Quando eu era menina e morávamos no Conjunto Lar Brasileiro do Setor Sul, um rapaz nosso vizinho se suicidou, bem jovem ainda. Foi a primeira pessoa morta que vi na vida, muito de relance, aliás. Enfim, ficou a lembrança um tanto fugaz, e mais nada. Tempos depois fico sabendo que, à época do suicídio, especulou-se que o rapaz fosse gay e por isso tivesse passado por muitos problemas. Na verdade, a palavra gay veio depois, por esse tempo outros vocábulos da língua portuguesa eram usados para designar os homens gays. Mas sempre com ironia e desprezo. É claro que uma tragédia dessa do suicídio do moço seria muito mais provável de acontecer naquela época do que agora, quando há um pouco mais de aceitação e abertura do que antes, sem querer com isso encobrir o quanto de sofrimento ainda possa haver no processo. De quanto preconceito e discriminação ainda tenham de enfrentar.