“Pensei que fosse o fim. Quando o médico me disse que eu tinha dois tumores, fiquei sem chão, assustado e acreditando que a minha vida estava em contagem regressiva.” Essa foi a primeira reação do funcionário público Manoel Lourenço Campos Junior, 62 anos, quando descobriu o câncer de próstata numa consulta de rotina em janeiro deste ano. A doença é a causa de 30% de morte entre homens no Brasil, número que alerta para a importância do diagnóstico precoce, tão simbolizado pela campanha de conscientização Novembro Azul.A próstata é uma glândula que faz parte do sistema reprodutor masculino responsável por produzir uma secreção fluida para nutrição e transporte dos espermatozoides. Situa-se logo abaixo da bexiga e à frente do reto, sendo atravessada pela uretra, canal que se estende desde a bexiga até a extremidade do pênis e por onde a urina é eliminada. O câncer é uma alteração celular das células da próstata com caráter de malignidade e é o segundo mais comum entre os homens, ficando atrás somente do câncer de pele não melanoma.Depois de vários exames, Manoel Lourenço realizou a cirurgia em outubro. Ele tem certeza que a descoberta da doença na fase inicial e o tratamento rápido aumentaram as suas chances de cura. “Ainda bem que tive esse despertar de saber como estava a minha saúde na questão da próstata e o médico disse que fui na hora certa”, recorda. No entanto, iniciativas como essa ainda não são realidade no universo masculino. Especialistas afirmam que o preconceito com o exame de toque, tão fundamental para detectar a doença, precisa ser superado.Apesar de estar diminuindo a cada ano, o preconceito e o machismo ainda estão muito presentes quando o assunto é próstata. “Ainda tem aqueles que se recusam a procurar atendimento médico por achar que o toque retal ou a consulta com o urologista poderá afetar a sua masculinidade ou interferir na sua questão sexual. Isso é tudo mito, não tem nenhuma relação. É um exame rápido, feito no consultório e que não traz nenhum problema para o paciente que está sendo examinado”, comenta o médico urologista Marco Túlio Alves Cruvinel.SilenciosaO câncer de próstata é silencioso no início, pois surge em uma região que não costuma causar sintomas. Quando algum sinal aparece, como, por exemplo, dificuldade para urinar, dores nos ossos ou sangue no esperma, é porque pode estar em estágio avançado. “Nas fases tardias, é realizado um tratamento para tentar controlar a doença para que o paciente tenha um período maior de sobrevida. Já quando é descoberto precocemente, o índice de cura pode chegar até 90%”, destaca Marco Túlio.Foi o caso de Manoel Lourenço. Ele não sentiu nenhum sintoma, mas procurou o médico porque desde o início da pandemia não fazia uma avaliação geral da saúde. Hoje, no trabalho, o funcionário público se tornou um multiplicador da importância da prevenção. “Infelizmente, ainda existe preconceito que vai acabar com sua vida sexual, de constrangimento. Mas é algo natural e rápido”, relata. Depois de 30 dias do pós-operatório, ele está se sentido muito bem, tomando o medicamento e seguindo as recomendações, como não subir escada e não dirigir. “É preciso paciência e respeitar esse tempo de três meses de repouso”, completa.A Sociedade Brasileira de Urologia recomenda o PSA (antígeno prostático específico), exame de sangue que permite detectar a doença, e o de rastreamento para o câncer de próstata pelo toque retal para todos os homens com mais de 50 anos. Aqueles com fatores de risco (obesos mórbidos) – negros ou com histórico familiar a doença de parentes de primeiro grau – podem fazer aos 45 anos. Ter uma rotina anual de consulta é fundamental para identificar diversas doenças urológicas comuns em fases diferentes da vida.TratamentoO tratamento vai depender do estágio em que se encontra a doença. Na fase inicial, pode ser a cirurgia tradicional ou via laparoscopia (a dos furinhos na barriga), ou ainda a robótica. Em casos mais graves, poderá ser feito, além do bloqueio hormonal, quimioterapia para tentar evitar que o tumor aumente ainda mais. “Quando o paciente tem boas condições cirúrgicas, sem nenhuma patologia cardiológica importante, a gente indica começar pela cirurgia”, ressalta o urologista Pedro Henrique Rezende Junqueira. Em caso de condições não ideais cirúrgicas, como obesidade ou doenças cardíacas, são realizadas radioterapia (aproximadamente 40 sessões). É importante lembrar que a confirmação do câncer é feita apenas através de uma biópsia (retirada de pequenos pedaços da próstata que são analisadas em laboratório). Os exames anteriores são de rastreamento. Uma vez feita a confirmação e determinada a gravidade do tumor, o médico urologista deverá avaliar o caso individualmente e decidir junto com o paciente qual caminho seguir.Não há prevenção para o câncer de próstata porque a causa exata da doença não é conhecida, portanto, não é possível impedir a maioria dos casos. No entanto, algumas atitudes são bastante eficazes e podem contribuir com o fortalecimento do sistema imunológico. “Se o paciente segue uma vida saudável, com boa alimentação e atividade física diária, ele vai ter uma redução de praticamente todos os tipos de cânceres ao longo da vida. Essas pessoas também respondem melhor aos tratamentos”, comenta o médico Pedro Henrique. CampanhaO Novembro Azul surgiu no Brasil no início dos anos 2000 como uma campanha para estimular os homens a cuidarem da sua saúde e rapidamente difundiu-se a ideia de prevenção e detecção precoce do câncer de próstata. A ideia foi uma iniciativa que partiu de um grupo de amigos reunidos em um pub, na Austrália. Apesar dos esforços, os índices ainda estão altos no País. Dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde revelam que, de 2019 a 2021, foram mais de 47 mil óbitos em razão desse tipo de tumor. No ano passado, 16.055 homens morreram em consequência da doença, o que corresponde a cerca de 44 mortes por dia.Leia também:- Institutos descredenciados pelo Ipasgo atendem um terço dos usuários com câncer- Goiás registra mais de um diagnóstico de câncer de próstata por dia-Imagem (1.2564175)