Quando a pandemia fez fechar espaços de cultura em Goiânia, no início de 2020, a empreendedora Natália Garcês ainda não sabia ao certo como manter de pé a Livraria Palavrear, localizada no Setor Universitário. “De uma hora para a outra tivemos de fechar totalmente”, conta. O local e outros pontos literários espalhados pela cidade resistem às transformações do mercado editorial e à pandemia como uma das poucas livrarias de rua de Goiânia.Ao acompanhar as mudanças editoriais provocadas, em parte, pelo fechamento das grandes redes de livrarias, caso por exemplo da Saraiva, no Shopping Flamboyant, ou da concorrência com a venda on-line, como a Amazon, as livrarias de rua se transformam em espaços multiculturais. Vitrine para editoras independentes e de autores que migram para a autopublicação, esses locais auxiliam a cadeia editorial de escritores regionais e se tornam pontos de arte para a cidade.“Sempre promovemos lançamentos e sessões de autógrafos de autores regionais. Também criamos o projeto Incentivo ao Artista Local, onde diversos artistas locais se apresentaram na Palavrear com composições autorais”, explica Natália, que driblou o lockdown de março até setembro de 2020. Nesse ínterim, com o espaço físico fechado, tratou de criar o site da livraria e um sistema de vendas pelo Instagram e WhatsApp com entregas em até 48 horas. As mudanças se mantêm até hoje, mesmo com a reabertura da loja física.Nem só de livros vive a Palavrear. Local para shows musicais, saraus, lançamentos e um café com um cardápio variado de comidas e bebidas, a livraria precisou se adaptar após a reabertura. Em 2021, o maior gargalo para Natália não foi a quarentena, mas a disputa com os meios digitais. “A concorrência com a Amazon é um dos nossos maiores desafios. É um mercado predatório que ela faz, ao colocar os preços de livros muito abaixo do praticado no mercado”, explica.Os clientes da livraria parecem ter se interessado por literatura muito mais durante a pandemia. A empreendedora conta que, durante os primeiros meses de quarentena, a Palavrear vendeu mais do que nos outros anos no mesmo período. “As pessoas perceberam que cultura e arte são essenciais para enfrentar o dia a dia e refresco em momentos de tensão. Nossos clientes compraram a ideia de apoio ao comércio local, de presentear com livros e durante esse ano todo esse apoio permaneceu”, destaca Natália.Retomada Criar o hábito da leitura e da visita a espaços literários, como livrarias e bibliotecas, foi um dos motivos que impulsionou a empreendedora Melissa Pomi a criar eventos na Pomar Livraria, localizada no Setor Sul. No período de retomada, quando espaços culturais voltam a reabrir para projetos presenciais, o local mantém em sua programação eventos esporádicos e contínuos com oficinas infantis, apresentações de teatro, feiras de publicações, rodas de conversa e aulas de ioga.“A Pomar nasceu em 2017 e, desde então, eu tenho uma percepção de que a ida à livraria não é ainda um hábito do goiano”, destaca Melissa. Mais que uma livraria com estante de livros, a Pomar é focada em literatura ilustrada, muito associada à imagem da literatura infantojuvenil. “O principal desafio de manter uma livraria de rua em Goiânia é ter o passeio e ida à livraria como uma das atividades da rotina e programação das famílias”, argumenta. Por meio do Pomar criado por Melissa brotou o Jardim, projeto literário desenvolvido pela editora e escritora Larissa Mundim e mantido pela NegaLilu Editora. Antes ocupando o espaço do Evoé Café com Livros, a livraria migrou para o novo espaço físico após o período de retomada e reabertura dos pontos de cultura, em junho deste ano. Na mesma toada da formação de leitores, a ação visa criar público para o consumo do livro de alta qualidade criativa publicado de maneira independente.“O Jardim é a única livraria de Goiânia totalmente dedicada à publicação independente. Portanto, Goiás se conecta à rede de distribuição de publicações independentes a partir da existência do Jardim”, explica Larissa. Reafirmar a literatura local e promover uma espécie de janela para a Feira E-Centrica de Publicações Independentes são um dos papéis do Jardim. “Tudo isso é importante para uma cadeia produtiva que busca capilarização sem se render ao modo de operação do mercado editorial tradicional”, finaliza a escritora.Foco nos quadrinhosHomem-Aranha, Batman, X-Men e Deadpool são alguns dos protagonistas da Mandrake Comic Shop, no Setor Bueno, livraria dedicada especialmente aos leitores de quadrinhos e mangás. Reaberta após fechar as portas durante a quarentena, a loja promove, por exemplo, lançamentos especiais de títulos goianos, a exemplo do gibi Crash, assinado por Márcio Jr. e Law Tissot, da editora MMarte, publicado na última semana. Cravada no burburinho do Centro de Goiânia, a Livraria Hocus Pocus, também especializada em quadrinhos e mangás, tem deixado de lado o status de sebo para se dedicar a publicações autorais. Com diversos títulos em suas estantes, o espaço disponibiliza um extenso acervo, desde raridades de época até livros novos. Fundada em 1992, o local sobrevive no período de retomada com eventos esporádicos de música, como a já tradicional feira de vinil. ELAS POR ELAS Livraria PomarRua 132 A, 94 - Q F45A, Setor SulAberta de terça a sábado, das 8h às 18 horasInformações: 36386045 ou @pomarlivrariaMandrake Comic ShopAv. T-3, 2673,Galeria Pátio do Lago, Setor BuenoAberta de segunda-feira a sábado, sempre das 10h às 19hInformações: 32151339 ou @mandrakecomicshopLivraria PalavrearRua 232, 388, Setor Leste UniversitárioAberta de segunda a sexta-feira, das 11h às 20h, e aos sábados das 9h às 13hInformações: 30863204 ou @palavrearlivrariaLivraria Hocus Pocus Av. Araguaia, 957, CentroAberta de segunda a sábado, das 10h às 16h (aos sábados, até às 14h)Informações: 981055102 ou @livrariahocuspocusO Jardim Livraria Rua 132 A, 94 - Q F45A, Setor SulAberta de terça a sábado, das 8h às 18 horasInformações: 36386045 ou @o.jar.dim -Imagem (1.2376002)