Vim ao mundo meio século atrás, a umas dezenas de quilômetros da fronteira com o Uruguai. Era um sábado mormacento em Pelotas, garantem as memórias de minha mãe. Começava ali um sacerdócio que nunca pedi, nenhum de nós pede, mas assim mesmo acaba imposto por uma espécie de hereditariedade geográfica. Falo da obrigação de atuarmos como missionários das grandezas, muitas imaginárias, do Rio Grande. Não há um nascido naquele torrão subtropical do Brasil que não seja um CTG em si mesmo. Sou jornalista e professor, trabalhei domingos, feriados e madrugadas, sob calores e geadas, e afirmo: nada é mais cansativo do que ser gaúcho. Nossa cultura exige uma postura de combatividade permanente. Celebramos surras imperiais como se fossem vitórias, damos nó nos pingos d’água da lógica para deixar narrativas frágeis em pé, tudo pelo prazer um tanto tolo de estar sempre certo, de nunca errar.