Manhã de domingo bucólica, como tantas outras naquela Goiânia da segunda metade dos anos 1960. Entre o Coreto da Praça Cívica até a esquina da Avenida Goiás era realizada a Feira Hippie, em sua versão original, com poucas bancas, a maior parte delas vendendo peças de arte, num ponto de efervescência da cultura na cidade. Uma das tendas era da editora e livraria Cultura Goiana, constantemente visitada por escritores da época, como Bernardo Élis. Em outra, um homem barbudo apresentava suas peças de barro, potes e outros recipientes utilizados como enfeites ou utensílios domésticos, mas também algumas esculturas com faces humanas. Uma freguesa assídua se aproxima e dá a sugestão crucial: “O senhor deveria assinar seus trabalhos e vender como obras de arte”. O vendedor se chama Antônio, mas ainda sem o Poteiro no sobrenome. A cliente é a folclorista Regina Lacerda. O que veio depois integra a história das artes em Goiás. Poteiro não era um completo desconhecido em determinados espaços. “Ele já havia produzido peças para o cenário do programa O Mundo é das Crianças, da Magda Santos, na TV Anhanguera”, revela o filho do artista plástico, Américo, que hoje cuida do legado do pai. Ele também fabricava peças que eram assinadas por um xará seu, outro Antônio menos talentoso. Isso mudou após a sugestão de Regina Lacerda. O escultor não tinha pensado sequer num nome para si naquela possível nova fase. Mas em Nerópolis, onde ele tinha a cerâmica, as pessoas já o conheciam como Poteiro. Pronto, ele estava rebatizado.