Certa feita, Rubem Braga contou sua aventura em Casablanca, aonde chegou “a bordo de um duro avião militar, magro, nervoso, cansado e com a mão direita numa tipoia” e de onde tirou uma sequência de três crônicas que encantam o leitor ainda hoje. Particularmente, levo uma vida nada aventurosa e absolutamente pacata, então não posso contar com temas de grande e eloquente significado que possam emocionar o leitor. Porém, um assunto derivado de uma experiência comezinha ocupou meus últimos dias de forma inusitada. É assim, pois, que um velho gato rabugento entra na história. Nessa época do ano, ocorrem as campanhas de vacinação de cães e gatos. Temos um gato vira-latas que vive conosco há dez anos e, portanto, precisa ser vacinado. Quando era mais jovem, Lucky se deixava levar numa caixa apropriada ao posto de vacinação, não sem muitos miados de protesto. Mas não oferecia grande resistência para se submeter à agulhada anual do veterinário.