Já que é oficial que a Mega da Virada não veio, o jeito é começar a preparar a volta para o trabalho, depois das férias. Foi um tempo bom para desintoxicar do noticiário, dos grupos de WhatsApp e das redes sociais. É claro que não dá para ficar totalmente alheio. Hoje mesmo, perdi meia-hora no celular, quando era para dar só uma olhada no horário (5h58, quando acordei; 6h25, quando me toquei que era melhor calçar os tênis e fazer minha corrida habitual). Como disse um velho barbudo, a história se repete. Tem alagamento, estradas e ruas esburacadas, enchentes, acidentes de trânsito, tragédias de todo tipo. A novidade, para 2025, é que novos prefeitos tomaram posse, e lá no hemisfério norte tem um sujeito com cara de vilão de desenho querendo dominar o mundo. Sem planejamento e com grana curta, não foi possível realizar o sonho anual do pé na areia, caipirinha, água de coco e cervejinha – essa teve, até em exagero, admito. Então decidimos ir para Brasília. Não é o sonho de viagem de ninguém, até porque a fama da cidade não é das melhores – e cada um de nós ajuda, pois escolhemos seus inquilinos –, mas a capital federal é, sim, um destino (para usar o turistês) rico (metafórica e literalmente) em história, cultura e, claro, arquitetura. O que me espanta é que Juscelino parece ter previsto, há sete décadas, que um dia todos teriam um GPS nas mãos. A cidade nasceu para o carro e para os aplicativos de trânsito. Sem um deles, o visitante corre o risco se perder nas tesourinhas e eixos quilométricos. Levei minha filha para conhecer o Congresso Nacional. A quantidade de obras de arte e a opulência dos vãos livres chamam a atenção pela beleza, mas também pela ostentação. Os plenários do Senado e Câmara dos Deputados, curiosamente, não são tão grandes como pela TV. Fiquei sabendo, por exemplo, que não há cadeira e mesa para todos os 513 deputados. Não que seja necessário, porque nunca estão por lá. E é por isso que a gente vê nossos nobres representantes se acotovelando em dia de sessão cheia. O guia contou, com um simpático sotaque que denunciava ser estrangeiro e desenvoltura milimetricamente calculada, a história de cada ala e obra de arte. Até as piadas têm a hora certa de entrar no texto. O concurso para a vaga deve ser concorrido. Comer em Brasília não é simples para quem não conhece os atalhos para encontrar o bom e barato. Nas superquadras, qualquer restaurante mais ou menos cobra R$ 100 em um prato de macarrão gourmetizado. Conheci o berço do rock brasileiro, um boteco de 1966 cujos garçons devem estar por lá desde a inauguração. No indiano, o atendente tinha a resposta decorada. “De que é feita essa bebida?”. “É uma bebida típica indiana”. “E esse prato, tem o quê?”. “Carne típica indiana”. Demos um rolê no Lago Paranoá. Apesar de aberto, não é todo mundo que consegue usufruí-lo, porque os preços são proibitivos. Conseguimos um catamarã a preço razoável, recomendo. Passamos perto do Palácio do Alvorada, residência oficial do presidente. Deu um pouco de dó ver um quintal com uma margem imensa no lago, mas sem um píer sequer para o presidente pescar. Se bem que a gente já teve um presidente que aproveitava bem o mar brasiliense, onde se exibia em um jet ski (naquele tempo ninguém falava moto aquática). E a história dele não terminou muito bem. Melhor que o atual fique cuidando das emas e batendo uma bola nas horas de folga. Confesso que deu vontade de gritar “Cadê minha picanha?”, mas os soldados nas guaritas intimidam. Falta uma semana para voltar ao trabalho, e resolvemos fazer alguns reparos em casa. E é aquela coisa, começa com dez sacos de cimento, aumenta para 20, chega a 30 e, no final, sobram uns cinco sacos. A margem de erro do pessoal é de envergonhar instituto de pesquisa eleitoral. Agora, é encarar 2025. E minha mãe já avisou: “Você está barrigudinho, meu filho!”