O músico Jards Macalé morreu nesta segunda-feira (17), aos 82 anos, no Rio da Janeiro. O artista estava internado no hospital da Unimed da Barra da Tijuca, após passar por procedimento cirúrgico na semana passado após problemas nos pulmões.“Jards Macalé nos deixou”, postou sua equipe nas redes sociais do artista. “Chegou a acordar de uma cirurgia cantando Meu Nome é Gal, com toda a energia e bom humor que sempre teve.”O artista participou recentemente do festival Doce Maravilha, no Rio de Janeiro. Macalé levou o público ainda tímido à emoção apresentando as canções do seu disco homônimo de 1972. Lançado no período mais repressivo da ditadura, versos como “não me calo”, “já comi muito da farinha do desprezo” e “também posso chorar” soam atuais quando entoados por jovens de roupas coloridas.Há dois anos, o músico lançou Coração Bifurcado, álbum com participações de Maria Bethânia e Ná Ozzetti.As 12 canções tratavam das diferentes formas do amor. “Diante do cenário de genocídio emocional, pai brigando com filho, marido brigando com a sogra, uma porradaria horrorosa, ninguém falava de amor”, ele conta. “Estava na hora de retomar o amor que eu tenho para dar e fazer um disco de amor como gesto político.”Em Besta Fera, de 2019, Macalé retratou o governo Bolsonaro como um período de trevas. Agora, ele se engaja na tentativa de pacificar o País, ainda dividido pela ideologia política. O cantor se sente confiante, depois de ter feito um show na posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. “Quando Lula subiu a rampa com a Janja e aquela vira-lata, eu me senti o próprio vira-lata. Depois, ainda ouvi Heitor Villa-Lobos, até agora estou emocionado.”Nascido na Tijuca, Macalé passou a juventude entre Copacabana e Ipanema, nas mesas da Churrascaria Pirajá e do restaurante La Fiorentina. Com Nara, a afinidade foi instantânea. Ela havia rompido com o lirismo descompromissado da época, unindo a bossa nova à música dos morros. Na época, Macalé chegou a acompanhar a cantora ao violão em shows no clube Caiçaras, na Lagoa.No ensaio biográfico Eu só Faço o que Quero, Fred Coelho assinala que, em diversos momentos da carreira, Macalé andou em grupos, mas nunca fez parte deles de fato. Ao contrário, estava preocupado em fundar sua própria linguagem artística.Assim, na era dos festivais, ficou deslocado, porque ainda se detinha à poética viniciana. Nos anos 1970, foi um dos agentes do processo de eletrificação da música brasileira, adquirindo a face mórbida e romântica dos sucessos Só Morto e Hotel das Estrelas, de 1970 e 1972, respectivamente.O apelido Macalé nasceu ainda na juventude: colegas passaram a chamá-lo assim em referência bem-humorada ao então pior jogador do Botafogo, já que Jards assumia não ter nenhum talento com a bola. O nome pegou, virou marca artística e o acompanhou por toda a carreira.Macalé estudou com nomes como Guerra Peixe e Turíbio Santos e começou a carreira nos anos 1960, aproximando-se de figuras como Vinícius de Moraes e Maria Bethânia, de quem foi diretor musical. Tornou-se um ícone da contracultura ao participar do Festival Internacional da Canção, em 1969, com Gotham City, parceria com Capinam que o projetou nacionalmente.