Alguns especialistas costumam dizer que o fígado é um órgão que sofre em silêncio. O paciente com problemas nele, que é considerado a maior glândula do corpo e tem funções fundamentais para o bom funcionamento do organismo, pode viver por anos sem qualquer tipo de dor ou sintoma. Quando eles aparecem, normalmente já é tarde. Recentemente, o caso raro de uma enfermeira, em São Paulo, que sofreu uma hepatite fulminante causada por consumo de chá emagrecedor reforçou a importância da maior atenção ao órgão que dificilmente entra na lista do check-up da maior parte das pessoas.Conferir anualmente como anda a saúde do fígado entrou na lista de prioridades da comerciante Leila de Castro, de 53 anos. Após um ultrassom de abdome superior, ela descobriu que sofria de esteatose hepática, a doença gordurosa não alcoólica do fígado. Por não ter sintomas, ela é perigosa e pode evoluir para uma cirrose hepática e até câncer. “Até então não era um órgão que me preocupava. Com o diagnóstico, mudei completamente a alimentação, procurando comer menos carne vermelha, refrigerantes, margarina e açúcar”, conta. A intensa rotina de atividade física inclui musculação e longos treinos de ciclismo. Tudo para manter a saúde em dia. Hepatologista do Centro Clínico do Órion Complex, o médico Rafael Ximenes explica que, ao procurar um médico para check-up anual, o fígado deveria estar entre os órgãos a serem avaliados. “Algumas pessoas estão começando a ter essa consciência, outras são encaminhadas por cardiologistas e clínicos gerais. O grande problema do fígado é que, na maior parte das vezes, as doenças são silenciosas por um longo período”, explica. É importante que a população conheça as doenças que afetam o órgão, os seus riscos, formas de controle e tratamento.No caso da hepatite fulminante, o médico explica que diversas situações, que incluem o uso de remédios e fitoterápicos, podem causar o problema. Infecção por alguns tipos de vírus da hepatite ou exposição a agentes tóxicos estão entre as causas mais comuns. “Os chás que, na maior parte das vezes, são vistos como seguros, dependendo da substância funciona como remédio de farmácia. Tem alguns que são tóxicos e a reação depende de cada organismo”, ressalta.Professor adjunto da UFG e cirurgião assistente do Grupo de Transplante Hepático do Hospital Geral Alberto Rassi, o cirurgião hepatopancreatobiliar Edmond Le Campion explica que o chá pode realmente provocar a hepatite fulminante, popularmente conhecida como falência do fígado, por mecanismo de agressão direta. As substâncias presentes na bebida, moléculas naturais, causam a destruição das células do fígado resultando na grave complicação que pode levar à morte. “Felizmente esse é um evento raro, mas várias substâncias podem causar isso, em altas doses. Paracetamol, anti-inflamatórios, ervas medicinais, isoniazida e anabolizantes são algumas delas”, destaca. O perigo aumenta porque não há nenhum marcador ou exame que consiga pré-determinar as pessoas que são mais sensíveis a determinadas substâncias. O desenvolvimento da insuficiência hepática aguda causada por consumo de substâncias está associado à quantidade do produto ingerido, ao tempo de uso e ao tipo de substância. Outro mito que o especialista derruba é o da eficácia dos supostos protetores hepáticos. “Não há remédios que protegem o fígado, isso é uma ilusão imposta por algumas pessoas ou até mesmo prescrito de forma errada por alguns profissionais”, explica Edmond.