estadual ultrapassa esses números de 40% do uso da área e 8,5 metros de altura.

<img attr-cid="policy:1.3300265" attr-version="policy:1.3300265:1755222741" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3300265/Vida Urbana - torre moura.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Torre dos cristãos do Cavalhódromo de Pirenópolis, antes de demolição: revitalização do local virou impasse (Diomício Gomes / O Popular)

A proposta da Secult era ocupar 80% da área com estrutura de até 20 metros. O Iphan informou à Secult que há uma previsão de revisão da portaria em 2026, com a validação de novas normas a partir de 2027. “Estávamos discutindo o projeto, atendendo todo mundo, fazendo um projeto mais robusto para definir outros usos, já que não faz sentido essa obra para apenas três dias de uso durante um ano”, afirma a secretária Yara Nunes, ao contar da participação da associação atlética municipal, em que o local seria usado também para jogos esportivos.

“É uma análise muito subjetiva do Iphan, porque temos projetos lá, inclusive particulares, de resorts, que têm uma ocupação muito maior do que 40% e tiveram a aprovação, mas a gente não consegue. São dois pesos e duas medidas. Por que não rever já essa portaria?”, considera Yara. De acordo com o Iphan, segundo nota jurídica da Procuradoria Federal junto ao órgão, não é possível flexibilizar os critérios da portaria para análise da proposta de intervenção.

Porém, o órgão federal relata que em reunião de 6 de agosto, no Escritório Técnico de Pirenópolis, com a presença do Promotor de Justiça, da Secretaria de Infraestrutura (Seinfra), da Secretaria de Cultura (Secult), do Iphan, representante da Associação Atlética e representante dos cavaleiros das cavalhadas, “ficou estabelecido que a Secult iria apresentar uma proposta para utilização do espaço para as cavalhadas no dia 30 de setembro”. O Iphan informa que a proposta envolveria o refazimento do gramado e tratamento do talude criado onde estava a arquibancada.

Outro ponto de divergência entre o Estado de Goiás e o Iphan tem sido a situação da Igreja Boa Morte, localizada na Cidade de Goiás, e que necessita de reforma, já que a estrutura está em situação precária, incluindo a possibilidade de queda de uma das janelas. Segundo a Secult Goiás, foi enviado um oficio para o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), que detém a administração do local, oferecendo cooperação técnica para a revitalização do local, o que foi negado devido à falta de recursos financeiros para a execução de reforma no local.

O governador Ronaldo Caiado chegou a falar em assumir a obra ou mesmo a administração do prédio. O Iphan esclarece que a propriedade da Igreja da Boa Morte, tombada em nível federal, é da Diocese de Goiás. “A igreja, que abriga o Museu de Arte Sacra, é gerida de modo compartilhado entre a diocese e o Ibram. Ou seja, o Iphan não tem responsabilidade pela gestão do bem.” O órgão ressalta que está “à disposição caso o Estado, o Ibram e a diocese queiram colaboração técnica para fazer a articulação necessária para uma possível reforma na Igreja”.

A crítica da Secult, no entanto, se refere à inércia do órgão quanto a revitalização, já que seria possível realizar ações para obter recursos ou prover cooperação para a realização da obra, como por meio de termos de ajustamento de conduta (TACs), ou mesmo com a participação do Estado. “Nós também somos órgão fiscalizador e sabemos que a responsabilidade é do dono, mas podemos intervir se for necessário e o Iphan pode fazer.”

<img attr-cid="policy:1.3300264" attr-version="policy:1.3300264:1755222603" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3300264/150825-vidt_divergencias.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" />

Seis prédios tombados são alvo de divergência entre governo de Goiás e Iphan

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Patrimônio

A <a href="https://opopular.com.br/igreja-da-boa-morte-chega-aos-240-anos-guardando-importantes-tesouros-da-cidade-de-goias-1.1948627" target="_self">Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte</a>, um dos monumentos mais emblemáticos da cidade de Goiás, tornou-se pivô de uma discussão pública entre o presidente da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), deputado Bruno Peixoto (UB), e o superintendente em Goiás do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Gilvane Felipe.

Em seu discurso na solenidade de transferência simbólica da sede da capital, o deputado criticou o Iphan por sua atuação na <a href="https://opopular.com.br/cidades/governo-investira-r-15-milh-es-para-restaurar-igrejas-historicas-da-cidade-de-goias-1.3293623" target="_self">preservação do patrimônio</a> na cidade de Goiás e pelo que chamou de “abandono” da igreja histórica pelo órgão. “Sou católico, assim como o governador (Ronaldo Caiado). E aproveito para fazer uma crítica ao Iphan. Se dizem se importar com a população que tem a cidade de Goiás no coração, por que abandonam a Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte?”, questionou, ao microfone.

O presidente da Alego também provocou o governo federal – ao qual é ligado o Iphan – em relação à preservação do<a href="https://opopular.com.br/cidades/governo-investira-r-15-milh-es-para-restaurar-igrejas-historicas-da-cidade-de-goias-1.3293623" target="_self"> patrimônio na cidade</a>. “Vai aqui meu recado ao governo federal: se não tem competência, deixe para quem tem. Ou venha a Goiás e siga o exemplo do nosso governo. Nós cuidamos da cidade, cuidamos das pessoas. O que está acontecendo com essa igreja é um verdadeiro desrespeito. Se não conseguem cuidar, transfiram a responsabilidade para o governo de Goiás e em menos de seis meses a igreja estará&nbsp;<a href="https://opopular.com.br/magazine/igreja-matriz-de-pirenopolis-ganhara-restauro-na-pintura-1.3274944" target="_self">restaurada</a>.”

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/jaragua-recebe-templo-centenario-restaurado-1.3293969" target="_self">Jaraguá recebe templo centenário restaurado</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/governo-investira-r-15-milh-es-para-restaurar-igrejas-historicas-da-cidade-de-goias-1.3293623" target="_self">Governo investirá R$ 15 milhões para restaurar igrejas históricas da cidade de Goiás</a> 
<a href="https://opopular.com.br/igreja-da-boa-morte-chega-aos-240-anos-guardando-importantes-tesouros-da-cidade-de-goias-1.1948627" target="_self">Igreja da Boa Morte chega aos 240 anos guardando importantes tesouros da cidade de Goiás</a></div>

Em nota divulgada nesta terça-feira (29) em resposta a Bruno Peixoto, o Iphan declarou que atribuir ao órgão a situação da Igreja da Boa Morte “revela total desconhecimento da realidade dos fatos, equívoco que poderia ter sido evitado com apenas uma ligação telefônica”. “A Igreja da Boa Morte, apesar de ser um bem tombado, não pertence ao Iphan”, ressalta o texto, mas “à Diocese de Goiás” e que sua gestão, “assim como do Museu de Arte Sacra que ela abriga, encontra-se sob responsabilidade compartilhada do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus) e de sua proprietária, a Diocese de Goiás”.

O texto, assinado por Gilvane Felipe, lembra que o Iphan notificou o Ibram oficialmente em 6 de junho “quanto à necessidade urgente de manutenção da Igreja da Boa Morte”. “Quem pode transferir ao governo do Estado a guarda da Igreja da Boa Morte é apenas e tão somente a sua proprietária, a Diocese de Goiás, a quem deve ser dirigida a proposta de transferência verbalizada”, seguiu a nota.

O superintendente dá ainda uma “sugestão” para “resolver financeiramente as necessárias e urgentes obras de restauração” do templo. “Seria o deputado atuar junto à bancada de seu partido, União Brasil, uma das maiores de Goiás, para que seja destinada emenda parlamentar para viabilizar a recuperação do bem tombado”. Gilvane diz que, “para ele (Bruno), não seria muito trabalhoso, haja vista que cada deputado federal tem um montante de recursos do orçamento impositivo a seu dispor” e que “certamente o presidente da Alego, como membro ilustre de seu partido, não teria dificuldade em convencer alguns, ou até mesmo a bancada como um todo, a colaborar com a situação que tanto o comoveu.”

Mau estado de templo histórico em Goiás gera polêmica entre deputado e Iphan

Fotos da Cacica Valdirene Mahudikè

<img attr-cid="policy:1.3285339" attr-version="policy:1.3285339:1751885420" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3285339/Proporção para foto do site (46).jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Cacica contou que além de conseguir espaço para seu povo se instalar, outro grande objetivo dela é o de resgatar a cultura (Diomício Gomes/O Popular)

A pedagoga Valdirene Leão Gomes Cruz, mais conhecida como Valdirene Mahudikè, que <a href="https://opopular.com.br/cidades/em-aruan-goias-passa-a-ter-sua-primeira-cacica-1.3267832" target="_self">foi escolhida há quatro meses pela comunidade de Aldeia Buridina, em Aruanã, como a cacica de seu povo</a>, é sobrinha de primeiro grau do primeiro líder da Aldeia Buridina, Jacinto Maurehi. Valdirene é&nbsp;da etnia Yny Karajá e o nome indígena da cacica veio de uma linhagem de cacicagem.&nbsp;

De acordo com apuração feita pela reportagem do POPULAR, Valdirene Mahudikè se formou em pedagogia na Universidade Estadual de Goiás (UEG). Ela é gestora do Colégio Estadual Indígena Maurehi, que fica dentro da Aldeia Buridina, e atende hoje 130 estudantes.&nbsp;

AO POPULAR, a cacica contou que além de conseguir espaço para seu povo se instalar, outro grande objetivo dela é o de resgatar a cultura. A pedagoga faz licenciatura em Educação Intercultural na Universidade Federal de Goiás (UFG).&nbsp;

Veja reportagem sobre a cacica no g1 Goiás: <a href="https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2025/06/01/primeira-mulher-cacica-em-goias-e-de-aldeia-as-margens-do-rio-araguaia.ghtml" target="_blank">Primeira mulher cacica em Goiás é de aldeia às margens do Rio Araguaia</a>&nbsp;

<cite>Meu objetivo maior, além de conseguir espaço para meu povo morar, é resgatar nossa cultura, porque é ela que fortalece nossa existência", afirma.&nbsp;</cite>

A cacica, pioneira em Goiás, busca inspirações em outras lideranças indígenas femininas para atuar, sendo uma delas a prima distante, também da etnia Yny Karajá, Maria Maderu, que é cacica da Aldeia Mirindiba, no sul da Ilha do Bananal, em Tocantins. &nbsp;

<cite>Ela é uma grande guerreira. Entrou jovem para a cacicagem e luta contra posseiros e grileiros para preservar a madeira nobre e os lagos com peixes de seu território. Ela luta com bravura pelo povo dela", disse a pedagoga.</cite> &nbsp;

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<div attr-cid="policy:1.3285340" attr-version="policy:1.3285340:1751893512" class="p-smartmidiabox">-<a class="p-smartembed" data-onecms-id="policy:1.3285340" data-onecms-type="article" href="javascript:window.parent.actionEventData({$contentId:'1.3285340', $action:'view', $target:'work'})" polopoly:contentid="policy:1.3285340">Fotos da Cacica Valdirene Mahudikè (1.3285340)</a></div>

À reportagem, Valdirene Mahudikè revelou que é da religião evangélica, fato herdado pelo pai, que também é índio. Segundo ela, o fato de seguir a religião não muda em nada, pois a cultura é mantida pela cacica.&nbsp;

<cite>Não misturo as coisas. Eu me curvo perante um único Deus e Ele é o criador de todas as coisas, do rio, dos animais. Mantenho minha cultura, minha oralidade e os mitos, mas acredito somente em um Deus, da mesma forma que meu pai, um índio muito sábio, me ensinou”, revelou. &nbsp;</cite>

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/em-aruan-goias-passa-a-ter-sua-primeira-cacica-1.3267832" style="font-size: 12px;" target="_self">Em Aruanã, Goiás passa a ter sua primeira cacica</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/governo-lanca-temporada-do-araguaia-com-shows-nas-praias-e-torneio-indigena-1.3281872" style="font-size: 12px;" target="_self">Governo lança Temporada do Araguaia com shows nas praias e torneio indígena</a> 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/bonecas-karaja-ganham-plano-de-salvaguarda-elaborado-pelo-iphan-1.3258646" style="font-size: 12px;" target="_self">Bonecas Karajá ganham Plano de Salvaguarda elaborado pelo Iphan</a></div>

<h4>Assumindo o comando&nbsp;</h4>

A <a href="https://opopular.com.br/cidades/em-aruan-goias-passa-a-ter-sua-primeira-cacica-1.3267832" target="_self">pedagoga assumiu algo desafiador, foi a primeira cacica escolhida em Goiás</a>. Ela substitui Raul Hawakati, que morreu em outubro do ano passado. De acordo com Valdirene, ela entrou por escolha da comunidade e não tinha a intenção, mas ficou surpresa e honrada. &nbsp;

<cite>Fiquei surpresa e honrada, mas sei que a minha responsabilidade é muito grande. Entrei por escolha da comunidade. Eu não tinha essa intenção, porque sou gestora de nossa escola, que já tem muita demanda, mas diante da insistência assumi o compromisso de ficar pelo menos dois anos para tentar resolver os problemas imediatos do território”, disse.&nbsp;</cite>

À reportagem, o gerente de Articulação e Promoção dos Direitos Indígenas, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Seds), disse que a história é bonita e que ele se sente feliz. "Estou muito orgulhoso. Historicamente, na cultura do povo Yny, os homens definiam tudo, as mulheres nunca tomavam a frente. É uma história muito bonita. Fico muito feliz", contou. &nbsp;

Veja quem é a primeira cacica em Goiás

YNY KARAJÁ 

Webstories

Há três meses a pedagoga Valdirene Leão Gomes Cruz, indígena da etnia Yny Karajá, assumiu um grande desafio. Ela foi escolhida pela comunidade da Aldeia Buridina, em Aruanã, às margens do Rio Araguaia, como a cacica de seu povo. É a primeira de Goiás, um feito que inicialmente a assustou. “Fiquei surpresa e honrada, mas sei que a minha responsabilidade é muito grande”, disse ela ao POPULAR. Valdirene reforça um movimento que cresce muito no Brasil – o de etnias indígenas optarem por lideranças femininas.

<a href="http://opopular.com.br/canal" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px; background-color: rgb(238, 238, 238);" target="_blank">🔔 Siga o canal de O POPULAR no WhatsApp</a>

Valdirene Mahudikè, seu nome indígena, vem de uma linhagem de cacicagem. Ela é sobrinha em primeiro grau de Jacinto Maurehi, o primeiro líder da Aldeia Buridina. Escolhida como a quarta cacica, ela substitui Raul Hawakati, que morreu em outubro do ano passado. “Entrei por escolha da comunidade. Eu não tinha essa intenção, porque sou gestora de nossa escola, que já tem muita demanda, mas diante da insistência assumi o compromisso de ficar pelo menos dois anos para tentar resolver os problemas imediatos do território”, explicou.

Formada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Goiás (UEG), a primeira cacica do Estado é a gestora do Colégio Estadual Indígena Maurehi, criado em 1994, que atende 130 estudantes e fica dentro da Aldeia Buridina. Um de seus orgulhos é dar continuidade ao Projeto de Educação e Cultura Indígena Maurehi, que tem por objetivo valorizar e revitalizar a língua Ynyrubè. Hoje, as novas gerações se comunicam na escola e em casa, com suas famílias, usando as duas línguas, o português e o karajá.

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Para fortalecer ainda mais a cultura Yny Karajá, Valdirene Mahudikè cursa licenciatura em Educação Intercultural na Universidade Federal de Goiás (UFG). “Meu objetivo maior, além de conseguir espaço para meu povo morar, é resgatar nossa cultura, porque é ela que fortalece nossa existência”, afirma. Outro fato inédito na Aldeia Buridina é que a nova líder conta com outra mulher como vice-cacica, Clauderice Iburé. “Estou muito orgulhoso. Historicamente, na cultura do povo Yny, os homens definiam tudo, as mulheres nunca tomavam a frente. É uma história muito bonita. Fico muito feliz”, diz Sinvaldo Wahuka, gerente de Articulação e Promoção dos Direitos Indígenas, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Seds).

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Sinvaldo Wahuka já se reuniu com as duas cacicas para definir os detalhes da 1ª Copa Indígena de Goiás, marcada para o período de 4 a 6 de julho, na Aldeia Buridina. A expectativa é de que 200 indígenas de tribos diversas, que vivem em aldeias ou áreas urbanas, se reúnam para competições tradicionais como corrida de tora, arco e flecha, cabo de guerra e luta corporal, além de esportes convencionais, entre eles futebol. “A isso chamamos de interculturalidade”, lembra o gerente de Articulação e Promoção dos Direitos Indígenas da Seds.

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Cacica de Aruanã se inspira em outras mulheres líderes de etnias indígenas no Brasil (Diomício Gomes / O Popular)

A cacica pioneira de Goiás vive dentro da Aldeia Buridina, de 14 hectares, que conta com quase 250 pessoas. Entretanto, o território Karajá sob sua responsabilidade é muito maior. Além da terra indígena (TI) na área urbana demarcada por decreto federal em 2000, há outras duas áreas: a TI Karajá 2, do outro lado do Rio Araguaia, no município de Cocalinho (MT), com 893 hectares, demarcada em 1998; e a TI Karajá 3, também no município de Aruanã, com 705 hectares, também demarcada em 2000. Valdirene Mahudikè explica que a principal demanda da comunidade é recuperar parte desse território que foi invadido e hoje abriga casas de luxo. “Nossa população aumentou e tem muita gente morando na cidade pagando aluguel porque não há mais espaço.”

<h2>Demandas territoriais são a maior preocupação</h2>

Valdirene Mahudikè tenta traçar as ações mais urgentes para o povo Yny Karajá. Muito requisitada por ser gestora da escola da aldeia e presidente do conselho local de saúde indígena, a questão territorial é o que mais a preocupa. As ocupações ilegais do território levaram o Ministério Público Federal (MPF) a pedir a retirada dos invasores. Em uma das ações, já transitada em julgado, a Justiça determina a desintrusão da terra indígena, incluindo a área em que está localizada a casa construída por um ex-prefeito de Aruanã, dentro da Aldeia Buridina. Entretanto, a exemplo de demandas semelhantes, há lentidão por parte da União e da Funai em executar a medida.

Outra ação foi ajuizada pelo município de Aruanã pedindo a anulação da demarcação da TI no município. Em 2020, a Justiça entendeu que havia prescrição do tema. Entretanto, após recursos e apelações, um acórdão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), de abril de 2024, aceitou o pedido, mas vieram novos recursos. Neste momento, está pendente o julgamento dos embargos de declaração.

<h3>Etnia se autodenomina Iny (I’nã)</h3>

Karajá, expressão tupi que significa “macaco grande”, não é utilizado pela etnia como autodenominação original. Na própria língua, o nome desse povo é Iny (leia-se I’nã), que pode ser traduzido para “nós”. O grupo indígena há centenas de anos habita a região dos rios Araguaia e Javaés, entre Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Pará.

Dados do Censo Demográfico 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostraram que Goiás conta com 19.522 habitantes indígenas – 0,28% da população do Estado. A grande maioria vive em áreas urbanas e muitos vieram de etnias de outras unidades da Federação. No território goiano são três os povos indígenas: Iny Karajá, Avá-Canoeiro (Minaçu e Colinas do Sul) e Tapuia (Nova América e Rubiataba).

<h3>Sem matéria-prima para confeccionar o artesanato</h3>

Mais do que enfrentar o machismo estrutural em sua cultura, rompido agora com sua escolha como a primeira cacica de Goiás, Valdirene sabe que há outros desafios. “Falam muito que estamos aculturados, mas como manter nossa cultura se, à nossa volta, o meio ambiente está degradado?”, questiona. As Ritxoko, bonecas de cerâmica Karajá, um símbolo do trabalho manual da etnia, e outros tipos de artesanato, são ensinados na escola, mas falta matéria-prima. “Tem maquinário grande drenando o rio para irrigar lavouras de soja. Já não temos mais barro. E, por causa do desmatamento, também não temos a palha do buriti, necessária para nossa cestaria.”

A produção artesanal é comercializada para turistas dentro da aldeia, uma fonte de renda importante. “Antigamente tínhamos matéria-prima na natureza, hoje em dia para fazer nossas peças precisamos economizar para comprar barro na cidade de Goiás”, relata a cacica. Na temporada do Araguaia a comunidade monta barracas às margens do rio para alugar aos visitantes. “Depois que a Superintendência do Patrimônio da União (SPU) passou a cobrar por esse uso, ficou bem complicado. Não temos recursos para pagar essa taxa.”

Pioneira na cacicagem em Goiás, Valdirene Mahudikè procura exemplos de coragem entre as lideranças indígenas femininas para se inspirar. Uma delas é a prima distante Maria Maderu, também Yny Karajá, cacique da Aldeia Mirindiba, no sul da Ilha do Bananal. “Ela é uma grande guerreira. Entrou jovem para a cacicagem e luta contra posseiros e grileiros para preservar a madeira nobre e os lagos com peixes de seu território. Ela luta com bravura pelo povo dela”, diz Valdirene.

Um dos aspectos que chama a atenção em Valdirene Mahudikè é o fato de que ela segue uma religião evangélica. Sobre isso, ela é taxativa: “Não misturo as coisas. Eu me curvo perante um único Deus e Ele é o criador de todas as coisas, do rio, dos animais. Mantenho minha cultura, minha oralidade e os mitos, mas acredito somente em um Deus, da mesma forma que meu pai, um índio muito sábio, me ensinou.”