Um amigo professor perguntou-me se eu tinha interesse em livros de Guimarães Rosa. Evidente! Indaguei-lhe quanto à procedência dos livros. “São da escola. Todo fim de ano eles fazem uma limpa especialmente em clássicos e passam adiante”. Como?, espantei-me. “Sim. Eles mantêm alguns, mas muitos vão embora.” Passamos a falar sobre as razões daquela medida. Falta de espaço, explicou-me, mas, acima de tudo, desinteresse crescente pelos clássicos. “Como?”, tornei a me espantar. Ora, um clássico não é clássico por acaso. Um clássico é clássico porque trata de temas relevantes e atemporais. Essa pauta, aliás, já tinha vindo à tona numa conversa que tive com uma colega que trabalhou com Um Apólogo, de Machado de Assis, num Laboratório de Leitura com pré-adolescentes. Por ter sido escrita no século 19, a fábula possui um vocabulário diferente do utilizado pelos participantes. E eu elogiei minha colega porque ela se preocupou em “traduzir” as palavras menos conhecidas, mas não pensou em substituí-las, numa tentativa de reescrever a história.