É só um simbolismo a virada no calendário, mas é dessa forma que tangenciamos o mistério. Cientes de que por mais que o tempo seja medido, calculado, articulado em equações, segue desafiando o alcance do que compreendemos. É sempre um espanto mensurar a vida ante essa dimensão infinita. Ficamos ínfimos, e não é fácil se perceber menos que uma fagulha, uma centelha, um sopro. As métricas do tempo são delicadezas da razão para acomodar o que não tem tamanho para o coração, o que se repete sempre diferente, porque nos faz mudar nos seus ciclos. De um jeito ou de outro, o olhar se renova, mesmo que a sequência dos dias siga conforme o esperado. Amanheceu, a tarde virá, depois dela a noite, como todo dia, e que bom que seja assim. Seria pesadelo uma transformação violenta, uma ruptura nessa pequena ordem na qual situamos nosso cotidiano de rotina e de sonhos.