Costumo dizer que Fiódor Dostoiévski é o Pai da minha Santíssima Trindade literária. Falo tanto dele que meu filho aprendeu a pronunciar com perfeição o sobrenome russo quando tinha apenas 6 anos. Nossa calopsita só não foi batizada de Dostô porque fui voto vencido no pleito familiar que elegeu o nome da ave. Lembro-me bem do meu primeiro contato com Fiódor: era 2017, e eu lia O Jogador — livro que, aliás, quase me levou ao pronto-socorro. Enlatado num vagão superlotado do metrô paulistano, compreendi a mística em torno de Dostoiévski. Quer dizer, compreender não é o verbo mais adequado para explicar o que aconteceu; certo mesmo é dizer que senti: tive uma crise de ansiedade. E a culpada foi vovó Antonina, personagem do romance. A senhorinha de 75 anos protagonizou um perde-ganha na roleta de um cassino que foi o suficiente para me deixar com a respiração acelerada, as mãos trêmulas e a testa em gotas.