Minha irmã é negra. Não. Melhor eu escrever que uma amiga minha é negra, para não expor minha irmã nessa crônica. Talvez ela fique triste. Talvez fique firme... Há poucos meses, quando estive em Goiânia, conversamos sobre isso. E minha irmã me disse que agora já consegue assumir sua negritude. E mais: que já consegue se achar bonita de novo. Está na terapia há alguns anos. A família inteira acha minha irmã bonita. Mas não é só achismo, é o que os amigos falam, é também o que os racistas dizem quando falam que minha irmã não é negra. De repente, me lembrei de uma cena: estávamos em família, minha irmã não estava, mas estava uma prima que dizia que era contra as cotas para negros. Contra a divisão da sociedade em negros e brancos. Era racista. Minha irmã é negra, eu digo, para explicar a dificuldade que uma pessoa negra num país racista vive. E a prima diz que minha irmã não é negra. E afirma, contundentemente, que minha irmã é branca, enquanto continua a sofrer racismo. Sua irmã é linda, a prima diz, enquanto pega o celular para encontrar fotos da irmã na internet. Uma cena violenta, que eu não quero explicar agora para quem não entende.