As telas nas quais Antônio Poteiro trabalhou em suas derradeiras pinceladas aludem aos seus trabalhos anteriores, com a mesma expressividade, as cores fortes e as formas pitorescas que permitiram gravar seu estilo no imaginário de quem admirava sua obra. Os quatro quadros estão no Instituto Antônio Poteiro, na residência de seu filho Américo Souza, em Goiânia, onde ele viveu os últimos anos. “Claro que dá para ver que são Poteiros, mas o Velho aqui já não tinha mais a força para pintar como antes”, reconhece o herdeiro. Numa delas, vai um casal sobre um burrinho, com outro animal atrás trazendo alguma carga, num cenário vermelho e verde, cheio de pássaros. Outra traz uma árvore florida, uma terceira tem uma figura que parece divina e exala paz. A última é feita de flores num fundo azul. Se os traços já não eram firmes, sua assinatura continuava ali. Uma assinatura única, que o próprio artista soube condensar em uma frase, dita para um documentário produzido no ano 2000 para a TV Câmara, do Congresso Nacional: “Isso tudo que você vê é fantasia e se acabar a fantasia, acaba o Poteiro também”. A fantasia que, 15 anos após sua morte, continua a encantar. “Ao pintar festas, ritos e o cotidiano, ele criou uma conexão direta com o povo e com a memória coletiva do Brasil. Isso deu à sua obra uma identidade própria, facilmente reconhecível e marcante. Alguns podem achar que essa fidelidade o limitou, mas, na verdade, foi essa consistência que fez dele um artista sólido, respeitado e lembrado. Foi a sua marca registrada”, destaca a produtora em artes Malu Cunha.