Aquela devia ser nossa sexta garrafa de ouzo. — Você é mau, Henry! – disse o filósofo. — Tem um demônio dentro de si! — complementou o literato. — Veja o que fez com o menino... Henry era inatingível. Dobrou as mangas da camisa e esticou o braço em direção à garrafa. Um tapa ressoou sobre a mesa. — Seu hedonista de merda! Não bastasse ter assassinado Dorian e agora você aparece aqui para caluniar o mais irretocável dos nossos amigos? Aristocrata vagabundo! — acho que bradei. — A calúnia é incompatível com uma personalidade tão franca quanto a minha —, retrucou Henry, fleumático. — Ademais, só estou aqui porque foi o próprio amigo de vocês quem solicitou uma audiência. Dispus-me a satisfazê-lo porque, ao contrário do que me acusam, tenho estima por ele. — Estima é o cacete! — berrou o literato. — Você deturpou o que ele escreveu, fez a cabeça de Oscar Wilde e arruinou a vida de Dorian. Criminoso!