Em Nápoles, da janela do nosso apartamento em um antigo mosteiro, me dou conta de que a chuvinha de primavera que cai hoje me impede de fazer uma caminhada – o que é uma dádiva para os meus joelhos cansados, mas frustrante para minhas retinas famintas de aventura. O apartamento está literalmente engastado na pedra do monte Echia, de onde se avista o golfo de Nápoles, o Vesúvio e os navios bem visíveis atracados no porto ou as pequeninas formas ao longe... Em dias mais claros se pode avistar as ilhas de Capri, Ischia e Procida, mas a paisagem envolta em nuvens com um sol frágil nos proporcionava uma visão velada, como num filme em que se aplica um filtro especial para enganar o espectador. Estou em Nápoles pela primeira vez e ao caminhar no quarteirão São Ferdinando, me dou conta de quanto me agradam as pequenas cidades pois o bairro parece uma cidade menor dentro da metrópole. Caminhamos pela Via Santa Lucia como se fosse na cidade de Goiás, em calmo movimento e sob silêncio que convidam a caminhar – mágica que não se desfaz por uma ou outra motocicleta barulhenta ou pela buzina de um jovem apressado.