Não foi sem pesar que Migdones deixou a família, nos últimos dias de férias, em Maceió, e retornou a Goiânia para o trabalho. Não era um voo direto. Primeiro, até Belo Horizonte, trocava de avião, depois, para Goiânia. Ainda no Aeroporto Zumbi dos Palmares, o passageiro teve sensações estranhas. Sentimentos de que estaria na iminência de sofrer um infausto. Ou de estar esquecendo algo. No entanto, não percebeu nenhum acontecimento à vista, nem se lembrou do que teria esquecido. Tomou o acento, enfiou a mochila de costas embaixo da cadeira e pediu à comissária um par de fones de ouvido. Com o avião ainda em terra, começou a ouvir o álbum Elis de 1972, com as músicas entrecortadas pelos anúncios de praxe. Ouviu Atrás da porta, Bala com bala, Mucuripe, Cais, Nada será como antes e Águas de março. Queria apaziguar o espírito.