Ganhei um toca-discos de presente. Mas agora preciso parar a crônica por um minuto para virar o vinil no tocador. Já volto. Pronto. Como eu estava contando, ganhei um toca-discos de presente. As músicas não tocam mais eternamente na minha casa, como aconteceu nos últimos anos. Depois de cinco ou seis faixas, alguém precisa se levantar e ir ao aparelho para trocar o lado do vinil ou colocar outro disco na vitrola. Era assim na minha infância. E consigo entender rápido por que nós, que nascemos na década de 1980 ou antes, ainda temos mais paciência do que as gerações que vieram depois. Porque tinha de mexer o corpo para que as coisas acontecessem. O processo de tudo levava tempo, e o resultado do processo demorava a chegar. O plantar e colher fazia sentido como metáfora para outras tarefas do dia, como escutar um disco e escrever. Hoje tem gente escrevendo com inteligência artificial achando que está colhendo algo, enquanto nem semeou.