Eu não aguento mais pensar em dinheiro: ganhar dinheiro, guardar dinheiro, diversificar minhas fontes de renda, prosperar no mercado, me manter vencendo numa indústria que é feita para pouquíssimos. É desgastante, degradante. E a questão é que, com o sucateamento das leis trabalhistas, fica cada vez mais fácil sucumbir. Os contratantes sabem que você precisa do faturamento de qualquer jeito, ou seja, vai seguir a cartilha do bom funcionário e não vai bater de frente. Um animal domado pela necessidade de ser simpático caso queira ser chamado mais vezes. Só que na verdade eu queria sumir, desaparecer das areias do tempo. Sem deixar rastros. Porque, se tempo é dinheiro, nossa existência nesse plano sempre estará condicionada a ele. Recentemente eu comprei meu primeiro imóvel, conquistei o sonho mais brasileiro de todos, que era também o meu sonho pessoal. Torrei meu cascalho conquistado ao longo de dez anos na indústria audiovisual e agora tenho um apartamento para colocar no airbnb do Rio de Janeiro, enquanto moro com os meus amigos em um outro imóvel, este segundo alugado.