Especiarias como noz moscada, cardamomo, cravo, folhas de louro e limão preto. Carne bovina ou de cordeiro, cenoura, berinjela e tomate. Para dar mais tempero, canela e muita cebola. Peculiar nos ingredientes e preparos, a gastronomia do Catar, país sede da Copa do Mundo da Fifa, é revista por uma cultura e um paladar amarrados às tradições do Oriente Médio.Não à toa, a carne suína e seus derivados, como o bacon, são proibidos até para os turistas que passam pela região.Nação menor que o Estado do Sergipe, o Catar recebe influência de diversos países ao seu redor, a exemplo do Líbano, Arábia Saudita e dos Emirados Árabes. Quase 3 milhões de pessoas vivem no pequeno território, sendo a maioria estrangeiros vindos da Índia, Paquistão e Egito.O resultado dessa aglutinação cultural pode ser revista na cozinha, recheada de temperos árabes e preparos mantidos de geração em geração.“Mesmo distante em tempero e costumes, a gastronomia do Catar chega até o Brasil por meio da cozinha árabe, mais popular por aqui”, aponta o cozinheiro Paulo Henrique Milkem, 56, mineiro descendente de libaneses e que mora em Goiânia há mais de dez anos, onde criou o serviço de comida Bibisalabim.Em sua casa, localizada no Jardim Novo Mundo, não podem faltar condimentos que formam o preparo de diversos pratos típicos do Catar. “A comida de lá foi feita para ser elaborada e degustada na hora. O preparo é, talvez, a hora mais importante de todo o processo”, explica.Uma das receitas mais populares do Catar, o warak enab é o prato mais servido em festas e comemorações de fim de ano na casa de Milkem. No Brasil, a comida lembra os famosos charutos, mas a diferença, de acordo com o cozinheiro, está no preparo.As folhas de parreira devem ser colhidas diretamente da árvore, entre a quarta e a oitava folha, sempre verdes. “No Brasil, o warak enab é feito muito com couve, repolho, folha de amora, mas a tradicional é a da parreira e a de uva”, adianta.Recheado com arroz com carne de cordeiro ou bovina, o prato ainda leva alho, pimenta e coentro. Fatias de limão dão um toque de sabor ao prato típico do Catar. “O segredo é ter todos os ingredientes muito frescos e de qualidade. As folhas precisam estar verdinhas e lisas para facilitar na hora de enrolar o warak enab de forma correta”, diz Milkem.Outros pratos típicos traduzem a gastronomia secular do Catar. É o caso, por exemplo, do saloona, ensopado árabe, geralmente servido para jantares em família. Leva carne de boi, cordeiro ou peixe, além de legumes da estação sempre temperados com gengibre e alho. É servido com pão.Há ainda o majboos, um dos pratos mais benquistos de Doha, feito com cordeiro ou frango, junto ao arroz temperado e acompanhado de salada e tomate caseiro.“O Catar é um País com fortes influências da culinária do Oriente Médio e de países árabes. Há diversas receitas tradicionais, como a rousa mahshi, uma abobrinha com recheio de carne de cordeiro moída e legumes”, aponta o chef André Barros, que participou do reality show Mestre do Sabor, da TV Globo.De acordo com o especialista, os pratos catarenses são muito saborosos, nutritivos e saudáveis. “Eu adoro essa linha da cozinha, onde se usa bastante especiarias, como o cravo, gengibre seco, curcuma, cardamomo, limão preto e canela em pau”, salienta.TemperoO tempero é o segredo de sucesso na gastronomia do Catar. De acordo com a proprietária do Recanto Chopp, Cecília Regina Isaac, a culinária típica daquela região explora todos os condimentos apresentados em uma parte do mundo marcado por poucas chuvas, em meio ao deserto.É o caso, por exemplo, da cebola. No restaurante localizado em Campinas e que serve comida árabe desde 1984, uma salada de cebola em conserva é um dos carros-chefes do local.“Por semana fazemos mais de 60 quilos de cebola. Elas são cortadas em formato juliete e, depois, adicionamos as especiarias típicas de países como Catar e Arábia Saudita. Servimos com pão sírio”, explica.Outro prato típico catarense e que é muito popular no Brasil é o tabule, conhecido por lá com o nome de bulgur. “O segredo é que o trigo não deve ficar muito tempo de molho para não empapar”, diz.Comidas nos estádiosImagens das comidas vendidas nos estádios da Copa do Mundo do Catar tem viralizado nas redes sociais por suas aparências um tanto quanto “estranhas”. Cachorros-quentes e hambúrgueres de aspectos pouco comestíveis são alvo de críticas de turistas que estão por lá acompanhando os jogos.As imagens do cachorro-quente e do hambúrguer comercializados nas arenas se destacaram negativamente na internet. Os lanches custam cerca de R$ 50. No Twitter, diversos memes pipocam em perfis diversos que comparam as delícias comercializadas nos estádios brasileiros, como os espetinhos e pastéis, aos do Catar.E a carne folheada a ouro?Impossível falar sobre comidas do Catar sem mencionar a carne folheada a ouro degustada pela seleção brasileira nas últimas semanas. O vídeo que mostra os atletas jantando em um restaurante que serve o prato brilhoso rendeu bons memes nas redes sociais. A iguaria do cardápio da luxuosa churrascaria Nusr-Et, do famoso chef Salt Bae, custa mais de R$ 9 mil. O uso de folhas de ouro comestível para enfeitar comida não é novidade. Também não é o enfeite ostentação o que encarece o prato (no Brasil a folha dourada custa em torno de R$ 10), mas sim o fato do chef Salt Bae ser um dos mestres da cozinha do Oriente Médio, dono de uma rede de steakhouses que possui mais de 10 filiais na Turquia e em outros países, entre eles, no Catar.A “carne de ouro” reafirma o caráter ostensivo de Doha, capital catarense. O adereço, no entanto, não tem nenhum valor nutricional e tampouco deixa o sabor no alimento.Leia também: - Jantinha é declarada patrimônio cultural imaterial de Goiânia- Evento em Goiânia reúne fãs da cultura geek e pop oriental -Imagem (Image_1.2575513)