Têm histórias que só vou conseguir escrever depois que a mãe morrer. Foi uma das frases mais tristes que eu já disse, já me desceu estúpida quando a pronunciei num grupo de literatura. E só de repeti-la aqui, sinto angústia de novo. Eu tinha acabado de contar ao grupo sobre o meu pai, que depois que ele morreu, escrevi mais. Lembro do dia em que um grande amigo dele comentou que eu estava sendo duro. O pai merecia textos mais carinhosos, ele me disse. “Então escreva você as homenagens”, foi o que eu queria ter respondido. Eu já tinha escrito poemas sobre o pai, crônicas sobre o carinho que nos demos em vida, sobre o amor que aprendi com ele. Mas depois que ele morreu, também escrevi sobre a bebida, o machismo, os homens frágeis. Talvez o amigo do pai tenha se incomodado mais porque são homens parecidos, frágeis, imaturos. Somos nós.