“Ran ran ran, ran ran, ran! É o bonde do Escitalopran, ran ran, ran!” Neste Natal, eu descobri que duas primas minhas também estão usando o poderoso antidepressivo Escitalopram para lidar com as agruras da vida. Eu havia escrito há bom tempo a letra da música com a qual comecei essa crônica, mas não sabia que parentes tão importantes para mim também estavam no bonde. Foi impossível não me pegar pensando, será que a nossa família está fadada a sobreviver submissa à indústria farmacêutica? Será que o modo no qual fomos criados por nossas mães, todas irmãs, nos levou a precisar desse remédio? Não é possível que, numa família de cinco primos, três estão na fila do tarja preta. Mas logo refleti um pouco melhor, tem mais uma prima e tem o meu irmão, que são desse núcleo familiar, mas nem passam perto de um quadro depressivo. Então, me veio a súbita dúvida, será que eu e minhas duas primas-medicadas somos mais atentos aos Zeitgeist e isso nos torna menos suscetíveis a prosperar em um mundo tão acelerado?